Um avião lançou agrotóxicos sobre estudantes no córrego São Vicente, no município capixaba de Vila Valério, noroeste do Estado. A professora foi obrigada a retirar os alunos às pressas da escola, buscando abrigo em uma casa, para fugir dos venenos aplicados. O emprego de avião para aplicar venenos agrícolas em cafezais nesta região capixaba foi feito pela primeira vez.
A denúncia é do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). A aplicação dos venenos agrícolas nos cafezais de São Vicente ocorreu na manhã desta quarta-feira (5), segundo informou Sérgio Conti, um dos coordenadores estaduais do MPA.
Os moradores não conseguiram identificar o prefixo do avião. O coordenador do MPA informou que antes os venenos agrícolas eram aplicados nos cafezais da região com o emprego de trator ou com bombas colocadas nas costas dos trabalhadores rurais.
Os fazendeiros costumam empregar coquetéis de venenos agrícolas nas plantações. No caso dos cafezais, usam agrotóxicos para a ferrugem; para cochinilhas, e para matar as plantas que nascem no meio das plantações. Os venenos são altamente letais para as pessoas e para o ambiente. Aplicados na forma de coquetel, os efeitos letais são enormemente ampliados.
Depois de fugir dos agrotóxicos junto com seus alunos, a professora buscou ajuda do MPA em Vila Valério. O MPA informou que fará denúncias da aplicação dos venenos sobre a escola e as crianças ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Ibama), Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), polícias Militar Ambiental, Civil e Federal, Ministério Público Estadual (MPE) e Federal (MPF), entre outros órgãos.
Em Linhares, já houve registro de lançamento de venenos agrícolas por avião sobre moradores. O avião era empregado para jogar os venenos em bananas e cana-de-açúcar.
Uso de venenos é indiscriminado no Estado
O uso dos agrotóxicos no Brasil é indiscriminado. O Espírito Santo é o terceiro estado no país no consumo por pessoa dos venenos agrícolas. Os venenos são chamados pelas empresas de “defensivos agrícolas”. Produzem doenças mortais, entre as quais alguns tipos de câncer, redução da imunidade e doenças genéticas, entre muitas outras, como estão levando agricultores ao suicídio.
Se não for a causa, o trabalho com os venenos agrícolas é pelo menos uma das causas principais dos suicídios dos agricultores. Os agricultores, instados a usar os venenos agrícolas por intensiva propaganda das empresas, com total omissão do Poder Público, se intoxicam e se tornam impotentes. As mulheres se tornam frígidas. Depressivos, os homens se matam.
Os venenos agrícolas usados na produção de alimentos intoxicam 500 mil brasileiros por ano, e 10 mil trabalhadores morrem anualmente no Brasil contaminados pelos agrotóxicos. Dos intoxicados por venenos agrícolas, cerca de 10% ficam definitivamente incapacitados para o trabalho, o que totaliza uma perda de 50 mil trabalhadores/ano no país.
As transnacionais dos agroquímicos faturaram no Brasil em 2006 US$ 3,9 bilhões. São empresas que se interligam vendendo agrotóxicos, adubos e sementes. Destas, agora, algumas são transgênicas.
Os nomes das transnacionais são conhecidos, como as outras, menos cotadas, que podem ser vistas nos sites oficiais de sua classe: Bayer Cropscience Ltda, Dow Agrosciences Industrial Ltda, DuPont do Brasil S.A., Monsanto do Brasil S.A., Laboratórios Pfizer Ltda.; Rhodia Brasil Ltda; Syngenta - Proteção de Cultivos Ltda.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 06/03/2008)