Plantio de sementes geneticamente modificadas avança e deve chegar a 90% da área nos próximos dois anosAdriana Patrocínio Sessenta e seis por cento de toda a produção baiana de soja é transgênica. O percentual equivale a 630 mil hectares, de um total de 960 mil plantados na safra 2007/2008. A Bahia já ultrapassou a média nacional (65%) e ocupa a quarta posição no país entre os estados que mais produzem o alimento geneticamente modificado, atrás apenas do Rio Grande do Sul (94%), Santa Catarina (87%) e Paraná (70%), e à frente de São Paulo (64%) e Minas Gerais (61%). A expectativa de produtores e analistas é de que, dentro de dois anos, o estado alcance o patamar de 90% de lavoura de soja transgênica.
A soja, como farelo ou óleo, está presente em boa parte dos alimentos industrializados, como massas, biscoitos, margarinas e maioneses. Embora sem comprovação, ambientalistas afirmam que a lavoura geneticamente modificada é prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente.
"A Bahia certamente terá mais de 90% de sua soja modificada dentro de um ou dois anos. Isso depende essencialmente de uma oferta maior de sementes, porque há bastante demanda. Acredito que a penetração dos transgênicos no estado será crescente com uma maior disposição de sementes adaptadas", afirma Anderson Galvão, diretor no Brasil do Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações de Agro-biotecnologia (ISAAA, na sigla em inglês) e sócio-diretor da Céleres, empresa de consultoria especializada em economia agrícola, realizadora do levantamento.
Segundo o executivo, a Bahia só não possui ainda um mercado de soja transgênica mais amplo porque antes não havia muitas variedades adaptadas à região, e porque os mercados da região Sul estavam mais abertos à tecnologia, tendo sido pioneiros na plantação das sementes modificadas. "A experiência diz que quanto maior o grau de informação, maior a aceitação da biotecnologia", comenta Galvão, ressaltando que o mercado de transgênicos será reforçado com a chegada do milho modificado, que foi recém-liberado e deve apresentar as primeiras variedades dentro de no máximo dois anos.
Desde que foi iniciado na Bahia, em 2003, o cultivo de soja transgênica vem crescendo a passos largos. Enquanto na primeira safra (2003/2004) a presença era de apenas 2% do total da lavoura, ou 17 mil hectares, no período seguinte (2004/2005) a semente modificada já ocupava 144 mil hectares (15,1% do total). Na safra 2005/2006, a participação dobrou: 32%, o equivalente a 279 mil hectares, numa área de 872 mil hectares, e em 2006/2007 chegou a cerca de 50% do total: 430 mil hectares em uma plantação de 852 mil hectares.
Algodão já ocupa 143 mil hectaresApesar de ser mais recente no território baiano, o algodão transgênico já tem atuação forte nas lavouras do estado. A Bahia, junto com o Mato Grosso, são líderes na produção do grão geneticamente modificado, com um índice de 46% cada um, do total da área plantada. Somente da última safra (2006/2007) para a atual (2007/2008), a presença do algodão transgênico no estado baiano triplicou, saltando de 44 mil hectares para 143 mil hectares.
O vice-presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) e também presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), João Carlos Jacobsen, destaca que uma das principais vantagens da soja transgênica é o aumento da versatilidade do plantio. "Com a soja modificada, por exemplo, os produtores ganham cerca de 15 dias no período do plantio, já que podemos plantar a semente sem precisar esperar dessecar o mato", aponta.
Jacobsen frisa ainda que hoje quase todo produtor do oeste baiano - região onde se concentra a maior parte da produção do estado - tem uma parte da lavoura formada por transgênicos. "Cada um faz sua escolha, mas o objetivo é sempre tornar o trabalho mais lucrativo e menos trabalhoso", observa, salientando que, com os transgênicos, os ganhos com produtividade e redução nos custos de produção no Oeste chegam a 10%.
Cultivo cresceu 30% no paísO cultivo de alimentos transgênicos cresceu 30% no Brasil entre 2006 e 2007, um índice superado apenas pela Índia (63%), segundo recém-divulgado relatório da ISAAA. A área cultivada aumentou em 3,5 milhões de hectares, o maior incremento absoluto em todo o mundo.
Apesar da expansão no cultivo e na área das lavouras, o Brasil manteve a posição de terceiro maior produtor mundial de culturas transgênicas - com 15 milhões de hectares de soja e algodão modificados geneticamente - ficando atrás apenas dos Estados Unidos (com 57,7 milhões de hectares plantados) e da Argentina (com 19,1 milhões de hectares).
Segundo a ISAAA - organização de origem americana sem fins lucrativos, patrocinada por grandes companhias como DuPont e Syngenta -, a área de cultivo de sementes transgênicas cresceu 12% em 2007 no globo, chegando a 114,3 milhões de hectares, o segundo maior crescimento em termos de área nos últimos cinco anos (12,3 milhões de hectares).
(Correio da Bahia,
FGV, 02/03/2008)