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segurança alimentar alta no preço dos alimentos
2008-02-29
O aumento dos preços internacionais dos grãos e de outros produtos alimentícios preocupa a China. As autoridades temem que a crescente demanda nesse país, o mais populoso do planeta, force ainda mais a tendência à alta e dispare a inflação interna. O problema se agrava diante do avanço das plantações destinadas à produção de biocombustíveis, em detrimento da produção de alimentos, e pelas ameaças que acompanham o aquecimento global. A China encontra-se em meio a um duro debate sobre o futuro de sua segurança alimentar, pois deve alimentar mais de um quinto da população mundial e conta apenas com um sétimo das terras cultiváveis do planeta.

Desde que o militante ambientalista norte-americano Lester Brown fez em 1995 suas apocalípticas previsões baseadas na crescente necessidade de alimentos da China, esse país enfrenta acusações de que poderia provocar uma escassez de comida nos países mais pobres. Até o momento, a receita das autoridades chinesas para ratificar sua política de auto-suficiência alimentar se baseia em gigantescas colheitas em lugar de recorrer às importações em grande escala. O volume da produção agrícola aumenta sem interrupção desde 2004. Atingiu os 500 milhões de toneladas no ano passado, incluindo arroz, trigo, milho e soja.

A China não alimenta a alta dos preços internacionais do trigo, na verdade é um importante fator de estabilização”, disse Ding Shengjun, funcionário da Administração Estatal de Grãos. Sua declaração foi uma resposta às especulações de que os grãos seguiriam a espiral ascendente dos preços do petróleo. A insaciável sede chinesa por hidrocarbonos é um dos fatores que contribuiu para disparar o preço do petróleo até chegar quase aos US$ 100 por barril de 150 litros. Ding argumentou que a tendência da China mostra que ano a ano aumenta o produto agrícola, que existe uma balanceada relação de oferta e demanda, maiores reservas e moderados aumentos estruturais no preço dos grãos. Isto, assegurou, contrasta com a redução global da produção e das reservas.

Ding afirmou, inclusive, que Pequim aceitou pequenas quantidades de importações para diversificar sua oferta interna, embora mantendo-se auto-suficiente. Mas, analistas locais estão preocupados com a crescente dependência em importações de soja para atender a demanda interna. A China se converteu no maior comprador de soja e óleos vegetais, devido ao consumo cada vez maior de carne por parte de uma população que melhorou seus níveis de renda. Antes de 1995, este país era exportador de soja, mas no ano passado comprou 30 milhões de toneladas desse grão, que utiliza para alimentar o gado. A demanda reflete a mudança na dieta devido à prosperidade.

Esta tendência aumentou o consumo de grãos, ao ponto de se especular que o país deverá importar milho no curto prazo. São necessários quatro quilos de grãos deste produto para produzir um quilo de carne. “Creio que existe uma crise da soja, que está afetando a segurança alimentar e poderá ser perigosa para o equilíbrio da economia em seu conjunto”, disse Liu Chaoyang, analista dos mercados agrícolas. “Devido à excessiva dependência do país das importações de soja, a taxa de auto-suficiencia já não está em 95%, mas em torno dos 90%”, acrescentou.

Para promover essa auto-suficiência, Pequim jogou no lixo a política de cobrar impostos dos camponeses, iniciada há dois mil anos. Agora lhes entrega sementes e fertilizantes a preço subsidiado. Em resposta aos maiores preços internacionais e às preocupações com a inflação interna, Pequim aumentou as retenções das exportações e impôs cotas em uma variedade de grãos e farinhas, em dezembro. Porém, devido ao aumento dos valores da comida, os preços ao consumidor tiveram em janeiro um aumento inter-anual, em relação ao mesmo mês de 2007, da ordem de 7,1%, o mais alto dos últimos 11 anos.

O panorama alimentar foi complicado por devastadoras tempestades de neve que causaram a morte de gado e prejudicaram as colheitas. Os preços dos alimentos, em parte por causa desse fato, aumentaram 18% neste ano, enquanto na Indonésia e no Paquistão chegou a 13% e na América Latina a 10%. A maldição dos altos preços e os desastres naturais ocorre em uma época de rápidas perdas de terras cultiváveis, que leva alguns analistas a falar da “luta” global pela terra.

Embora, teoricamente, Pequim controle a superfície destinada à produção de biocombustíveis, na última década o país perdeu 5,5% de suas terras de cultivo para a desertificação e a expansão industrial. “Passaram-se quase 14 anos desde que Brown disparou o alarme sobre as limitações da China a respeito de sua disponibilidade de terras, mas suas advertências continuam válidas”, disse Song Yanming, membro da Associação Nacional do Setor de Grãos.

Alguns analistas alertam que, embora a China tenha conseguido manter um equilíbrio entre a oferta e a demanda de suas principais colheitas de grãos, como trigo, arroz e milho, as crescentes importações de soja podem quebrar este precário equilíbrio. Alguns especialistas inclusive sugeriram que Pequim deveria empregar suas enormes reservas de divisas, de aproximadamente US$ 1,5 bilhão, para comprar soja no mercado internacional e aumentar seu estoque de 50 milhões de toneladas, o equivalente a um ano de consumo interno.

(Por Antoaneta Bezlova, IPS, Envolverde, 28/02/2008)


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