Durante encontro ontem (28) entre lideranças locais, deputados e agentes da Operação Arco de Fogo, não faltaram críticas às ações de fiscalização implementadas em serrarias e madeireiras na cidade.
Uma das manifestações mais duras partiu de Ademar Farias, comerciante de 60 anos que vende e aluga máquinas para madeireiras. Ex-combatente das forças militares da guerrilha do Araguaia em 1972 e 1973, ele está em Tailândia há 18 anos. E responsabiliza os órgãos de governo por ilegalidades encontradas na cidade.
“Dizem que tem mais de 50 mil metros cúbicos de madeira ilegal aqui, mas isso não entra num pátio de uma hora para outra. Quer dizer que alguém era conivente com isso há mais tempo”, disse Farias.
Na visão do comerciante, a origem da madeira encontrada nos pátios das serrarias locais é muitas vezes ilegal porque os agentes de governo não agilizam os projetos de manejo. “Parece que as entidades deixam a gente na ilegalidade para poder corromper”, afirmou Farias, sob aplausos de conterrâneos.
O dinheiro gasto pelo governo estadual com a retirada do material apreendido também foi questionado por Farias: “A governadora devia pegar esse dinheiro que está pagando o frete, deixar a madeira aqui, leiloar e juntar tudo para gerar emprego.”
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foi representado no encontro pelo coordenador de fiscalização na Operação Arco de Fogo, Bruno Versiani, que disse promover apenas o estrito cumprimento da lei na região, onde estaria em expansão um processo de desertificação provocado pelo desmatamento.
“Estamos aqui cumprindo a lei, tomando paulada, mas tentando reverter este processo”, afirmou, ao acrescentar que os períodos secos na Amazônia estão cada vez mais longos.
Versiani disse concordar com as reclamações da população, de que a fiscalização poderia ser precedida de outras ações do Estado, mas lembrou que não cabe ao Ibama essa decisão. Ele reconheceu, por exemplo, que a indefinição de questões fundiárias dificulta a fiscalização ambiental. E ainda prometeu que o órgão não cometerá abusos na região.
“Não queremos prejudicar ninguém. Temos bom-senso na hora de aplicar sanções. Adoro chegar numa madeireira e não dar multa, ver a empresa regularizada”, ressaltou.
Após 15 dias em Belém, o prefeito de Tailândia, Paulo Jasper (PSDB), o Macarrão, voltou à cidade para a reunião e disse estar negociando a ida de deputados para verem de perto os reflexos da Operação Arco de Fogo no município. “Procurei não dar declaração à imprensa para se construir pontes e resolver o problema de forma inteligente. Palavras e conversas fiadas é muito fácil”, alegou Macarrão.
Mais cedo, na porta de sua casa, o prefeito havia promovido a distribuição gratuita de 3.500 cestas básicas, adquiridas com dinheiro da prefeitura, como foi confirmado pela mulher dele, Hígia Frota, secretária de Ação Social do município.
(Agência Brasil, 29/02/2008)