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desmatamento
2008-03-04

Quatro dos principais municípios agrícolas de Mato Grosso, que representam 23 por cento da área plantada com soja no Estado, vêm mantendo estáveis as terras destinadas ao cultivo da oleaginosa, diante da pressão de ambientalistas e de órgãos governamentais contra o desmatamento, relataram presidentes de sindicatos rurais.

De outro lado, o desflorestamento está intenso em áreas mais ao norte do Estado ou distantes do corredor da BR-163 (importante rodovia que corta o Mato Grosso), segundo recentes dados do governo federal. O desmatamento nessas áreas ainda sem tradição agrícola, que está sendo objeto de ações da polícia, não estaria por ora relacionado ao plantio de soja, ponderou a organização ambiental The Nature Conservancy (TNC).

Dados do Ministério da Agricultura confirmam os relatos dos dirigentes dos sindicados, uma vez que o Estado já plantou mais soja do que a área semeada nesta safra (2007/08). Em 2005/06, antes de o setor ter sido atingido por uma crise, em decorrência da desvalorização do dólar e de problemas nas safras, a semeadura em Mato Grosso atingiu 6,2 milhões de hectares, contra atuais 5,5 milhões de hectares.

"Tenho uma área de 10 mil hectares na minha propriedade, planto em 4.500. Tenho pedido de autorização para plantar em 6.000 hectares desde 2001, deixando ainda 40 por cento de reserva legal na fazenda, parece que só agora vai sair (a autorização)," disse o presidente do Sindicato Rural de Nova Mutum, no Médio-Norte de Mato Grosso, Alcindo Uggeri.

"A Sema (Secretaria de Meio Ambiente) está muito rigorosa para dar autorização, e acho que é assim que tem que ser", acrescentou ele, observando que a área plantada com soja no município tem se mantido estável em 330 mil hectares, devido à falta de novos campos abertos para plantio.

Nelson Piccoli, o presidente do Sindicato Rural de Sorriso, também informou que a área no maior município produtor de soja do Brasil se mantém nos 600 mil hectares plantados em anos passados.

"Faz quatro anos que o município de Sorriso não tem abertura de novas áreas. Em 2003 foi a última abertura. Economicamente, se tornou inviável, porque o setor entrou em crise," disse ele, lamentando que faltam regras claras sobre o que pode ou não ser desmatado. "Não sabemos, por exemplo, a que bioma pertencemos."

Já em Sinop, cuja economia esteve baseada no início apenas no setor madeireiro, com plantio atual de 130 mil hectares, a última abertura de área se deu em 1995, segundo o presidente do Sindicato Rural Antonio Galvan. "Praticamente foram extintas as aberturas."

Em Lucas do Rio Verde, há um projeto em parceria do governo municipal com a organização TNC e empresas para a conscientização contra o desmatamento que vem dando resultado, com o programa sendo inclusive premiado internacionalmente. Em Lucas, a área de soja também estacionou em 200 mil hectares.

Além disso, tradings e outras empresas do setor agropecuário como a Sadia assinaram um pacto contra a compra de soja cultivada no bioma amazônico, apesar de a oleaginosa ocupar apenas 0,3 por cento da área total desse bioma.

A chamada Moratória da Soja foi assinada em julho de 2006. "Não deixaram de comprar soja nesse período até porque não houve aberturas de novas áreas," disse Galvan, de Sinop.

Com sede em Sinop, que processa 18 por cento da madeira de Mato Grosso, recebendo matéria-prima de outros municípios, o Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado (Cipem) afirma que só trabalha com produto certificado, porque não conseguiria atender seus principais clientes se fosse diferente.

"Quarenta e cinco por cento da madeira que produzimos é exportada," afirmou Jaldes Langer, presidente do Cipem, que representa 31 cidades do norte de Mato Grosso.

Apesar disso, alguns municípios filiados ao Cipem, como Marcelândia, estão na lista do governo daqueles que mais desmataram no final de 2007. Langer nega que o setor trabalhe ilegalmente e afirma que as indústrias pertencentes à organização só atuam em áreas cadastradas, com licenciamento.

Nenhum dos quatro municípios produtores de soja citados (Sinop, Sorriso, Lucas e Nova Mutum) está na lista do governo dos 36 que mais desmataram no final de 2007.

Mas Sinop, Nova Mutum e Sorriso já tinham desmatado até 2005, respectivamente, 63 por cento, 29 por cento e 42 por cento de sua área total, segundo dados do governo.

Para o coordenador de Agricultura e Conservação da TNC, Carlos Clink, agora é menos provável que o desmatamento esteja associado ao plantio de soja, como ocorreu na época da abertura da fronteira agrícola, até porque diversos setores sabem que o negócio pode não ir adiante de a área estiver na Amazônia.

"Tem uma disposição fantástica de prefeituras, tradings, produtores para resolver o problema. Sabe-se que tem problema de desmatamento, isso não é novidade, mas acho que vários segmentos da sociedade querem resolver o problema, isso sinto fortemente em Mato Grosso, pelo menos do setor soja", disse Clink, por telefone.

Essa conscientização, argumentou Clink, reduziria o risco de que novas áreas desmatadas venham a ser ocupadas no futuro com produtos agrícolas, como ocorreu no passado, com o gado ocupando terras desmatadas e, posteriormente, as pastagens virando plantações.

(Roberto Samora, Reuters Brasil, 03/03/2008)


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