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exploração de petróleo
2008-02-29
O preço do petróleo bruto dobrou, saltando em um período de meses de US$ 50 para US$ 100. O aumento não pode ser atribuído aos fatores fundamentais, que pouco mudaram. E a perspectiva de recessão deveria empurrar o preço para baixo. Sendo assim, por que o petróleo está ficando mais caro?

Cushing é o tipo de lugar no qual você esperaria ver um caubói surgir cavalgando na esquina e, a seguir, amarrar o cavalo em uma cerca em frente ao Bar Buckhorn. Esta sonolenta cidade de 8.000 habitantes nas pradarias de Oklahoma possui até uma rua principal que poderia servir como cenário de um filme de faroeste. Entre as suas maiores atrações estão uma estação de trem fechada e um cinema mal conservado, onde o preço da entrada é US$ 1,50.

Robert Felts, um velho amigável que trabalha para a Autoridade Industrial de Cushing, gosta de mostrar aos visitantes a histórica bomba de petróleo no meio da cidade. Ele conta como, em 1912, um gigantesco campo petrolífero foi descoberto ali perto, fazendo com que Cushing aparecesse nos mapas e proporcionando à cidade mais de duas décadas de prosperidade. Naquela época brotavam da terra até 50 milhões de barris de petróleo por ano. "As nossas refinarias mal podiam dar conta dessa abundância", afirma Felts. Para resolver o problema, os barões do petróleo da época construíram grandes tanques de armazenagem na pradaria que cerca a cidade.

Não existe muito mais a se falar sobre esta pequena cidade de Oklahoma, a não ser a produção de petróleo. Mas as notícias referentes a Cushing fazem com que os mercados globais se movimentem todas às quartas-feiras às 10h30. É neste horário que o governo dos Estados Unidos anuncia um número que reflete a quantidade de petróleo armazenado nos centenas de tanques que atualmente estão espalhados por vários quilômetros ao longo do horizonte.

Localizada em uma interseção crucial do sistema norte-americano de oleodutos, Cushing abriga a maior instalação dos Estados Unidos para armazenagem de petróleo. O petróleo comercializado no New York Mercantile Exchange (Nymex) literalmente muda de donos aqui em Cushing. Se os tanques estiverem cheios, os preços caem. Mas se os níveis dos tanques diminuírem, os preços aumentam. Uma regra básica para os negociantes: a oferta e a procura controlam o mercado.

Normalmente isso ocorre independentemente de qualquer índice. Mas nos últimos meses a sabedoria convencional sofreu uma virada. No intervalo de um ano o preço do barril de petróleo bruto dobrou, passando de US$ 50 para o máximo registrado na semana passada de US$ 100. Agora nada parece impossível. Alguns analistas acreditam que os preços aumentarão até um patamar entre US$ 120 e US$ 150, algo que teria conseqüências drásticas para a economia mundial.

Aumentos de preços espetaculares similares a este só ocorreram quatro vezes nas últimas décadas: em 1973, quando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) impôs um embargo pela primeira vez; em 1979, como conseqüência da Revolução Iraniana; um ano mais tarde, quando o Iraque invadiu o Irã; e em 1990, quando o Iraque invadiu o Kuait.

E isso remete a uma das questões mais perturbadoras que está sendo feita atualmente a respeito da economia mundial: por que motivo os preços do petróleo estão novamente disparando?

Tudo não passa de especulação
Existem muitas respostas. Alguns afirmam que a crise no Oriente Médio e a demanda crescente por parte da China são os fatores responsáveis. Outros culpam os países produtores por manterem as torneiras de petróleo semi-fechadas.

Mas nenhuma dessas respostas é muito convincente. "A oferta e a procura são incapazes de explicar os preços elevados", afirma Fadel Gheit, da Oppenheimer & Co., uma importante firma de análise de commodities. Assim como muita gente na sua profissão, Gheit acredita que os investidores financeiros estão inflacionando os preços. O fenômeno faz com que ele se lembre da bolha da Internet presenciada por volta da virada do milênio. Segundo Gheit, no momento o petróleo também está passando por "especulação excessiva".

A Opep chegou à mesma conclusão. "As bases do sistema estão corretas", assegura o presidente da Opep, Mohammed al-Hamli. De fato, o cartel está esperando um excesso de oferta no mercado desde o início de fevereiro - como resultado da crise econômica norte-americana.

Esse excesso de oferta normalmente faria com que o preço do barril diminuísse. Em vez disso, os negociantes acabam de ultrapassar a barreira mágica dos US$ 100 pela segunda vez em um período de poucas semanas.

O clima é de festa entre os barões do petróleo, que não parecem estar impressionados com os temores de que haja uma recessão global. Recentemente a Exxon Mobil divulgou os seus lucros em 2007: US$ 40,6 bilhões, um recorde para a maior companhia petrolífera do mundo, e também para história econômica internacional. Nunca antes uma companhia ganhou tanto dinheiro em um ano.

Enormes quantidades de dinheiro estão atualmente trocando de mãos na área de contratos de petróleo. Com a crise hipotecária norte-americana contaminando segmentos ainda maiores dos mercados de capital, das ações aos títulos, os investidores estão procurando alternativas em todo o mundo. O petróleo, com as suas supostamente rígidas regras de mercado e os preços sempre em ascensão, parece ser um instrumento perfeito para desconcentrar os riscos e maximizar os lucros. Mas muitos investidores experimentarão um despertar brusco quando descobrirem que um investimento em petróleo, embora pareça diferente, tem o mesmo caráter de aposta inerente a outros tipos de investimento.

O Nymex é a arena central no jogo de comércio de produtos como o petróleo. Durante cem anos os comerciantes daqui, na extremidade sul de Manhattan, às margens do Rio Hudson, comercializaram produtos como manteiga, queijo e batatas - até que perceberam, em 1978, que o futuro estava no petróleo.

O espaço onde são realizados os negócios do Nymex assemelha-se a uma arena romana. Os comerciantes, de pé nas galerias, gritam, gesticulam e dedicam-se a um ritual quase arcaico. Quando dois deles chegam a um acordo quanto a um negócio, escrevem os números básicos em um pedaço de papel e que é jogado no centro do salão, onde encontra-se um funcionário robusto, usando óculos de proteção para evitar que os pedaços de papel dobrados que cruzam o ar provoquem acidentalmente ferimentos nos seus olhos. Quando ele pega um desses pedaços de papel e o carimba, inúmeros barris de petróleo já mudaram de dono.

"Eu negocio de acordo com as notícias", afirma Chris Motroni, 29. Ele ganha o seu dinheiro como negociante pequeno e independente no Nymex, com negócios menores e bastante autoconfiança. "O preço subirá para US$ 115", garante Motroni. Ele adora o clima do salão de negócios, onde o pai e o irmão também trabalharam. Mas os dois deixaram de negociar faz muito tempo.

O mesmo vale para os grandes protagonistas, os bancos, os fundos de hedge e os fundos de pensão. Atualmente todos eles negociam através de computadores. Os negócios no Nymex explodiram. O mundo consome 86 milhões de barris de petróleo por dia, mas o volume de negócios é 15 vezes maior. A diferença entre os dois números representa as apostas nas tendências de preços futuros.

As atividades dos negociantes têm gerado críticas contundentes, até mesmo no Congresso dos Estados Unidos, que não é exatamente famoso como inimigo da indústria petrolífera. Uma audiência parlamentar em dezembro tinha o título nada sutil: "A Especulação no Mercado de Petróleo Bruto".

O resultado de todo esse comércio é que os especuladores atualmente detêm até 45% de todos os contratos de petróleo - o triplo do que possuíam na virada do milênio. "Os preços estão sendo distorcidos", critica o senador Carl Levin, o democrata que chefia o Subcomitê Permanente de Investigações, que está investigando o comércio especulativo dos contratos futuros de petróleo. Se a oferta e a demanda fossem os únicos fatores envolvidos na equação, o preço do petróleo seria pelo menos US$ 20 menor.

Como foi que isso aconteceu?
Uma das dez maiores companhias do mundo no setor de comércio de petróleo, a Mercuria, tem a sua sede na Place du Molard, em Genebra, na Suíça. De lá, 70 funcionários analisam o mercado, lidando com fatores como as rotas dos navios petroleiros e os níveis das reservas. Anualmente fluem pelas contas da companhia US$ 30 bilhões.

O diretor-executivo Daniel Jaeggi, que já foi negociador de títulos futuros no Goldman Sachs, sabe exatamente como era o negócio no final dos anos noventa. "Os grandes fundos de pensão passaram a diversificar os seus investimentos, orientando cada vez mais o seu capital para o petróleo", diz ele. "Os fundos de pensão tornaram-se o fator que direciona o mercado".

Os bancos de Wall Street estavam muito satisfeitos em lidar com essa demanda, e o Goldman Sachs postava-se à frente do grupo. "Eles inventaram um novo índice de mercadorias que também incluía o petróleo", explica Jaeggi. O novo índice teve um enorme sucesso, e quanto mais os investidores colocavam dinheiro nele, mais contratos de petróleo o Goldman comprava, e mais os preços subiam. Assim, criara-se uma enorme força de mercado.

Ninguém perdeu tempo em entrar no jogo. O Morgan Stanley, o Deutsche Bank e vários outros gigantes da área financeira expandiram drasticamente o volume dos seus negócios em contratos de petróleo. Bancos de investimento como o Goldman chegaram até mesmo a criar as suas próprias reservas de petróleo, agindo como se fossem companhias petrolíferas como a BP. Com isso eles esperavam garantir melhores previsões sobre os acontecimentos do mercado.

Como resultado, o volume de comércio do petróleo bruto quase triplicou nos últimos cinco anos, enquanto a demanda pelo produto em si cresceu apenas 1,9% ao ano.

Adeus à lei da oferta e da procura
No passado, tudo o que importava no setor de comércio de petróleo era o volume da produção e o consumo das nações industrializadas. Tal época acabou. Atualmente o petróleo faz parte de todas as carteiras de títulos negociáveis bem estruturadas - assim como ocorria, até recentemente, com aqueles papéis negociáveis abstratos que tinham como objetivo possibilitar que o investidor garantisse para si uma fatia da prosperidade explosiva do setor imobiliário norte-americano.

Mas nada é mais como era antes nos mercados de commodities. Atualmente até mesmo a mais insignificante notícia - como o encontro não violento entre belonaves dos Estados Unidos e lanchas iranianas no Estreito de Hormuz, em janeiro - é capaz de fazer com que os preços do petróleo disparem.

Enquanto isso, a situação em Cushing ainda é capaz de manter os negociantes atentos. Digamos que a neblina paralise o porto de Houston por alguns dias, de forma que uma quantidade insuficiente de petróleo estrangeiro novo flua pelos oleodutos norte-americanos. As reservas nos tanques de Oklahoma diminuirão, e o gargalo da oferta catapultará os preços para cima. Ou imaginem que a Refinaria McKee, no Texas - uma grande compradora de petróleo - interrompa parte das suas atividades devido a um incêndio. As reservas em Cushing aumentarão, e os preços cairão.

Estranhas distorções de preços são bem normais. Todas as reservas de petróleo dos Estados Unidos há muito se mantêm acima da média de cinco anos - mas, devido a razões históricas, os preços nos mercados de commodities se baseiam apenas nos níveis dos tanques em Cushing, e no tipo de petróleo estocado neles, o West Texas Intermediate.

"É impressionante que um tipo de petróleo do qual se produz apenas cerca de 300 mil barris diários funcione como padrão para o mundo inteiro", afirma Eugen Weinberg, um analista do Commerzbank, da Alemanha. Ele acredita até mesmo que os operadores do mercado "tentem influenciar" as cruciais estatísticas de Cushing "por meio de ações focadas".

Por outro lado, os modelos clássicos praticamente não desempenham mais papel algum quando se trata de explicar o preço do petróleo. O fato de as relações com o Irã terem melhorado um pouco, ou de estar havendo melhorias discretas no Iraque, não interessa aos negociantes. Eles atribuem alternadamente as alterações do preço do petróleo às crises no Oriente Médio, ao inverno, à convulsão social na Nigéria e à demanda explosiva na China.

"Nada disso é novidade", afirma Fadel Gheit. "Desde os tempos bíblicos não há paz no Oriente Médio. E o conflito na Nigéria também se arrasta há 40 anos. Isso para não mencionar o retorno cíclico do inverno".

Gheit está no ramo há 30 anos. Ele trabalhou para a Mobil Oil e para o JP Morgan antes de ingressar na Oppenheimer. Ele recorda-se de quando o barril de petróleo custava US$ 9. Nas audiências no Congresso dos Estados Unidos, Gheit atuou como testemunha, confirmando a loucura dos especuladores. "Os negociantes usam todas as desculpas possíveis para provocar aumentos de preço", diz ele. "Trata-se de histeria pura". Em certas manhãs, quando Gheit chega ao seu escritório em Manhattan, os negociantes de Londres inflacionaram o preço do barril em US$ 4 durante a noite, talvez porque um oleoduto rompeu-se em alguma parte do mundo. "Sou formado em engenharia", diz Gheit. "Essa atividade não é cirurgia cardíaca. É trabalho de encanador, brincadeira de criança". O oleoduto avariado provavelmente foi consertado antes mesmo que Gheit descobrisse algo sobre o fato - mas o conserto só foi feito depois que os especuladores embolsaram os seus lucros.

A questão é saber quanto tempo esses preços continuarão subindo sem causar um estrago permanente nas economias dos Estados Unidos e do mundo. Os preços crescentes da gasolina, do óleo combustível utilizado para aquecimento e das passagens aéreas aumentarão as pressões inflacionárias e reprimirão a demanda no médio prazo. "No fim das contas veremos algo como a gota que faz o copo transbordar", afirma Gheit, que é nativo do Egito. "Ou como um halterofilista levantando um grande peso, até que alguém coloque um lápis em cima do haltere e ele se esborrache no chão". "Isto é uma bolha", insiste ele. "E ela estourará".

(Por Beat Balzli e Frank Hornig, Der Spiegel, tradução UOL, 29/02/2008)




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