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2008-02-29
'Barragem' não estava prevista no projeto do Rodoanel; Estado promete retirá-la, mas ambientalista duvida

A mudança de método construtivo de uma ponte de 1.800 metros de extensão do Trecho Sul do Rodoanel aterrou cerca de 30 mil metros quadrados da Represa Billings, entre a Ilha do Bororé, na altura do Jardim Miami, em São Bernardo do Campo, região do ABC paulista, e a outra margem, no território da capital. No dia 23 de novembro, o Estado havia mostrado que duas estradas de terra paralelas, com 300 metros, foram construídas para o transporte de um bate-estacas. Na época, segundo a Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), as duas intervenções estavam previstas no Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto no Ambiente (EIA-Rima). Desde o início deste mês, o espaço passou a ser preenchido com terra, mas essa alteração não consta do projeto.

O aterramento criou uma barragem na represa, não citada no EIA-Rima, feito antes do licenciamento da obra pelo Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental (Daia), órgão da Secretaria de Estado do Meio Ambiente. "O relatório não previa essa barragem. Não aceitaríamos, se estivesse no texto", disse Carlos Bocuhy, integrante do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) e diretor do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam). O estudo previa maior vão livre entre as estacas de sustentação da ponte e menor impacto possível ao ambiente.

Bocuhy acredita que a barragem não será removida. "Se essa terra for retirada, o que duvido, movimentará o sedimento que está no fundo. O lodo está contaminado com metais pesados, mercúrio e até organoclorados (substâncias que contêm carbono e cloro) depositados durante três décadas de bombeamento da poluição pesada da indústria de São Paulo desde o Rio Pinheiros."

De acordo com o engenheiro da Dersa José Fernando Bruno, responsável pelo licenciamento ambiental do Rodoanel, a mudança de método respeita o EIA-Rima e não provoca aumento de custos para o governo. "É claro que se gasta um pouco a mais para fazer a transposição dessa terra, mas não mexe no custo da obra." Ele afirmou que o Daia autorizou a modificação que provocou a criação da barragem.

Bruno disse também que a mudança de metodologia construtiva ocorreu porque a represa perdeu volume de água e a barca que sustenta o bate-estacas não podia navegar. A Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), segundo o engenheiro, baixou o nível da água em 1,6 metro e o aterramento foi a única saída para evitar que a obra ficasse parada. O objetivo do governo do Estado é inaugurar o Trecho Sul até 2010.

A Dersa promete a retirada da terra em 30 meses, quando a ponte for concluída. "Foram colocados tubos de 50 milímetros de diâmetro debaixo da água para manter mobilidade. E é feita análise da água todo dia", disse Bruno. "Optaram pelo método construtivo mais rápido e mais barato. Ninguém consegue acompanhar se as medidas compensatórias são cumpridas", disse Malu Ribeiro, coordenadora da Rede de Águas da Fundação SOS Mata Atlântica.

(Eduardo Reina, O Estado de São Paulo, 28/02/2008)


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