O Espírito Santo fica mais longe de conquistar sua soberania alimentar. Esta é a interpretação do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) sobre a informação de que a BE Agroenergia, empresa do grupo Brazil Energy, construirá uma fábrica de biodiesel em Colatina, noroeste do Estado. O biodiesel será produzido com pinhão-manso, plantado em 60 mil hectares.
O pinhão-manso “será mais um monocultivo, e como todos os outros, prejudicais aos trabalhadores da cidade e do campo. Os monocultivos, como o do eucalipto, da cana, do capim e agora os dos insumos para o biodiesel estão na lógica do governo e das empresas”, assinala Sérgio Conti, da coordenação estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) no Espírito Santo.
Para ele, com a área anunciada para os plantios de pinhão-manso, o Estado do Espírito Santo fica ainda mais distante de sua soberania alimentar. A soberania alimentar é definida como o direito dos povos de definir suas próprias políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos. Como princípio, deve garantir o direito à alimentação para toda a sua população, com base na pequena e média produção.
O dirigente do MPA lembra que o Espírito Santo não produz os alimentos básicos - arroz, feijão, milho e mandioca, entre os principais - que sua população precisa. O Estado tem de importar alimentos. Tudo isto em função da destinação das suas melhores terras para plantar alimentos para plantios de eucalipto, cana-de-açúcar e capim.
A informação sobre a construção da fábrica de biodiesel em Colatina, tendo como insumo o pinhão-manso, só reduzirá a área destinada a plantios de alimentos. A empresa BE Agroenergia anunciou que sua usina em Colatina terá capacidade para 100 mil toneladas de biodiesel por ano. Para isto terá que processar 300 mil toneladas de pinhão-manso anualmente. Serão necessários 60 mil hectares plantados com pinhão-manso.
“O agronegócio vai se apropriar de mais terras no Espírito Santo, aumentará o gasto de água, usará mais venenos agrícolas e mais produtos químicos para assegurar a produção”, lembra Sérgio Conti. Para ele, projetos desta natureza tendem a seduzir os produtores pela propaganda das empresas. Mesmo com os prejuízos econômicos, ambientais e sociais que geram.
À informação de que o plantio de pinhão-manso pode gerar receita de R$ 1.200,00 por hectare ano, Sérgio Conti disse que o agricultor deve fazer as contas e ver o que gera mais receita: se a monocultura para produção de combustível ou celulose, ou a produção de alimentos.
Afirmou que a agricultura camponesa pode gerar receitas consideráveis: o feijão, cultura com um ciclo de 60 dias, pode dar uma receita anual média por hectare de R$ 2.500,00; o arroz e o milho, colhidos com 5/6 meses de plantio, podem dar uma receita de cerca de R$ 2.500,00 para o arroz e R$ 2.000,00 para o milho. Se opção for para o plantio de inhame, a receita por hectare/ano pode chegar a R$ 3.000,00.
Sérgio Conti afirma que o MPA não só defende o plantio de alimentos em cada propriedade, como a diversificação das culturas. Lembra que a diversificação pode elevar ainda mais a receita da família camponesa.
Assinalou que o MPA, que junto com o Movimento dos Sem Terras (MST) faz parte da Via Campesina, continuará a luta contra o agronegócio e pela busca da soberania alimentar. Apesar do apoio dos governos federal e estadual aos projetos que incentivam os monocultivos do eucalipto, cana, capim e das plantas para produção de biodiesel.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 03/03/2008)