Recebi um e-mail do diretor de comunicação da Coca-Cola Brasil, Marco Simões, trazendo boas notícias. E uma conclusão alvissareira mas que não resiste ao olhar atento de quem gostaria de acreditar numa mudança de paradigma sustentada por uma realidade diferente que envolva lucros e distribuição de renda. Já me explico.
A primeira excelente notícia é que o Brasil já recicla 53% de suas garrafas PET, porcentagem que o torna à frente de Europa (que recicla 38,6%) e Estados Unidos (23,5%). Não só para o meio-ambiente, mas também para o mercado que já se forma em torno de reciclagem, a novidade traz boas perspectivas. Os dados foram fornecidos pela Associação Brasileira de Indústria do PET.
Além disso, o Mercosul já aprovou o processo bottle-to-bottle, que em junho deverá estar em vigor aqui no Brasil. Trata-se de um sistema que garante a reciclagem segura de garrafas já recicladas. Com isto, o Brasil vai passar a reciclar mais 20mil toneladas de garrafas por ano (em 2006, foram quase 200 mil).
Como eu disse, são ótimas notícias. Mas empaquei em pensamentos utópicos quando, no fim da mensagem, o executivo da Coca-Cola demonstra em números o excelente resultado da empresa que investe cerca de R$ 40 milhões por ano em atitudes de responsabilidade socioambiental. Ano passado, entre outras coisas, a Coca-Cola baniu a utilização de garrafas PET pigmentadas de difícil reciclagem. E diz assim: "É uma satisfação demonstrar que o respeito ao meio ambiente é totalmente compatível com a rentabilidade dos negócios. O volume de vendas da Coca-Cola cresce com consistência há cinco anos. "
Concordo. E comemoro, e parabenizo pelas ações. Mas não posso deixar de pensar: será que um dia, mesmo dentro do sistema capitalista, conseguiremos demonstrar excelentes ações responsáveis com um lucro apenas estável? Se uns lucram muito, há quem esteja lucrando menos. Ou, pior: perdendo. E enquanto este for o padrão não haverá a grande mudança que tanto queremos.
Mas se as empresas não lucrarem não conseguirão ter pernas que as conduzam às boas ações.
Pensamentos insensatos que deixo com vocês. Só mesmo para instigar a reflexão. Quem preferir, fique só com a boa notícia, talvez seja melhor.
(Por Amelia Gonzalez,
Blog Razão Social- O Globo on-line, 5/3/2008)