As intensas chuvas que caíram nas bacias dos maiores rios do Zimbábue em dezembro e janeiro fizeram com que quase todas as represas do país atingissem sua capacidade total, mas, ainda há muitas casas sem água potável em diversas cidades. Shupikai Macheka, que vive em Mabvuku, bairro densamente povoado na periferia da capital Harare, afirmou que “é difícil viver sem uma gota de água durante quatro meses, mas estamos nos acostumando, inclusive com todas as doenças associadas ao problema. Se tivéssemos condições, já teríamos ido para outras áreas onde às vezes a água está disponível”, afirmou.
Mabvuku é um superpopuloso bairro operário, 20 quilômetros a leste do centro comercial de Harare, que foi construído na época colonial para servir de “dormitório” para os trabalhadores das indústrias pesadas vizinhas. Não foi projetado para a população que abriga atualmente. Não deixou de crescer desde 2005, quando o governo lançou uma operação para eliminar os assentamentos precários que cresceram à sombra da capital. Os tratores arrasaram esses barracos e forçaram seus moradores a se espremerem em áreas como Mbvuku, sem que as autoridades fizessem algo para melhorar os serviços sanitários e o fornecimento de água para a região. “As pessoas perguntam onde está a água, quando se diz que o Lago Chivero (a maior represa para fornecimento de água da capital) está no máximo de sua capacidade”, disse Macheka.
A Autoridade Nacional da Água do Zimbábue (Zinwa) informou que LagoChivero estava com 103,8% de sua capacidade em janeiro, enquanto as principais represas do país em seu conjunto, se encontravam pouco abaixo de (94,5%) de seu nível máximo médio. Esse órgão sempre culpou a seca pelos problemas no fornecimento, mas agora que as chuvas voltaram em abundância continua sem fazer seu trabalho de fornecer água potável para a capital e outras cidades onde responde por esse serviço.
Criada por lei em 2004, a Zinwa enfrentou uma forte resistência em todos os lugares onde assumiu a responsabilidade pelo fornecimento de água. Essa oposição a fez abandonar temporariamente sua tentativa de assumir o controle das represas e a distribuição em Bulawayo, a segunda cidade em importância do país. Os moradores se queixam da qualidade do serviço e as autoridades locais querem manter o controle sobre a infra-estrutura do abastecimento de água porque constitui uma fonte de renda. Os residentes de Harare afirmam que a Zinwa jamais diz uma palavra sobre as medidas que tomará para solucionar os problemas. A falta de água potável aumentou os riscos de enfermidades.
No período de duas semanas, em janeiro, foram informados mais de 400 casos de cólera e diarréia em Mabvuku. O ministro da Saúde, David Parirennyatwa, disse que a situação era um “desastre”. O governo anunciou que abrirá três mil poços de água em Harare e em outros centros urbanos, começando pelas áreas mais afetadas, como Mabvuku. Enquanto a IPS conversava com Macheka, uma caminhonete da Zinwa, que tinha pintada a frase “água é vida”, surgiu na principal avenida no coração do bairro rebocando um tanque de água que, após apenas oito pessoas encherem suas latas, ficou vazio e o veiculo foi embora.
Os moradores dependem dos poços existentes em uma empresa de cimento e em um quartel da polícia. Nos dois casos as pessoas precisam caminhar vários quilômetros para conseguir água. O vice-ministro de Recursos Hídricos e Desenvolvimento de Infra-estrutura, Walter Mzembi, anunciou que o governo voltaria a por em funcionamento unidades de tratamento de água que estavam fora de serviço para aumentar a capacidade. Os problemas com o abastecimento são parte da crise política e econômica do pais, que gerou hiperinflação, alto desemprego e escassez de bens básicos. O governo também enfrenta acusações por violações dos direitos humanos.
(Por Tonderai Kwuidini, IPS, 03/03/2008)