A remota cidade de Tailândia, no Estado do Pará, no Norte do Brasil, passou rapidamente a simbolizar o conflito entre aqueles que vêem a Amazônia como um recurso sacrificável e aqueles que buscam conter sua rápida taxa de desaparecimento.
Os moradores da cidade fizeram protestos violentos na semana passada, em defesa das madeireiras locais, forçando a polícia estadual e os fiscais do Ibama, o órgão federal responsável pela proteção ambiental, a fugir de Tailândia após tentarem efetuar prisões e apreender a madeira cortada ilegalmente.
Nesta semana, a polícia federal, tropas especiais e fiscais do Ibama foram à cidade na primeira fase da Operação Arco de Fogo, a maior repressão ao corte ilegal na Amazônia.
Eles não eram bem-vindos. O corte de madeira, legal e ilegal, representa cerca de 70% da economia local. Pelo menos 6 mil trabalhadores foram demitidos desde que a polícia federal chegou e começou a fechar as operações ilegais.
Mas Álvaro Palharini, o delegado federal encarregado da operação, disse que seus homens permanecerão nesta e em outras partes da floresta até que as madeireiras ilegais sejam erradicadas de uma vez por todas.
"Nós acreditamos plenamente que pode ser feito", ele disse ao "Financial Times" em uma entrevista na semana passada. "Daqui um ano a taxa de desmatamento terá caído acentuadamente."
É uma afirmação ousada. Durante os últimos cinco meses de 2007 -normalmente uma baixa estação para corte de madeira -cerca de 7 mil quilômetros quadrados foram cortados, o equivalente a uma taxa anual de quase 17 mil quilômetros quadrados, em comparação aos 11.200 quilômetros quadrados de floresta desmatada durante os 12 meses anteriores.
A exploração de madeira tem um grande papel no desmatamento, mas não o maior. Até 70% é causado pela criação de gado, freqüentemente sustentável com o uso de métodos mais simples por apenas dois ou três anos, após os quais muitos pecuaristas queimam mais floresta.
A pressão também vem do avanço de plantações de soja e cana-de-açúcar, que afastaram a criação de gado em grande parte da região.
"A soja certamente tem um grande papel. Assim com o a taxa de câmbio", disse Daniel Zarin, professor de manejo florestal da Universidade da Flórida, que
está pesquisando o desmatamento, financiado pela Fundação Packard. A taxa de desmatamento aumentou fortemente em 2004, quando os preços da soja estavam aumentando e a moeda brasileira, o real, estava fraca.
De lá para cá, os preços da soja caíram, o real se valorizou e, talvez mais significativamente, o setor de carne do Brasil tem enfrentado uma série de
crises. O desmatamento diminuiu em conseqüência, mas na segunda metade do ano passado, com a recuperação dos preços dos alimentos, o desmatamento voltou a crescer.
Observadores também culpam a política pública, que encoraja assentados a desmatarem parte da floresta para mostrar que estão envolvidos em atividade
produtiva -uma defesa contra invasão de rivais sem-terra e um meio de obter incentivos do governo. Enquanto isso, a fiscalização notoriamente fraca
permite que muitos proprietários rurais e assentados ignorem as leis.
"A floresta não tem valor econômico quando está em pé", disse Paulo Moutinho do Ipam, um instituto de pesquisa ambiental da Amazônia, em Brasília. "E não há absolutamente nenhum controle de agentes ambientais ou de outros agentes do governo."
Marina Silva, a ministra do Meio Ambiente, rejeitou esses argumentos em uma entrevista na semana passada. Ela reconheceu que "políticos locais populistas freqüentemente encorajam as pessoas a enfrentarem os fiscais ou a desmatar".
Mas ela disse que uma repressão que levou a 650 prisões, incluindo a de autoridades supostamente corruptas, cerca de R$ 4 bilhões em multas e a apreensão de mais de 1 milhão de metros cúbicos de madeira desde 2003, esteve por trás da queda do desmatamento até meados do ano passado -e que o aumento subseqüente pode ter sido causado pelo tempo incomumente seco, que levou pessoas que deixariam para cortar madeira mais tarde a anteciparem suas atividades.
Palharini acredita que a Operação Arco de Fogo funcionará, ao reimpor a lei nas regiões remotas. "A simples presença do Estado impedirá as pessoas de colocarem madeira nos caminhões e transportá-las pelas estradas", ele disse. "Normalmente, o Estado não pode estar presente em todo o Brasil. O país é tão grande que em algumas regiões a presença do Estado mal existe."
(
Midia Global, 02/03/2008)