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desmatamento da amazônia operação arco de fogo madeireiras
2008-03-03
Assim como no Pará, madeireiros de Mato Grosso ameaçam com “revolta popular” se o governo deflagrar a Operação Arco de Fogo de combate ao desmatamento da Amazônia. No meio do conflito, estão milhares de trabalhadores pobres que vivem da destruição da floresta.

Os jornais de maior circulação do país divulgaram com destaque na sexta-feira (29/02) a ameaça feita ao governo federal pelos donos de empresas madeireiras que atuam em Mato Grosso. Estes advertem que, se for mesmo deflagrada no estado a Operação Arco de Fogo de combate ao desmatamento da Amazônia, certamente haverá reação violenta da população em municípios que têm a degradação da floresta como principal pilar de sua economia, casos de Sinop, Marcelândia e Alta Floresta, entre outros.

Há poucos dias, no Pará, uma “revolta popular” insuflada pelos empresários no município de Tailândia impediu que policiais e agentes do Ibama retirassem da cidade 15 mil metros cúbicos de madeira extraída ilegalmente que haviam sido apreendidos nos pátios de algumas de suas mais de 150 madeireiras, serrarias e carvoarias.

Em ambos os casos, a reação de alguns empresários que enriquecem devorando a Amazônia se apóia num importante e inquestionável fato social: a destruição da floresta é hoje o principal meio de subsistência para milhares de trabalhadores pobres nos municípios espalhados ao longo do chamado arco do desmatamento. Essa foi a realidade que colocou milhares de pessoas na rua em Tailândia e pode colocar novamente em Sinop ou Marcelândia.

Senhores da economia na região, os madeireiros não hesitam em manipular suas armas políticas para impedir a ação da força-tarefa coordenada pela Polícia Federal. Em Tailândia, após uma campanha massiva de comunicação para alertar a população sobre os malefícios da operação preparada pelo governo, os empresários, em ação orquestrada, demitiram duas mil pessoas que trabalhavam diretamente no setor madeireiro. Isso aconteceu exatamente na véspera do recolhimento da madeira que havia sido apreendida pelo Ibama. Até agora, segundo informação fornecida pelo prefeito, cerca de seis mil trabalhadores já foram demitidos em Tailândia, que tem cerca de 67 mil habitantes.

A coisa não deve ser muito diferente em Mato Grosso, onde os primeiros agentes da PF têm chegada programada para domingo (2/3). Em entrevista ao jornal O Globo, o dono da madeireira Madevale, que atua em Sinop, anunciou que, por conta da ação do governo, já demitiu 40 de seus 50 empregados: “O governo está impondo regras muito duras para a extração da madeira. Onde serão colocados os empregados que vão perder seus empregos?”, indaga, no mesmo tom de ameaça de seus pares paraenses.

Se quiser mesmo seriedade e eficiência nessa nova etapa do combate ao desmatamento da Amazônia, não resta dúvida de que o governo tem de ser firme e contundente na resposta aos madeireiros que decidirem partir para o confronto e para a manipulação dos trabalhadores. Também é evidente, entretanto, que os governos (aí incluo os estaduais) têm a obrigação de oferecer alguma alternativa econômica aos milhares de trabalhadores pobres que direta ou indiretamente tiram do desmatamento seu sustento e sobrevivência.

Caminhos para isso não faltam, mas é preciso que os governos tirem do papel alguns de seus diversos projetos que têm o objetivo de “dar maior valor econômico à floresta em pé do que à floresta derrubada”. Como medida emergencial, o anúncio feito pela ministra Marina Silva (Meio Ambiente) de que o governo pretende criar um mecanismo de auxílio-financeiro para os trabalhadores pobres da Amazônia que subsistem graças a sua participação em atividades ilegais parece ser uma boa opção.

Em médio e longo prazos, no entanto, é preciso dar a essa massa de trabalhadores rurais amazônicos a real possibilidade de tirar de forma digna seu sustento econômico da participação em projetos de desenvolvimento florestal sustentável ou de preservação da biodiversidade. Uma opção que certamente trará melhor retorno econômico do que simplesmente engrossar as fileiras de pessoas de baixíssima renda que servem aos “empresários” do desmatamento ou do tráfico de animais silvestres, entre outros criminosos ambientais.

(Por Maurício Thuswohl, Carta Maior, 29/02/2008)

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