Em reunião realizada na sexta-feira (29) no auditório do Centro de Pesquisas e Gestão dos Recursos Pesqueiros Lagunares e Estuarinos - CEPERG, em Rio Grande, foram abordados os efeitos do incêndio ocorrido há um mês, sobre a fauna e flora da Unidade de Conservação. Participaram professores de diferentes disciplinas de várias Universidades. Na abertura do encontro, às 14h, o chefe da Estação Ecológica do Taim, Amauri Motta, fez um resumo dos procedimentos adotados para a contenção do incêndio que atingiu o banhado do Taim entre os dias 28 de janeiro e dois de fevereiro. Segundo ele, a equipe da Estação Ecológica está fazendo o monitoramento mensal do crescimento das plantas em alguns setores da área queimada. Depois disso, cada um dos pesquisadores presentes, fez uma breve avaliação sobre as prováveis conseqüências da queimada naquele ambiente, de acordo com a especialidade de cada um.
Segundo o professor Rafael Dias da Universidade Católica de Pelotas -UCPEL (especialista em aves) as espécies de aves que nidiicam naquele tipo de banhado já haviam abandonado os ninhos ainda no final do ano passado. E mesmo aquelas espécies que normalmente não nidificavam ali já estavam no final da estação reprodutiva, "de modo que o impacto do incêndio sobre esse grupo de espécies foi relativamente baixo", argumenta. Também da UCPEL, o professor Marcelo Dutra da Silva, destacou que nesse tipo de ambiente é natural que ocorram eventos esporádicos de queimadas em virtude do grande volume de biomassa vegetal combustível.
Já o professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, David Motta Marques ponderou que os banhados são sistemas extremamente resistentes com relação ao fogo, uma vez que essa vegetação conta com uma grande biomassa abaixo do solo, responsável pelo crescimento de novas plantas. O banhado do Taim apresenta basicamente três espécies de macrófitas aquáticas dominantes e de grande poder de regeneração: o junco (Scirpus californicus), a espadana (Zizaniopsis bonariensis) e o capim-navalha (Scirpus giganteus). "Como esse tipo de vegetação depende de um solo permanentemente saturado de água, o ecossistema, como um todo, depende, fundamentalmente, do regime hidrológico local". Por isso, segundo ele, o que definirá a recuperação da fisionomia natural daquele banhado é o quão protegido de fatores antrópicos externos estão as condições naturais do regime hidrológico da área. Conseqüentemente, segundo ele, o manejo de controle com o uso do fogo nesse tipo de ambiente é desaconselhável, pois está associado a ambientes terrestres.
Segundo o biólogo Ezequiel Pedó, do CEPERG, o encontro foi positivo pois ajudou a esclarecer algumas especificidades de manejo do fogo naquele ambiente. Ele destaca o depoimento do professor David Motta Marques que considera "bastante produtivo e, creio que principalmente ele, pode ajudar bastante na elaboração do plano operativo de prevenção e contenção de queimada, que será elaborado pelo Prevfogo. Até porque a experiência maior do Prevfogo é na contenção do fogo em ambientes terrestres, enquanto a Esec do Taim tem grandes extensões de áreas úmidas, que requerem um manejo diferenciado", explica.
Participaram da reunião, Amauri Motta e a servidora Liziane Lima Alves da ESEC do Taim (ICMBio; os professores Rafael Dias e Marcelo Dutra da Silva da Universidade Católica de Pelotas (UCPEL) , professor Cleber Palma Silva da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG); professor David Motta Marques; do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/UFRGS) e os servidores Ezequiel Pedó, José Luiz Pereira Borges, Rosane Nauderer e Ruini Etgar Holz do Centro de Pesquisas e Gestão dos Recursos Pesqueiros Lagunares e Estuarinos -(CEPERG/ICMBio). Também estiveram presentes duas pessoas ligadas a ONGs.
(Por Maria Helena Annes, Ibama/RS, 06/03/2008)