Uma vastidão de reportagens especiais, documentários, fotografias, livros e até filmes sobre as conseqüências das mudanças climáticas apareceram na mídia nos últimos anos, porém são poucos aqueles relatos que tratam das pessoas que já trabalham para mudar o mundo.
O livro “Earth:The Sequel” ("Terra: A seqüência", na tradução livre), que será lançado esta semana nos Estados Unidos pelo presidente do Fundo de Defesa Ambiental, Fred Krupp, e pela jornalista Miriam Horn, fala justamente disso.
Através da história de empreendedores, cientistas e pesquisadores que já transformam o setor energético norte-americano, os autores tentam provar que as mesmas forças que colocaram a Terra no limite da calamidade climática – inovação e lucros – farão o aquecimento global parar. A seqüência, segundo Krupp, é justamente como resolver o problema atual do planeta.
“Este livro é sobre pessoas que resolveram a crise climática e criaram riqueza ao mesmo tempo. É sobre as mentes que irão salvar o planeta e o que nós podemos fazer para ajudá-los”, dizem os autores.
Entre as histórias que aparecem no livro estão a de três jovens cientistas (um surfista e seus amigos) que através da engenharia genética modificaram um fungo para fermentar açúcar e obter combustível verde que pode ir direto para canos, carros, caminhões e aviões; um bioengenheiro que redesenhou um vírus para formar a bateria mais poderosa já vista; uma tribo de índios, que por dois mil anos pesca nas águas mais revoltas do pacífico, e agora explora o poder das ondas para obter um lucro diferente; um sertanejo que mantém um hotel de gelo durante todo o verão com a energia de fontes termais.
Conhecido nos EUA pelo plano de redução da chuva ácida no Ato do Ar Limpo de 1990 e pela proposta norte-americana de um acordo climático global, Krupp diz ser otimista. “Meu otimismo vem de tudo o que sei sobre os inventores no trabalho com novas soluções energéticas hoje, soluções que podem energizar nossa economia sem criar poluição do aquecimento global. O entusiasmo destas pessoas é contagiante e está atraindo grandes investidores”, afirma.
Fred Krupp é criticado por radicais por buscar parceiros corporativos, porém no Vale do Silício é reverenciado por buscar uma abordagem capitalista para as energias limpas.
Krupp lembra que, em 1992, o Fundo de Defesa Ambiental trabalhou com o então presidente Bush para criar um sistema de mercado para reduzir a chuva ácida. Isto estimulou uma revolução nas tecnologias para diminuir o dióxido de sulfúrico.
Inicialmente, os custos estavam projetados a mais de US$ 2 mil a tonelada, mas dez anos depois caíram para cerca de US$ 100 a tonelada e as emissões foram cortadas em 50%. “Em 2005, George W. Bush expressou seu apoio a um corte de 70%. Por quê? Os custos estavam tão baixos, que as controvérsias políticas desapareceram. Eu suspeito que a mesma coisa pode acontecer com limites de emissões causadoras do aquecimento global uma vez que os incentivos sejam os corretos”, afirma em entrevista para a revista Wired. Ele sugere um limite legal que exija reduções de pelo menos 20% dos níveis atuais em 2020, forçando subir para 80% em 2050. “Isto daria as novas tecnologias a chance de florescer”, diz a Wired.
Krupp comenta que é inevitável que China e Índia também adotem limites. “Nós ganharemos uma vantagem competitiva por sair na frente. A verdadeira questão é: nós queremos importar tecnologia limpa da Alemanha, Japão e China ou exportar para o resto do mundo?”, questiona, referindo-se a ainda firme posição norte-americana de refutar participar de um acordo global para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
O autor diz que não sabe qual será a velocidade para os custos industriais caírem, porém lembra que ‘o capitalismo funciona, o empreendedorismo norte-americano também’. “E nós podemos muito bem esperar que o capital privado – não dinheiro de governos – na verdade resolva este problema”, afirma.
O repórter da Wired pergunta porque muitos líderes da revolução energética também lideraram a explosão da internet e Krupp responde que é a mentalidade. “Os empreendedores do Vale do Silício estão dispostos a assumir riscos. E muito das tecnologias energéticas estão fundadas nas ciências da computação”, afirma.
Krupp destaca, no entanto, que os negócios energéticos são muito mais de uso intensivo de capital do que aplicação computacional para redes. “E, atualmente, as tecnologias limpas são uma revolução muito mais importante. Nós estamos falando do futuro da humanidade, não sobre como achar um dado na internet”, afirma.
Krupp diz que uma das suas histórias favoritas é da GreenFuel Technologies, uma empresa com base no estado de Massachusetts. Os fundadores escolheram o dióxido de carbono expelido pelas grandes chaminés de usinas energéticas como mira e desenvolveram uma maneira de usar o CO2 para alimentar algas. Então, as algas transformam o CO2 em um combustível. “A GreenFuel criou dois benefícios em um – reduziu o aquecimento global e aumentou o combustível”, afirma.
Hoje, eles trabalham com uma empresa elétrica do Arizona para demonstrar como isto funciona na prática.
“Existem muitas idéias como esta. Algumas vão funcionar, outras não, mais em soma elas farão qualquer um se manter otimista sobre resolver o problema do aquecimento global”, admite.
(Envolverde, com informações do Carbono Brasil, 06/03/2008)