As comunidades que serão impactadas com a implantação do Pólo Industrial de Anchieta, já estão sendo mobilizadas para uma assembléia popular. A assembléia será no dia 5 de abril próximo, a partir das 9 horas, no colégio Maria Mattos, Centro, em Anchieta, sul do Estado. O evento será realizado pela Coordenação dos Movimentos Sociais do Espírito Santo (CMS).
O presidente do Grupo de Apoio ao Meio Ambiente (Gama), Bruno Fernandes da Silva, divulgou circular informando sobre a assembléia popular. Diz que a assembléia terá como tema “Grandes projetos industriais e seus impactos no desenvolvimento e na qualidade de vida” dos moradores da região sul capixaba.
Informa que a Coordenação dos Movimentos Sociais do Espírito Santo conta com a participação dos “moradores das cidades impactadas pelos grandes projetos industriais, a serem implantados no Pólo Industrial de Anchieta”. E pede participação e contribuição “com propostas, para que o desenvolvimento, seja com respeito à qualidade de vida dos moradores e ao meio ambiente”.
A CMS é composta por dezenas de movimentos sociais do Espírito Santo que atuam nas mais diversas áreas (sindical, direitos humanos, comunicação, gênero, reforma agrária, agricultura camponesa e orgânica, economia solidária, moradia e meio ambiente entre outras).
A preocupação da CMS é com o que resultará para os moradores com a implantação do projeto de expansão industrial do Espírito Santo defendido e apoiado pelo governador Paulo Hartung.
Em Ubu, na divisa de Anchieta com Guarapari, já estão em operação duas usinas de pelotização da Samarco (parceria em partes iguais da Vale - maior exportadora de minério de ferro do mundo - e da BHP Billiton - terceira maior produtora mundial de minério de ferro). Uma terceira pelotizadora será inaugurada neste mês de março, segundo programação da Vale. Poderão ser construídas até dez unidades deste tipo no pólo industrial de Ubu.
No Pólo Industrial de Anchieta também será construída uma grande siderúrgica da Baosteel, a principal siderúrgica chinesa, e da Vale. A produção da siderúrgica será de 5 milhões de toneladas/ano de placas de aço em sua primeira fase.
Mas os chineses já acenam com uma possível expansão da usina para assegurar a produção de 10 milhões de toneladas/ano de placas de aço por ano. Mais que as três usinas juntas da ArcelorMittal Tubarão (ex-CST) instaladas no Planalto de Carapina. Há, ainda, possibilidade de que sejam construídas outras siderúrgicas em parceria com a multinacional francesa ArcelorMittal.
Para a região sul estão reservados ainda outros projetos poluidores como um porto da Petrobras, que será construído em Ubu. O governo do Estado quer ainda para a região um pólo petroquímico, incluindo uma refinaria de petróleo, que poderá ser construído em Jabaquara. As indústrias serão atendidas por uma ferrovia que ligará a Grande Vitória a Cachoeiro de Itapemirim.
Brasil, país para as poluidorasA construção das poluidoras no Espírito Santo, decidida pelos governos da ditadura militar, foi uma estratégia do capital internacional para evitar críticas ao processo produtivo de aço tanto nos Estados Unidos da América como na Europa. Na época, se fortificavam as denúncias contra a poluição das empresas siderúrgicas.
Então foi decidido que a parte mais poluente da produção siderúrgica devia ser transferida para os países emergentes, à época chamados subdesenvolvidos, como o Brasil e a Coréia. Uma siderúrgica de grande porte também foi instalada na Coréia nesta ocasião.
A decisão de poluir no Brasil foi tomada nos Estados Unidos da América e na Europa. Agora, chegou a vez da China. Documentos tornados públicos no ano passado por força da legislação norte-americana confirmam a medida.
Os textos, disponíveis na internet dizem: “No futuro, o Brasil poderá até mesmo se tornar um ‘porto seguro de poluição’ para empresas que estejam procurando escapar a restrições de países com controles". A frase está no documento intitulado "Brazil -If Development Brings Pollution, so Be It" ("Brasil - Se o Desenvolvimento Traz Poluição, Que Assim Seja").
Seu autor é o Departamento de Estado Norte-Americano. O texto, disponível online desde que foi "desclassificado" (jargão dos serviços de inteligência para documentos que deixam de ser secretos), mas nunca antes publicado, traz a data de 28 de fevereiro de 1972.
Escrito por Ruth M. Schimel e aprovado por Godfrey H. Summ, da Chancelaria norte-americana, o relatório procurava dar uma panorâmica da situação do meio ambiente ("ecologia" era palavra mais em voga então) no Brasil para o governo Nixon (1969-1974).
Foi feito às vésperas do que é considerado o primeiro encontro multilateral sobre o tema, a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972.
A instalação da mega siderúrgica da Baosteel em Ubu vem exatamente neste contexto. O consumo de aço na China é crescente, como são crescentes as críticas ao país pela grande poluição que produz. Daí a decisão de poluir, mas no Brasil. A escolha do sul ocorreu em função da saturação do espaço no Planalto de Carapina e Tubarão, na Grande Vitória.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 07/03/2008)