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sustentabilidade e capitalismo ética empresarial ativos sustentáveis
2008-03-03
Para o gestor, foco no longo prazo beneficia fundos de ações de empresas sustentáveis em momentos de crise

O ano passado, o Ibovespa, o mais tradicional e abrangente índice da Bolsa de Valores de São Paulo, teve valorização de quase 44%.  No mesmo período, o ISE subiu 40%.  No início deste ano, a comparação também foi desfavorável ao ISE.  O ISE é o Índice de Sustentabilidade Empresarial, formado por 40 ações de 32 empresas, cujo valor conjunto de mercado beira R$ 1 trilhão.

Em 2006, o primeiro ano em que o ISE foi registrado, as empresas politicamente corretas nas áreas ambiental e social haviam se saído melhor.  Sempre que houve descolamento do Ibovespa, o ISE levou vantagem.

A inversão do resultado do ano passado, porém, não é algo a que Pedro Bastos, 44, diretor-superintendente do HSBC Investments, atribua maior importância.  Responsável pela gestão de R$ 64 bilhões distribuídos por 370 fundos de investimento, Bastos considera que, como o mercado no Brasil ainda é pequeno e concentrado, oscilações desse tipo não refletem necessariamente uma tendência.  Ao contrário, esses fundos sustentáveis, também chamados de éticos ou verdes, se beneficiam de uma perspectiva de mais longo prazo e assim, sem serem imunes, resistem por mais tempo às crises.

Folha - A preocupação principal do investidor é fazer um bom investimento, não uma boa ação.  Por que ele deveria aplicar num fundo verde, já que no ano passado eles não foram tão bem quanto outros fundos de ações?

Pedro Bastos - Nenhum desses fundos tem interesse filantrópico.  Trata-se de investimento consciente em ativos sustentáveis.  São fundos que interessam ao investidor, não ao especulador que está pensando nos próximos três meses.  Estamos falando de ações de empresas que têm um programa de sustentabilidade no longo prazo.  Essa sustentabilidade não é só ambiental, tem também o lado social e de governança corporativa.  Nós acreditamos que no longo prazo essas atitudes vão agregar valor à empresa, que assim terá mais receita e lucratividade.

Folha - No curto prazo, no entanto, uma empresa com essa política não pode perder boas oportunidades, por exemplo, ao limitar o leque de fornecedores devido a exigências ambientais?

Pedro Bastos - No curto prazo não se consegue diferenciar esses dois tipos de empresas.  Imagine que duas empresas produzam papel.  Uma delas tem uma política irresponsável e devasta florestas virgens.  A outra investe em reflorestamento.  No curto prazo, os indicadores de lucratividade e rentabilidade da empresa irresponsável serão melhores, pois ela não está pagando pela matéria-prima.  Num horizonte de até seis meses, essa empresa é mais atraente.  Mas por trás disso existe um passivo gigantesco, muito maior do que a rentabilidade auferida.  Ou seja, o que foi um ganho de curto prazo vai se transformar numa perda de longo prazo.

Folha - Essa percepção é generalizada entre investidores?

Pedro Bastos - Os investidores institucionais, como os dos fundos de pensão, já se convenceram disso.  Eles compram ações para ficar com elas por períodos de três, cinco, dez anos.  Fazem isso baseados em conclusões de estudos acadêmicos, que demonstram que, no longo prazo, ganha-se mais com a manutenção de um bom investimento do que com a troca freqüente de posições.  É por isso que esse segmento de empresas com políticas ambientais e de governança estão captando muito dinheiro no mundo todo, principalmente de investidores institucionais.

Folha - Num cenário de incertezas como o atual, os fundos dessas empresas podem ter comportamento diferente da média?

Pedro Bastos - É difícil responder categoricamente.  No Brasil, o universo desses fundos ainda é muito pequeno, há apenas cinco ou seis fundos, e por isso não se consegue tirar uma conclusão significativa.  Empiricamente, é possível dizer que essas empresas que têm esse investimento adicional vão se

diferenciar, e isso se traduzirá em lucro.  Eu gosto de fazer uma analogia com os fundos de small caps, aqueles com ações de empresas com valor de mercado de até R$ 1,5 bilhão.  Isso porque esses fundos também atraem investidores que estão pensando mais no longo prazo.  E como eles reagiram à crise?  Num primeiro momento, foram mais defensivos do que um fundo normal, exatamente por atraírem investidores meio que cativos, com horizontes mais distantes.

Folha - Mas não dá para dizer que passaram ao largo da crise.

Pedro Bastos - Em momentos de crise, o gestor às vezes é obrigado a começar a vender papéis.  Quando se trata de uma correção temporária de preços esses fundos são menos afetados.  Mas se a crise é mais duradoura, como a que estamos vivendo agora, então, num segundo momento, esses fundos também começam a sofrer.  Ainda assim, têm condições de se recuperar mais cedo.

Folha - Passada a turbulência, quais seriam as perspectivas desses fundos, na comparação com outros fundos de ações?

Pedro Bastos - Esses fundos vão voltar uma rentabilidade adicional, maior do que a de um fundo normal de renda variável, na medida em que as pessoas começarem a perceber a importância do impacto das mudanças climáticas que estão acontecendo no mundo.  É só observar o que ocorre lá fora.  Há uma série de empresas de tecnologia e de energia alternativas que estão tendo um retorno muito acima do de outras empresas.

Folha - Várias empresas que têm políticas de sustentabilidade vão além do exigido pela legislação.  Isso significa que a legislação deveria ser mais rigorosa para generalizar essas políticas?

Pedro Bastos - Não necessariamente.  O importante é que o mercado regule essa demanda, que as empresas percebam que existe valor a ser criado pela própria sustentabilidade de seu negócio.  As empresas brasileiras estão muito avançadas em relação às da China, Rússia e Índia, por exemplo.  E as ações de empresas chinesas são muito mais caras: a relação entre preço da ação e lucro por ação, que se chama de P/L, é de 40 vezes na China, enquanto a média no Brasil é de 12 ou 13 vezes.  O que explica essa diferença é o potencial de crescimento, que na China é muito maior.  Bem, é certo que o crescimento do Brasil não é tão espetacular quanto o da China, mas é muito mais sustentável, porque um dia alguém vai pagar a conta do passivo chinês que está sendo criado na forma de desastre ambiental.

Folha - Qual o nível de transparência das empresas que dizem ter políticas ambientais corretas?  Os relatórios dessas áreas, por exemplo, não precisam ser auditados.

Pedro Bastos - A confiança é algo inerente ao mercado financeiro.  Não adianta querer sobrecarregar o mercado com exigências.

Folha - Mas uma auditoria não daria mais transparência?

Pedro Bastos - Não sei.  Eu sou um libertário econômico.  Acho que quanto menos regulamentação melhor.  A resposta a essa pergunta está no perfil do fundo que o HSBC deverá lançar no segundo semestre, depois que os mercados se acalmarem um pouco.  Teremos um analista especializado em questões socioambientais que visitará as empresas com freqüência.  Vamos acompanhar o desenvolvimento delas, ver se estão melhorando.  Esse novo fundo não será composto simplesmente das empresas que fazem parte do ISE.  O fundo será livre, poderá investir em ações de qualquer empresa.  Vamos acompanhar também empresas que estão fazendo um trabalho para atingir esse patamar.  É um universo de 50, 60 empresas.

Folha - O que esse fundo terá de diferente em relação aos que já existem no mercado?

Pedro Bastos - Hoje há conselhos formados em cada um desses fundos de investimento para avaliar relatórios apresentados.  Nós não vamos ter um conselho, vamos fazer um trabalho de análise constante.  Acho que seria inédito.  O intuito será alertar as empresas para aspectos que precisam ser mudados.  Feito o alerta, esperamos as mudanças, e se elas não acontecerem nós vamos eventualmente desinvestir desses papéis.

Folha - Como distinguir uma empresa que está apenas surfando na onda do ambientalmente correto daquela que tem uma política consistente?

Pedro Bastos - As empresas comprometidas têm uma política institucional que se sobrepõe aos negócios do dia a dia e que é valorizada dentro do grupo.  Essa política está embutida em seu DNA.  É isso o que temos que focar.  E essa avaliação é feita não só dentro da empresa, mas junto a fornecedores e clientes, ONGs e órgãos reguladores.  Precisamos saber se o que uma empresa diz está realmente sendo feito.

Folha - Num portfolio de renda variável, quanto um investidor deveria colocar em fundos sustentáveis?

Pedro Bastos - Não podemos perder de vista que o que está impulsionando o mercado acionário no Brasil é o impacto da demanda da Ásia.  Então, ações de empresas fornecedoras de commodities, como petróleo e minérios, têm que ter um peso grande numa carteira de investimentos.  Mas eu arriscaria dizer que o investidor poderia ter um terço de suas aplicações em renda variável nos fundos sustentáveis.

(Por Oscar Pilagallo, Folha de S.Paulo, FGV, 03/03/2008)

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