Carregando cestas de alimentos e com bandeiras nas mãos, cerca de 200 mulheres integrantes da Via Campesina promoveram ontem (06), em Encruzilhada do Sul, mais um dia de mobilização contra a ocupação das terras por florestas comerciais. A manifestação faz parte de uma série de atividades realizadas no Estado desde o começo da semana. Os atos ocorreram dentro da programação do Dia Internacional da Mulher, celebrado neste sábado.
Vindas de diversas regiões, elas se concentraram desde terça-feira no Assentamento da Quinta, localizado às margens da RSC-471, para definir as estratégias do manifesto. Por volta das 9h30, o grupo partiu em direção à Fazenda da Bota, pertencente à Aracruz Celulose. Depois de caminhar cerca de cinco quilômetros, as agricultoras se concentraram no acesso à propriedade.
Por cerca de meia hora elas cantaram e usaram microfones para criticar as políticas públicas voltadas ao pequeno agricultor. A Brigada Militar controlou o movimento, que se encerrou de uma forma pacífica com as mulheres jogando sementes na plantação de eucalipto.
O único transtorno envolveu a passagem de veículos pela rodovia, que foi parcialmente bloqueada. Entre as queixas apresentadas pelas agricultoras estavam a dificuldade de conseguir crédito, falta de alimentos para manter as famílias, baixa remuneração para os agricultores e aumento no número de doenças causadas pelo uso de agrotóxicos e exposição à atividade de campo.
No começo da tarde o protesto teve continuidade no Centro da cidade. Com menos participantes, a atividade se resumiu a uma panfletagem com queixas e reivindicações envolvendo a agricultura camponesa, como geração de empregos, produção de alimentos e redução das áreas ocupadas com florestas comerciais.
Alerta
O protesto foi justificado pela direção do movimento como uma forma de denúncia contra o uso de terras produtivas por florestas. A coordenadora estadual da Via Campesina, Lurdes Rosseto, afirmou que o ato seria pacífico. “Queremos é fazer um alerta à sociedade quanto à formação dos desertos verdes”, disse, numa referência ao surgimento das plantações de eucalipto destinado à extração de celulose.
A integrante da Pastoral da Terra e participante do movimento, Oldi Jantsch, ressaltou que a iniciativa também teve objetivo de mostrar as dificuldades em torno da produção de alimentos. Ela alega que, com a criação das florestas, a terra destinada às lavouras deixa de ser usada, o que agrava ainda mais a situação dos camponeses.
Ações como a ocorrida em Encruzilhada já vêm sendo realizadas há pelo menos dois anos em diferentes regiões do Rio Grande do Sul. Em todas elas foram promovidos atos contra as florestas.
Na última terça-feira, em Rosário do Sul, no sudoeste gaúcho, um grupo de manifestantes atacou uma floresta mantida pela Stora Enso, uma multinacional sueco-finlandesa. Neste ato a polícia interveio e algumas das participantes foram detidas, o que gerou novas mobilizações com bloqueios de pelo menos quatro rodovias, durante a quarta-feira.
(Por Dejair Machado, Gazeta do Sul, 07/03/2008)