O comércio global de créditos de carbono deve aumentar 56% neste ano devido à rigidez imposta pela União Européia no principal programa de combate aos gases do efeito estufa, prevê a consultoria norueguesa Point Carbon.
Os analistas prevêm que sejam comercializadas 4,2 bilhões de toneladas de CO2 equivalente em 2008, enquanto que no último ano foram negociadas 2,7 bilhões de toneladas. Nos preços atuais, isto representaria cerca de 63 bilhões de euros (US$ 92 bilhões).
"Há diversas razões para esperarmos este crescimento. A mais importante, o estreitamento das cotas de emissão para a fase 2 do Esquema Europeu (EU ETS) deve aumentar o volume de comércio comparado com 2007, simplesmente porque mais atores irão demandar permissões. O pacote de energia e clima da União Européia proposto em 23 de janeiro fortaleceu este encolhimento", diz o gerente da equipe de Pesquisas de Mercado de Carbono da Point Carbon, Kjetil Roine.
O gerente de implementação de projetos da Ecosecurities, Pablo Fernandez, concorda com as previsões e diz que este crescimento está ligado também às boas perspectivas para os projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), já que juntos, MDL e EU ETS, representam cerca de 95% do mercado global. "Isto explica um ano tão promissor e também porque o mercado vem crescendo em uma velocidade muito maior do que o esperado", diz.
Fernandez destaca que estas previsões não estão relacionadas necessariamente ao aumento nos preços e sim, principalmente, a uma maior liquidez do mercado, com as empresas européias tentando aproveitar as melhores oportunidades no EU ETS. "Além disso, há uma maior dificuldade de atingir as metas com a rigidez imposta", afirma.
A segunda fase do mercado europeu é baseada em dados consistentes dos emissores, explica a analista sênior da Point Carbon, Tiffany Potter, significando que mais usinas energéticas, fabricantes de concreto e outros atores precisarão comprar créditos para alcançar as metas mandatárias de emissões. Como o mercado se estreita, isto pode levar a maior especulação por parte dos banqueiros e fundos hedge, disse.
No ano passado, o volume de créditos negociados já havia registrado uma alta de 64% e, em valores, subindo 80%, passando de 22,5 bilhões de euros em 2006 para 40,4 bilhões de euros em 2007. "O mercado está se alterando de um estágio de recém-nascido para o de um novato", disse Potter por telefone à agência Reuters.
MDL
Os números da Point Carbon também mostram que os países em desenvolvimento continuam a entregar reduções. O mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) viu transações de 947 milhões de toneladas em 2007 nos mercados primários e secundários, produzindo um valor combinado de 12 bilhões de euros (US$17bilhões).
O grupo de analistas espera um encolhimento do mercado primário de MDL e um forte crescimento das transações do secundário. O volume total previsto para o mercado de MDL em 2008 é de 1,2 bilhões de toneladas de CO2e, valendo 15 bilhões de euros (US$22bilhões) nos valores atuais.
Fernandez lembra que o MDL está entrando no quarto 'ano de vida', com os primeiros créditos sendo emitidos somente em 2006. "Agora temos muitos mais projetos operando e gerando créditos", diz. No ano passado foram 280 milhões de toneladas negociadas e, se as previsões se tornarem realidade, o mercado de MDL será multiplicado por cinco em 2008.
O Brasil continuará perdendo mercado para a China e Índia, segundo Fernandez. "O que já estava dentro do esperado", ressalta.
"Se olharmos estudos de 2001 a 2003 que tentavam prever o mercado de carbono, vemos a seguinte participação dos 'players': Brasil com 8 a 12% do mercado, China com 40 a 60% e Índia com 25 a 45%. Esta previsão, por incrível que pareça, está se concretizando", diz.
Segundo ele, o Brasil naturalmente já tem um potencial muito menor, principalmente devido a matriz energética limpa. Porém, alguns problemas continuam inibindo os investidores. "As incertezas estruturais, como clareza dos documentos e prazos necessários para emissão de autorização da DNA (autoridade nacional designada), dificultam um pouco", explica.
A Point Carbon ainda prevê volumes para novos mercados. Dez estados no noroeste dos Estados Unidos, que integram a Iniciativa de Gases do Efeito Estufa Regional (RGGI, na sigla em inglês), começarão a regular o dióxido de carbono em usinas energéticas a partir de 2009, mas o desenvolvimento do comércio já começou. Além disso, há o mercado de permissões de emissões da União Européia (AAUs, na sigla em inglês) e comércio de compensações para esquemas federais futuros de cap-and-trade (metas e comércio) nos EUA, Austrália e Canadá.
No total, os analistas prevêem que os mercados fora do EU ETS e MDL irão valer 1,5 bilhões de euros (US$ 2,1bilhões) em 2008. "Nós vemos novos esquemas de comércio de emissões se desenvolverem no mundo, contribuindo para um movimento no mercado de carbono global em 2008", comenta Roine.
(Por Paula Scheidt,
CarbonoBrasil, 28/02/2008)