Famílias reivindicam terras, emprego e teto para morar 
 
Movimentação: montagem do acampamento iniciou às 6h 
 
Por volta das 6h de ontem, 20 famílias integrantes do Movimento dos Trabalhadores Desempregados ocuparam uma área de campo localizada na Vila Tupã. Eles reivindicam o assentamento urbano, que prevê a distribuição de terras em locais próximos à zona urbana para que exerçam trabalhos tanto no campo quanto na cidade.

Segundo o coordenador estadual do MTD, Roberto Lemos, as cerca de 35 pessoas que ocuparam ontem a área fazem parte dos núcleos do movimento nos bairros Prado Velho, Morgado Rosa e Habitar Brasil. Ao participarem do grupo, eles lutam por frentes de trabalho porque estão desempregados, vivem de favor na casa de parentes e pretendem gerar renda através do trabalho exercido no campo e na zona urbana.

Esta é a segunda ocupação do MTD naquela área. No primeiro acampamento, realizado em 2001, integrantes do MTD ocuparam o campo em frente ao que estão desde ontem. Eles acreditam que essa ocupação surta os mesmos resultados da primeira, que três anos mais tarde resultou no assentamento de 10 famílias em 20 hectares daquelas terras. Antes de ganhar essas áreas, os assentados haviam acampado na Agrovila, Santa Thereza e Bairro Industrial. “Foi através de ações como esta que as 10 famílias hoje assentadas trabalham honestamente em seus dois hectares de terra e têm a oportunidade de estar próximas da cidade, também para trabalhar”, revelou Lemos.

A expectativa é que nos próximos dias mais famílias se unam ao grupo. Para os integrantes do MTD a ocupação não é considerada invasão porque a área é classificada por eles como improdutiva. Segundo os vizinhos, o local não recebe nenhum tipo de cuidado ou visita do desconhecido proprietário há vários anos, razão pela qual alguns moradores das redondezas aproveitam o espaço para manter temporariamente alguns animais. “Estamos esperando que o proprietário se manifeste. Queremos resolver toda e qualquer questão de forma pacífica porque estamos abertos ao diálogo”, ressaltou o coordenador estadual do MTD.

Quando o acampamento estiver totalmente organizado, os coordenadores e integrantes do movimento pretendem procurar as autoridades competentes, seja na esfera municipal, estadual ou federal, para que sejam buscadas soluções. Eles afirmam que a ocupação da área permanecerá até que recebam um local definitivo para o assentamento.

Esperança
Antes do meio-dia, após levantarem os acampamentos feitos de estacas e lonas cedidas por apoiadores do movimento, as famílias arrumavam em suas barracas os poucos móveis que trouxeram de onde moravam. Homens e mulheres se dividiam nas tarefas, enquanto as crianças brincavam.

Desempregado há cinco anos, Flávio da Silva, 26 anos, contou que morava no fundo da casa dos pais. Casado, com três filhos, e à espera do quarto rebento, Silva disse que o emprego em Bagé está escasso e que as oportunidades para quem cursou até a quinta série são mínimas. Ele revelou não se preocupar com o fato da mulher grávida e seus três filhos terem que viver no acampamento e dormir sob lonas. “Estou num lugar onde sei trabalhar. Lá na cidade eu já não tinha esperanças”, concluiu. 

(Jornal Minuano, 07/03/2008)