A Via Campesina realizou, na sexta-feira (07/03), duas ocupações para protestar contra a liberação para plantio de duas variedades de milho transgênico pelo governo federal, no mês passado. Cerca de 200 mulheres integrantes do movimento ocuparam à tarde a sede da Superintendência Regional de Agricultura no Rio de Janeiro. Elas permaneceram no local durante aproximadamente duas horas e deixaram o prédio logo em seguida.
Mais cedo, no início da manhã, cerca de 40 mulheres invadiram uma unidade da empresa norte-americana Monsanto na cidade de Santa Cruz das Palmeiras, em São Paulo. A multinacional de agricultura e biotecnologia confirmou que uma unidade de pesquisa da empresa foi ocupada.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, cerca de 40 pessoas, na maioria mulheres, com foices e pedaços de pau, invadiram a unidade da empresa durante a manhã. Segundo a secretaria, o porteiro foi amarrado e amordaçado. Os manifestantes saíram sem levar nada do local. A Polícia Militar lavrou boletim de ocorrência.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou nota informando que as mulheres da Via Campesina ocuparam a unidade e destruíram um viveiro e um campo experimental de milho transgênico.
A invasão da Via Campesina, organização que o MST integra, é um protesto contra a liberação de duas variedades de milho transgênico pelo Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), que ocorreu no mês passado: a Guardian, desenvolvida pela empresa norte-americana Monsanto e resistente a insetos; e a Libertlink, da empresa alemã Bayer, resistente ao herbicida glufosinato de amônio, utilizado na pulverização para combater ervas daninhas.
O protesto faz parte da Jornada de Lutas das Mulheres Sem Terra, cuja programação se estendeu até o domingo (09/03).
Em nota divulgada por sua assessoria de imprensa, a Monsanto condenou a ação da Via Campesina, classificando-a de “ato ilegal”, por desrespeitar decisões recentemente pronunciadas pelo Poder Judiciário. A Monsanto divulgou resultados de estudos com soja e algodão transgênicos, desenvolvidos pela consultoria Céleres, que concluem que a economia de água e diesel no uso de organismos geneticamente modificados é considerável. De acordo com o estudo, em dez anos, com o plantio de soja transgênica, poderão ser economizados mais de 42 bilhões de litros de água.
A nota da Monsanto diz que o regime democrático vivido no país permite que discordâncias sejam expressas pelos caminhos legais. “A empresa permanece aberta ao diálogo, dentro dos canais e meios legais, para expor estes e outros resultados e possibilidades envolvendo a biotecnologia agrícola, e seus benefícios para o meio ambiente e para a sociedade.” Na nota, a empresa lembra que a biotecnologia contribui para reduzir o uso de agroquímicos na agricultura.
A Via Campesina, entretanto, argumenta que, atualmente, quatro empresas transnacionais dominam quase todo o mercado de transgênicos no mundo e 49% (praticamente metade) do mercado de sementes. Segundo a entidade, a Monsanto detém o controle de 70% da produção de sementes das variedades comerciais de milho no Brasil e “agora pode substituí-las por transgênicos”.
“A Via Campesina denuncia que os transgênicos não são simplesmente organismos geneticamente modificados, mas produtos criados em laboratórios que colocam a agricultura nas mãos do mundo financeiro e industrial”, registra a entidade em nota.
(Por Bruno Bocchini e Lana Cristina, Agência Brasil, 07/03/2008)