Um dos biomas mais ricos e mais ameaçados do mundo ganha proteção em Minas Gerais. Duas unidades de conservação (UCs) em área de mata atlântica foram criadas no Vale do Jequitinhonha, por meio de decreto assinado pelo governador Aécio Neves. O Parque Estadual do Alto Cariri tem 6,1 mil hectares e está localizado no complexo de serras na divisa de Minas com Bahia, nos municípios de Santa Maria do Salto, Salto da Divisa e Guaratinga (BA). O outro é o Refúgio de Vida Silvestre (Revis) Mata dos Muriquis, de 2,7 mil hectares, também em Santa Maria do Salto, a 827 quilômetros de Belo Horizonte.
As duas unidades e outras criadas na Bahia no fim do ano passado totalizam mais de 40 mil hectares protegidos em área de mata atlântica. Dados do último mapeamento, feito em 2003 e 2004, mostram que a área de Minas dentro deste bioma representa 41% (241.716 quilômetros quadrados). Já o que resta de mata atlântica no estado, em relação ao total remanescente de toda a vegetação, é de 22,5%.
A criação dessas unidades – fruto de parceria entre Ministério do Meio Ambiente, governos mineiro e baiano, municípios, universidades e organizações da sociedade civil – tem o objetivo de proteger espécies da flora e da fauna, nascentes e cursos de água, além de dinamizar a economia local com o desenvolvimento do ecoturismo, turismo científico e de aventura. O parque e a Revis serão implantados e gerenciados pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF).
Desde 2005, são desenvolvidos estudos para a criação de uma unidade protegida na área do Cariri. As pesquisas mostraram que se trata de uma área com grande diversidade biológica. Foram registradas na localidade várias espécies da flora e da fauna ameaçadas de extinção, como o muriqui-do-norte, um dos primatas em maior risco no mundo.
Menos de 2% (cerca de 2,5 milhões de hectares) da mata atlântica estão oficialmente protegidos em unidade de conservação de proteção integral (parques, reservas e estações ecológicas). Para o diretor do Programa Mata Atlântica da organização não-governamental Conservação Internacional-Brasil (CI), Luiz Paulo Pinto, é preciso um esforço conjunto de várias instituições públicas, privadas e sem fins lucrativos, além dos cidadãos, para ampliar essa extensão.
“A mata já perdeu boa parte de sua cobertura florestal. A estimativa é de que hoje exista cerca de 10% do original. Se quisermos proteger esse bioma a longo prazo, esses espaços protegidos são os mecanismos mais apropriados, pois há pouca interferência humana e fiscalização mais intensa”, afirma. Ele ressalta que há uma pressão grande sobre esse tipo de vegetação. “Cerca de 70% da população brasileira vive em área de mata atlântica. É onde estão as maiores cidades e indústrias. Esforço e ações urgentes são necessários para garantir que 10% sejam adequadamente protegidos”, reforça.
Luiz Paulo destaca que, além da riqueza da biodiversidade, outra característica da mata atlântica é a existência de espécies endêmicas, que só ocorrem em determinadas áreas. Acredita-se que pelo menos 60% da flora e 40% da fauna estejam nesta situação. De acordo com o diretor da CI, está em estudo a criação de pelo menos mais cinco unidades de conservação em Minas, nos vales do Jequitinhonha, Mucuri, região da Mantiqueira e Zona da Mata.
Segundo o IEF, Minas tem 32 parques estaduais, num total de 414 mil hectares, dos quais sete abertas à visitação: Serra do Rola-Moça, Ibitipoca, Itacolomi, Rio Preto, Serra do Brigadeiro, Nova Baden e Rio Doce. Há ainda 162 unidades de conservação nas diferentes categorias estabelecidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc), num total de quase 1,6 milhão de hectares protegidos.
(Portal UAI,
FGV, 06/03/2008)