Pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da USP estão estudando as possibilidades de utilização dos líquidos iônicos como solventes em reações químicas. O trabalho visa diminuir ou eliminar impactos ambientais de processos químicos, como melhoria nos rendimentos e eliminação de efluentes contaminados, entre outros. “Estamos trabalhando dentro da filosofia de ‘Química Verde’, que tem como principais eixos: economia, segurança, uso de matérias-primas renováveis e a fabricação de produtos biodegradáveis”, explica o professor Omar A. El Seoud, do Departamento de Química Fundamental do IQ e coordenador do Grupo de Tensoativos e Polímeros do IQ/USP.
O professor destaca alguns problemas associados ao uso de solventes convencionais em processos químicos “Além de não serem de fontes renováveis (derivados de petróleo), alguns são tóxicos, inflamáveis e instáveis a altas temperaturas. A incineração ou descarte destes solventes em depósitos específicos representa um problema ambiental”.
Os líquidos iônicos podem substituir os solventes convencionais e são capazes de suportar altas temperaturas, superiores a 300 graus centígrados. “É o caso dos óleos lubrificantes usados em motores de automóveis. Já estão sendo feitos testes substituindo-os por líquidos iônicos, o que significa economia devido ao maior tempo entre as trocas do lubrificante”, exemplifica o pesquisador, lembrando que os líquidos iônicos também podem substituir os fluidos utilizados em sistemas de freios. “Há patentes sobre aplicações dos líquidos iônicos como solventes “verdes” em diversos processos químicos, no tratamento de água, na preparação de blendas de celulose e de fibras a partir de celulose de madeira e outras fontes naturais”, ressalta.
Reconhecimento internacional
Nos laboratórios do IQ, o grupo do professor El Seoud estuda as propriedades e aplicações dos líquidos iônicos, por exemplo, na preparação de derivados de celulose “Conseguimos alguns resultados animadores”, lembra o pesquisador. Outra aplicação em potencial dos líquidos iônicos é na obtenção de detergentes à base de açucares, usados nas indústrias farmacêuticas e de alimentos. Neste caso, especificamente, o professor relata que o uso de líquidos iônicos proporciona maior economia, pois dissolve muito mais açúcar que os álcoois, por exemplo.
Os trabalhos do Grupo de Tensoativos e Polímeros acabam de ser veiculados em publicações internacionais. Um foi publicado na revista Biomacromolecules, sobre os potenciais usos de líquidos iônicos na química de carboidratos (açucares, amido e celulose). “Na literatura científica há poucos trabalhos relacionados aos líquidos iônicos no processamento de açucares e carboidratos”, conta o pesquisador. O outro trabalho, sobre solvatação, é matéria de capa da edição de março da revista European Journal of Organic Chemistry. No artigo em questão os pesquisadores descrevem as ligações de hidrogênio e as interações dipolares – forças que controlam a eficiência de solubilização pelos solventes.
(Por Antonio Carlos Quinto, Agência USP, 05/03/2008)