As militantes da Via Campesina que invadiram a área da Stora Enso sabiam que não tinham condições de manter uma ocupação por mais do que algumas horas. Tinham idéia de que arrancar mudas de eucalipto para um plantio de verduras é apenas um ato simbólico. Tinham conhecimento de que a fazenda, ao fazer o plantio das árvores exóticas, criou 50 vezes mais empregos do que a pecuária.
As mulheres sabiam disso, mas fizeram o ato por uma questão de marketing. Movimentos políticos precisam de visibilidade para se justificar. Nada como uma ação midiática para ocupar de novo espaço nas discussões.
Mais do que racional, é ideológica a posição da Via Campesina em relação aos eucaliptos. É provável que sejam legítimas suas queixas de que a árvore traz ressecamento da terra. Mas a razão principal desse tipo de invasão é outra. Com os campos cobertos de árvores, fica difícil aos sem-terra dizer que as fazendas são improdutivas. Se não são improdutivas, não há por que desapropriá-las e assentar ali os militantes da organização. O que compromete a própria razão de existir do MST.
Arrancando eucaliptos, a Via Campesina vai acabar granjeando antipatia entre muitos moradores da fronteira, para os quais o plantio de árvores é visto como a maior alternativa para a região.
(Zero Hora, 05/03/2008)