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arroio castelhano
2008-03-03

Arsélio Weiss e Ceceu Bogorny conheceram arroio quando a água ainda era limpa

Hoje o Castelhano é apenas uma sombra do que era há 40 anos. A água cristalina, povoada de peixes de todos os tamanhos, deu lugar a águas turvas, com margens desmatadas, onde por duas vezes centenas de peixes morreram por falta de oxigênio na água.

A situação do arroio, que fornece a água consumida em toda a cidade, preocupa a todos. Mas para quem cresceu nadando e pescando no Castelhano o sentimento é de tristeza. Venâncio-airenses hoje na casa dos 60 anos já não puderam passar as tardes com os filhos à beira do curso d'água, como é o caso de João Alceu Bogorny.

Ceceu Bogorny, como é conhecido, sempre viveu em Venâncio Aires e se criou nadando no Castelhano. Mas seus filhos já não puderam aproveitar as águas que antigamente refrescavam o verão dos moradores da cidade. “Comecei a sentir a poluição lá por 1967. Quando chovia, notava um cheiro forte, que devia ser do esgoto ou do curtume. Aí paramos de tomar banho lá”, lembra.

Da época em que brincava no arroio, Ceceu, hoje com 60 anos, não tem fotos, guarda apenas as recordações na memória. Aos sete anos ele conheceu o Castelhano, quando foi junto com uma olaria buscar barro para fazer tijolos. “Vi aquela água limpa, aí ninguém mais me prendia em casa”, ri. Além da água cristalina, onde “com água no peito a gente enxergava os pés”, no local os banhistas encontravam muitos peixes e animais nas margens.

Como há 60 anos poucos tinham acesso a piscinas, muitas pessoas iam se banhar no Castelhano ou acampar nas suas margens. Na preferência dos banhistas estavam os lugares mais fundos, chamados de poços ou banheiros. “Hoje em dia, se tivesse naquelas condições, estaria cheio de casa lá”, diz Ceceu.

Na sua juventude, Ceceu lembra que ficava eufórico com o horário de verão. “As tardes ficavam mais compridas e dava mais tempo pra tomar banho no Castelhano. Saía de lá murcho, de tanto ficar na água”, conta entre risos.

Vertentes
Há algumas décadas, lembra Ceceu, havia vertentes de água onde hoje é a cidade. “Venâncio tinha muita vertente. Onde tinha o transmissor da rádio tinha três. Tinha lugares com canos de 80 centímetros de altura que jorravam água”, afirma, lembrando que onde hoje é o estádio do Guarani também havia uma vertente.

A água subterrânea, além de divertir as crianças, que tomavam banho nas vertentes, abastecia as casas, como recorda Arsélio Weiss. Como não havia fornecimento de água tratada pela Corsan, as casas eram abastecidas por poços artesianos. “Quando a água do Castelhano era boa, nós tínhamos poço”, avalia com bom humor Arsélio, que veio para o município em 1955 e aprendeu a nadar no arroio.

Poluição
Há cerca de cinco anos, Ceceu voltou, acompanhado do irmão, ao Castelhano. Os dois fizeram uma caminhada na margem, com a intenção de lembrar dos tempos em que brincavam no local. “Não tinha mais nada pra relembrar, só umas árvores antigas. Está tudo poluído. É uma pena”, lamenta. Hoje, como no arroio “só dá lambari”, quando quer pescar Ceceu vai até o Jacuí. Mas lá, afirma, a pesca também não é muito boa. “Pescaria mesmo tem que ir para Argentina, para o Pantanal, porque aqui por perto não tem”, diz.

Agora, Ceceu tem esperança que a situação do curso d'água melhore com os projetos que estão sendo desenvolvidos, como o SOS Castelhano. Assim, há mais chances de as autoridades investirem na recuperação do arroio e da população se conscientizar da importância da água para a vida. “O grande erro foi botar o nome de planeta Terra. Talvez se pusesse planeta Água cuidariam mais da água”, conclui.

(Folha do Mate, 03/03/2008)


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