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animais silvestres
2008-03-10

O monitoramento de animais silvestres no Brasil, ainda muito restrito a áreas de interesse de preservação, como reservas ou unidades de conservação, conta com um aliado inédito na prevenção de atropelamentos da fauna nas estradas federais. A Empresa Concessionária de Rodovias do Sul (Ecosul), depois do trabalho de dois anos no diagnóstico dos trechos de risco nos 623,4 quilômetros do Pólo Rodoviário de Pelotas, iniciou a instalação das placas de identificação para alertar motoristas a reduzir a velocidade dos veículos e garantir, assim, maior consciência ambiental.

Em 2007, os atropelamentos nas rodovias da região foram responsáveis pela morte de exemplares de 17 espécies de mamíferos silvestres, sendo 31,5% em risco de extinção no Estado, além de duas espécies de répteis. Além de 24 placas de alerta à travessia de animais, dois locais considerados de extremo risco já receberam outdors com imagens dos animais, mortos no mesmo local em 2007. Na BR-116, município de Cristal, a imagem do gato-maracajá está no trecho mapeado como um dos mais críticos da rodovia, pelo alto índice de acidentes. Na-BR 293, entre Candiota e Pinheiro Machado, o tamanduá-mirim faz referência às populações que já parecem bem reduzidas na região.

De acordo com o coordenador de Qualidade Ambiental da Ecosul, Moisés Basílio, os acidentes no trânsito atualmente estão entre as principais causas do declínio populacional da fauna silvestre. "Nosso objetivo é destacar os pontos com maior número de atropelamentos para identificá-los como áreas de risco. Neste ano devemos concluir esse trabalho, assim como a instalação das placas. Entrega de folhetos explicativos com fotos dos animais, nos postos de pedágio, também estão previstos no intuito de chamar a atenção dos motoristas para o problema", explicou.

24 horas de monitoramento
O diagnóstico da Ecosul revelou que, em todos os 19 municípios de abrangência da concessionária, os trechos com maior número de atropelamentos estão associados às matas ciliares, aos campos menos degradados e às áreas úmidas, tanto naturais quanto próximos às plantações de arroz.

A identificação dos atropelamentos é realizada pela equipe de inspeção da concessionária, durante 24 horas, todos os dias. Ao encontrar algum animal, o técnico fotografa também o ambiente em que ele está inserido, para que o diagnóstico final possa ser o mais completo possível e assegurar também o melhor acompanhamento dos ecossistemas da região (veja mais nas páginas 20 e 21).

Entre as principais causas dos acidentes foram observados que os animais atravessam a rodovia por ela cortar o habitat e acaba por interferir na faixa de deslocamento natural da espécie. O mesmo ocorre em pontos onde a via corta áreas de migração.
A disponibilidade de alimentos ao longo da faixa de domínio, como furtas, grãos e sementes, também foi apontada como atrativos à fauna silvestre. Nesse sentido, Moisés Basílio ressalta que campanhas serão realizadas pela Ecosul junto às populações lindeiras em busca de apoio à preservação ambiental.

As rodovias
A BR-116 é a rodovia com maior número de casos, seguida da BR-392. O diagnóstico concluiu que os registros elevados são reflexo da maior extensão, além do maior tráfego em relação às demais. A BR-293, apesar de apresentar menos registros, foi cenário do atropelamento das espécies com situação populacional mais crítica regionalmente, com 43% ameaçadas de extinção.

Fauna atropelada
Nas três rodovias da região, a Ecosul encontrou duas espécies de répteis, jacaré-de-papo-amarelo e lagarto-tupinambis, além de 17 exemplares de mamíferos: gambá-de-orelha-branca, tamanduá-mirim, tatu-galinha, tatu-peludo, ouriço-cacheiro, capivara, ratão-do-banhado, lebre (exótico), gato-pelheiro (em perigo de extinção), gato-do-mato-grande (vulnerável), gato-maracajá (vulnerável), graxaim-do-mato, graxaim-do-campo, lontra (vulnerável), zorrilho, mão-pelada e veado-vira (vulnerável)

Ecossistemas das riquezas naturais do Sul
As rodovias da Zona Sul, além de serem a principal forma de acesso aos principais terminais portuários do Estado assim como às praias do Litoral Sul, também reservam belezas naturais ao longo do trajeto, com rica fauna e flora peculiares à nossa região. Para aproximar os motoristas da vasta natureza local, a Empresa Concessionária de Rodovias do Sul (Ecosul), com apoio do curso de Ecologia da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), concluirá até 2010 a identificação dos Ecossistemas do Sul.
O diagnóstico da BR-392 está finalizado e as primeiras placas foram instaladas em dois pontos ao longo do trecho de quase 200 quilômetros que ligam os municípios de Santana da Boa Vista e Rio Grande. Durante esse ano, a concessionária espera sinalizar todos os oito ecossistemas identificados para, a partir de 2009, iniciar os estudos nas BR-116 e BR-293.

Assim como o monitoramento de animais atropelados, o conhecimento dos terrenos existentes e vidas animal e vegetal próximos às rodovias são fundamentais na redução de impacto ambiental causados pelo intenso tráfego de veículos nas estradas federais da região, principalmente na BR-392 pelo grande número de caminhões que transitam em direção ao Porto de Rio Grande.

Segundo o coordenador de Qualidade Ambiental, Moisés Basílio, motivar o motorista a apreciar as paisagens também é forma de instigar a redução da velocidade nas estradas, garantindo assim diminuição também nas estatísticas de acidentes envolvendo outros veículos ou até mesmo a fauna silvestre. "Cada local possui uma característica única e muito interessante. A maior parte dos condutores, se reduzir a velocidade ou mesmo estacionar o veículo por alguns minutos ao longo do trecho quando permitido, poderá usufruir da paisagem e contribuir assim à proteção das estradas e do meio ambiente."

Belezas da BR-392
Ao longo do trajeto, apesar de todos os ecossistemas pertencerem ao relevo da Planície Costeira, as descontinuidades naturais na paisagem são visíveis e abrangem desde terrenos planos, até banhados e pequenas serras. Com características ambientais próprias e de grande valor ecológico, a diversidade de fauna e flora silvestre também sofre influência climática direta das massas de ar e inclusive das águas oriundas do Oceano Atlântico.

A
Cordões litorâneos (km 0 até km 3)
Paisagem próxima às dunas presentes nos litorais. São terrenos planos com ocorrência paralela de lombadas e depressões, alternadas em direção ao oceano. Os campos são arenosos e existe presença tanto de pequenas dunas quanto de banhados, que preenchem as depressões. Abriga várias espécies de peixes, répteis e anfíbios característicos do Litoral Sul. O local, no entanto, foi considerado crítico para a conservação de aves em extinção, devido principalmente às queimadas, presença de pecuária e expansão da silvicultura.

B
Marismas (até o km 14)

As marismas são áreas geralmente inundadas, caracterizadas pelo encontro de águas doce e salgada. São encontradas no mundo em regiões costeiras protegidas. As plantas, de vegetação herbácea emergente, e animais desses sistemas são adaptados a estresses de salinidade, inundação periódica e extremos de temperatura. Existem grande presença de plâncton, animais invertebrados e peixes habitantes dos canais, lagoas e estuários. Aves aquáticas migratórias também procuram as marismas como escala para repouso e alimento.

C
Banhado do Vinte-e-Cinco ou Banhado do Maçarico (km 36)
Abrigo de várias espécies de aves ameaçadas de extinção, o banhado do Vinte-e-Cinco é formado principalmente por turfa: matéria vegetal parcialmente decomposta, em que se assenta grande camada de plantas aquáticas, como tiriricas. Área úmida bastante peculiar, o banhado do Vinte-e-Cinco interligava, há cerca de 20 mil anos, a Lagoa Mirim e a Laguna dos Patos. Com o passar dos anos e o aumento do recuo do Oceano Atlântico, as águas do local deram espaço a uma extensa faixa de banhado lacustre, que pode ser visto dos dois lados da rodovia. As principais ameaças são as queimadas, a caça ilegal e a coleta de plantas, uma vez que as matas palustres que orlam as margens do banhado são ricas em orquídeas.

D
Vale do Canal São Gonçalo (km 61)
Área úmida e inundável, a paisagem do vale do canal São Gonçalo é composta por terrenos planos e encharcados cobertos por vasta vegetação de plantas aquáticas, entre juncos e tiriricas. Matas alternadas por extensos campos também enriquecem a beleza do local, extremamente importante à conservação de aves. Ambiente bastante sensível, é facilmente alterado ao ser exposto à perturbação externa. A poucos quilômetros da ponte sobre o canal São Gonçalo é possível perceber a mudança na vegetação, que deixa de ser banhado e passa a campo. Um cordão de mata atravessa a rodovia e marca dois níveis de relevo.

E
Floresta Estacional Semidecidual (km 96)
Diferente da fauna e da flora silvestres presentes nos demais quilômetros da rodovia, a paisagem possui relevo ondulado, recoberto por extensas florestas com árvores de grande porte, como figueiras e canelas. Algumas plantas e animais encontrados ainda são típicos da Mata Atlântica. O desmatamento e a caça ilegal são os grandes inimigos e responsáveis pela extinção da onça, anta e porco-do-mato, por exemplo.

F
Campos de Canguçu (km 121)
Paisagem de relevo suave com predomínio de campos, capões de mato e florestas ciliares. Pequenos cactos em extinção utilizam os afloramentos rochosos, comuns no local, como habitat. A presença de animais como seriemas, perdizes e mulitas é freqüente no local, comprometidas no entanto pela caça ilegal, pastejo excessivo do gado e avanço desordenado da agricultura e silvicultura.

G
Depressão do Vale do Rio Camaquã (km 190)

Paisagem de terrenos planos com presença de pequenas coxilhas, o predomínio é de áreas úmidas, campos e capões de mato associados a corredores florestais de cobertura ciliar. Diversas espécies campestres, como o quaiti e a paca.

H
Pinhais de Santaninha (km 193)
O último ecossistema identificado da BR-392 diferente da vasta planície presente em quase todo o trecho, possui paisagem bastante montanhosa. Caracterizada pela ocorrência de matas com araucária e campos, típica de regiões frias e úmidas, possui distribuição restrita no Sul do Estado. Os pinhões das árvores são responsáveis pela alimentação de diversos animais.

(Por Thais Miréa, Diário Popular, 10/03/2008)


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