A chuva de agrotóxicos lançada sobre crianças e agricultores em Vila Valério, noroeste do Estado, provocou “pânico, espanto, medo, insegurança, preocupação e muita indignação e revolta na comunidade e região”. A agressão aos moradores e ao ambiente será denunciada ao Ministério Público Estadual (MPE) pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
A denúncia ao MPE do Espírito Santo será protocolada nesta sexta-feira (7). É endereçada à promotora Blantina Ireni Chamon Junqueira, de São Gabriel da Palha.
A representação dos trabalhadores informará à promotora que “no dia 4 de março de 2008, na comunidade Córrego São Vicente, município de Vila Valério - ES, foi feita uma aplicação de venenos - agrotóxicos via aérea nas lavouras cafeeiras de propriedade dos senhores Elias Caxias, Silfárlio Tonn e outros”.
Segue, afirmando que a aplicação atingiu uma grande região, “causando: pânico, espanto, medo, insegurança, preocupação e muita indignação e revolta na comunidade e região”.
E que “no momento da aplicação dos venenos, era horário de aula na escola da comunidade e os alunos e a professora tiveram que abandonar a escola e correrem para a residência da senhora Márcia Rúbia Mutz Schneider, na busca de se livrarem da chuva e do cheiro forte dos venenos”.
Os venenos agrícolas lançados do avião também atingiram “diversas famílias que se encontravam na roça cuidando dos seus afazeres”. As famílias “tiveram que deixar o trabalho e correram para suas casas, algumas tendo que buscar abrigo em casa de vizinhos no intuito de se livrarem da chuva dos agrotóxicos, evitando no primeiro momento de morrerem envenenadas (asfixiadas)”.
O MPA afirma que “esta prática continua sendo feita em outras comunidades e regiões do município”. Assinala que “a perda de milhares de vidas humanas, de animais e de vegetais por uso de agrotóxicos”, fatos registrados neste Estado e País, para solicitar que sejam tomadas as providências cabíveis “para que isto não se repita mais em nossa comunidade, município, região e Estado e que de fato seja feita Justiça” aos vitimados com o lançamento de agrotóxicos.
O MPA se coloca à disposição do MP diante de tantos fatos registrados neste Estado e País para esclarecimentos. Além de requerer “medidas imediatas” pelo MPE, solicita que a curto prazo sejam “realizadas audiências públicas no município sobre o tema ora abordado”.
O uso dos agrotóxicos no Brasil é indiscriminado. O Espírito Santo é o terceiro estado no país no consumo por pessoa dos venenos agrícolas. Os venenos são chamados pelas empresas de “defensivos agrícolas”. Produzem doenças mortais, entre as quais alguns tipos de câncer, redução da imunidade e doenças genéticas, entre muitas outras.
E também estão levando agricultores ao suicídio. Se não for a causa, o trabalho com os venenos agrícolas é pelo menos uma das causas principais dos suicídios dos agricultores. Os agricultores, instados a usar os venenos agrícolas por intensiva propaganda das empresas, com total omissão do Poder Público, se intoxicam e se tornam impotentes. As mulheres se tornam frígidas. Depressivos, os homens se matam.
Dez mil trabalhadores morrem anualmente no Brasil contaminados pelos agrotóxicos. Os venenos agrícolas usados na produção de alimentos intoxicam 500 mil brasileiros por ano e, dos intoxicados, cerca de 10% ficam definitivamente incapacitados para o trabalho, o que totaliza uma perda de 50 mil trabalhadores/ano no país.
As transnacionais dos agroquímicos faturaram no Brasil em 2006 US$ 3,9 bilhões. São empresas que se interligam vendendo agrotóxicos, adubos e sementes. Agora, algumas de milhos e soja, são transgênicas.
Entre as transnacionais dos venenos agrícolas a Bayer Cropscience Ltda, Dow Agrosciences Industrial Ltda, DuPont do Brasil S.A., Monsanto do Brasil S.A., Laboratórios Pfizer Ltda.; Rhodia Brasil Ltda; Syngenta - Proteção de Cultivos Ltda.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 07/03/2008)