Está concluído o enrocamento que permitirá o aterro de 23 mil metros quadrados da baía de Vitória pela Flexibrás, empresa do grupo francês Technip. A empresa utilizará a área tomada do mar para depósito de sua produção e conseguiu a licença para destruir o mar como concessão do governo Paulo Hartung.
A Flexibras está instalada na região desde 1986, no governo Gerson Camata. Recentemente concluiu as obras de duplicação que aumentaram a capacidade produtiva de 400 para 450 quilômetros de tubos flexíveis e cabos umbilicais por ano. Daí precisou ampliar também o pátio de estocagem. Com a concordância do governo, invadiu o mar.
O estrago ambiental agora está consumado. O enrocamento foi concluído e o aterro estará pronto em pouco tempo. A Flexibras Tubos Flexíveis é fornecedora da Petrobras.
Segundo o ambientalista e presidente da Organização Consciência Ambiental (Orca), Lupércio de Araújo, a expansão da empresa não justifica, em nenhum momento, a invasão de área marítima.
"Por que não crescem para a retro-área? Esse empreendimento é o retrato da política do governo do Estado, que quer desenvolvimento a qualquer preço com a neutralidade do Ministério da Marinha, Gerência de Patrimônio da União, entre outros", ressaltou.
Para Lupércio, que teve acesso aos prospectos da obra, a empresa vem defendendo o empreendimento como um grande feito e demonstrando que não está a par do momento e da necessidade de conservação discutida mundialmente. Além de descaracterizar a baía, Lupércio garante que o aterro trará impactos ambientais, além de comprometimentos à navegação na região. “Isso me entristece, mas não me surpreende. A própria política atual trata as questões ambientais como um entrave ao desenvolvimento", desabafou.
Este não é o único problema com perda de área na baía de Vitória. Há poucos anos, já no governo Paulo Hartung, outra empresa foi autorizada a aterrar o mar. A Prysmian Cabos e Sistemas, do outro lado da baía, no município de Vila Velha, aterrou o mar para construir sua fábrica. Houve irregularidades na doação da área - de 21 mil m² - pelo governo do Estado à empresa Pirelli.
A Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) também foi responsável pelo aterro (resultado de uma retro-área) de boa parte do mangue e ainda uma área de alagado, com três metros de aterro na mesma região. Com o aterro, os moradores passaram a sofrer com enchentes, antes contidas pela área de taboa. Tiveram ainda sua única área de lazer destruída.
Há, também, a construção de gigantescos tanques para armazenamento de soda cáustica, nos morros do Atalaia e Pela Macaco, em Vila Velha, da Nascom Logística Ltda. As obras ainda estão em andamento, causam problemas ambientais e afetam a paisagem. Mas os riscos potenciais são apontados: em caso de vazamento, a área de contenção é insuficiente para armazenar a soda. Neste caso, adeus à baía, incluindo a Estação do Lameirão.
Há 40 anos, com as águas menos poluídas, botos (golfinhos) nadavam até o interior da baía, atingindo as proximidades da foz do rio Santa Maria da Vitória, no manguezal do Lameirão. Havia fartura de sardinhas, tainhas e quiras, entre muitos outros peixes. Siris eram pegos com facilidade.
Em frente à atual sede da Polícia Federal havia camarão e caranguejo. As águas ainda eram transparentes. Além dos grandes aterros, a baía de Vitória sofre com agressões de menor porte: até a associação dos policiais federais aterrou, sem licença ambiental, uma área bem em frente à sede da Polícia Federal, em São Torquato.
Não há apenas aterro e poluição visual, de lixo boiando. Na região do Saco do Aribiri e em outros pontos foram constatados metais pesados no lodo da baía de Vitória. Os agrotóxicos usados na região de montanha contaminam as águas.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 03/03/2008)