Antes de confrontos, Via Campesina derrubou árvores
Sob confusão e tumulto, um grupo de mulheres da Via Campesina deixou ontem à noite uma área da Stora Enso, em Rosário do Sul, ocupada no início da manhã.
Depois de destruírem eucaliptos da empresa na Fazenda Tarumã, centenas de integrantes do movimento resistiram à ação de retirada da Brigada Militar, que usou balas de borracha e bombas de efeito moral. Os ônibus começaram a partir da área às 21h30min.
O tumulto, por volta das 17h, gerou o registro de um ferido entre os policiais militares, segundo a corporação: o comandante da BM de Livramento, Lauro Birnfield, levou um golpe de foice no ombro direito. A assessoria da Via Campesina também confirmou agressões contra os invasores, mas não sabia precisar o número de feridos. Ela afirmou que duas manifestantes acabaram no hospital por problemas de saúde decorrentes da tensão.
A confusão não foi a primeira do dia. Outro incidente ocorreu às 11h, quando a BM tentou furar um bloqueio dos invasores. Policiais sacaram armas, e as mulheres ameaçaram revidar com golpes de foices e facões.
A invasão começou às 6h, a quatro dias do aniversário da destruição de 3 milhões de mudas da Aracruz, em Barra do Ribeiro. Encapuzadas, as mulheres chegaram em 28 ônibus. O grupo entrou na área e cortou parte da plantação de eucaliptos. Também instalou faixas contra a Stora Enso e cartazes do Dia Internacional da Mulher. O protesto era contra o plantio de eucalipto, considerado ilegal pelo grupo por estar na faixa de fronteira.
A empresa afirma que está com um processo de autorização no Conselho de Defesa Nacional para escrituração da propriedade localizada na área de fronteira. A medida é necessária porque Stora Enso é estrangeira. Como o processo de autorização é demorado - e para evitar que a área ficasse sem registro - , as terras foram registradas em nome da empresa brasileira de capital nacional Azenglever, o que deve permanecer até o final do processo.
A Fazenda Tarumã tem 2.075 hectares - 707 deles plantados com eucalipto.
Outras ocupações
Invasões por mulheres se tornaram rotina de março:
8 de março de 2006
Cerca de 1,5 mil integrantes da Via Campesina invadiram a Fazenda Barba Negra, em Barra do Ribeiro, destruindo instalações e viveiros com 3 milhões de mudas de eucaliptos da Aracruz Celulose. Passados dois anos, a Justiça não conseguiu finalizar o processo. Nove dos 37 acusados de comandar a depredação não foram localizados
6 de março de 2007
Militantes da Via Campesina invadiram quatro áreas florestais, em Rosário do Sul, Eldorado do Sul, São Francisco de Assis e Pinheiro Machado. As propriedades pertencem às empresas Votorantim, Stora Enso e Aracruz
(Zero Hora, 05/03/2008)