Cerca de 30% dos garimpeiros das minas de ametista, no município de Ametista do Sul, no Noroeste gaúcho, apresentam sintomas de silicose, doença causada pelo acúmulo de pó de sílica nos pulmões. A conclusão é de um estudo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O pó de sílica é liberado durante as explosões das rochas e pelas britadeiras no interior das galerias subterrâneas, e seu acúmulo no organismo causa tosse, fadiga, dor no peito e outros problemas respiratórios.
O geólogo e professor da Universidade Federal de Santa Maria Carlos Alberto da Fonseca Pires, que participou da pesquisa, explica que a alta incidência da doença entre os trabalhadores não se deve apenas à falta de equipamentos. De acordo com ele, falta conscientização entre os garimpeiros, que ainda não colocam sua segurança como prioridade.
“O poder público da região tenta fazer algumas ações e esbarra nesse aspecto cultural, de que os garimpeiros não estão muito preocupados com as condições de higiene e saúde no local de trabalho deles”, afirma.
Na avaliação de Pires, o tema da contaminação nas minas de ametista precisa de mais atenção não somente dos governos, mas dos próprios trabalhadores. Ele defende que, para reduzir o índice de silicose no município, se invista mais em campanhas de prevenção e no aumento da fiscalização.
Para reduzir o problema, o presidente da Cooperativa dos Garimpeiros do Médio Alto Uruguai (Coogamai), Delmir Potrich, relata que, nos últimos anos, vêm sendo usado o sistema de perfuração das rochas a úmido. A técnica consiste em injetar água nos martelos usados para a extração, o que pode eliminar em quase 100% o pó de sílica. Segundo ele, os casos diagnosticados atualmente se referem a contaminações que ocorreram há pelo menos uma década.
“Nós temos agora um ambiente de trabalho onde os garimpeiros trabalham não tem mais o pó, que é o pó da sílica. Então, esse é o fator principal para resolver é mudar o sistema de perfuração a seco para perfuração a úmido”, explica.
Além da contaminação por pó de sílica, o estudo constatou que os trabalhadores enfrentam altas jornadas de trabalho e outros problemas de saúde em função da atividade, como ferimentos nos olhos por detritos, lesões na coluna e mutilação em acidentes com explosivos.
A silicose não tem cura, e a única solução apontada é o transplante de pulmão. Dados do governo do Estado indicam que pelo menos 70 habitantes de Ametista do Sul esperam por um órgão na fila. Conhecido como capital mundial da ametista, o município tem aproximadamente mil garimpeiros.
(Por Patrícia Benvenuti, Agência Chasque, 03/03/2008)