Mesmo para quem já mergulhou nas águas às vezes turvas de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, as imagens captadas por fotógrafos-cientistas expostas a partir de hoje na Estação Ciência da USP, na capital paulista, são fascinantes. O objetivo do grupo de biólogos marinhos é revelar a vida escondida do oceano, que muitas vezes passa despercebida até por quem submerge.
Seres microscópicos foram fotografados em aquários especiais ou diretamente, ao microscópio, com luz. Outros cliques foram feitos sem luz normal, no microscópio eletrônico de varredura, como é conhecido tecnicamente esse tipo de aparelho que dispara sobre os objetos feixes de elétrons de alta energia.
Água-viva Olindias sambaquiensis, comum em todo o litoral paulista
À disposição dos olhos, águas-vivas (uma delas traz junto a si um caranguejo), corais, esponjas, equinodermos. Larvas microscópicas. Um belo exemplar de uma espécie de lula. Pequenos crustáceos. "Nós usamos aquários especiais, feitos aqui mesmo, em São Sebastião", explica o pesquisador Alvaro Migotto, da USP, autor de várias fotos expostas na Estação Ciência. Ele é também diretor do Cebimar (Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo).
Esse talvez seja um dos segredos dos fotógrafos. Ele fizeram do laboratório -e não do fundo do mar- um estúdio. Dessa forma, o controle de iluminação, por exemplo, acaba ficando mais fácil. O próprio organismo fica mais disponível para as lentes também.
"As imagens dos corais profundos não foram feitas no Brasil. Aqui ainda não existe infra-estrutura adequada para isso, o que deve ocorrer no futuro", explica Alberto Lindner, também pesquisador da USP, de São Sebastião. As fotos feitas pelo biólogo, que foram colocadas na exposição, são principalmente do hemisfério Norte. E foram feitas em ambiente natural.
Ordem de grandeza
Além das fotos, haverá quatro vídeos para os visitantes assistirem à vida submersa. Algumas bolachas-do-mar e um exemplar de coral também estarão à disposição. Mas um dos problemas da mostra, que provavelmente os professores que levarem seus alunos até ela terão que resolver depois, é a falta de referências do tamanho dos organismos que foram fotografados.
O público pouco acostumado com o número de vezes que um microscópio pode aumentar um objeto pode tender a achar que uma lula e uma larva de uma bolacha do mar, por exemplo, têm dimensões parecidas. Por falar em larvas, um item específico merece atenção. As três fotos em 3D, que precisam de óculos especiais para serem vistas "em movimento".
"Elas foram feitas com ajuda do computador. Centenas de imagens foram compostas em seqüência, para esse feito ser obtido", explica Inácio Silva Neto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, outro autor das imagens expostas.
Segundo Lindner, curador da mostra, a exposição terá cumprido bem o seu papel se ela conseguir despertar o interesse pelo oceano nas pessoas --seja ele científico ou apenas conservacionista.
Exposição "Oceano: vida escondida" na Estação Ciência da USP (rua Guaicurus, 1.394, Lapa, São Paulo); terça e sexta, das 8h às 18h, fim de semana e feriado das 9h às 18h, até 11 de maio; ingressos: R$ 2,00. Mais informações: www.usp.br/cbm/oceano/oceano.html
(Por Eduardo Geraque, Folha online, 08/03/2008)