Novecentos milhões de toneladas. Essa é a quantidade estimada de areia que é transportada por ventos de desertos e outras regiões terrestres para os oceanos do planeta. Os cientistas suspeitam que esse fenômeno esteja relacionado com o clima global, mas exatamente como isso ocorre ninguém sabe.
Agora, boa parte do quebra-cabeça acaba de ser montado, com um estudo que será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Science. A pesquisa mostra que a quantidade de poeira que chega ao Oceano Pacífico atinge picos durante as eras do gelo, para declinar durante momentos mais quentes.
Segundo os autores do estudo, coordenados por Gisela Winckler, do Observatório Terrestre Lamont-Doherty da Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos, o trabalho confirma a teoria de que a umidade atmosférica e a poeira se movimentam em estreita conformidade com a temperatura, em escala global.
De acordo com os pesquisadores, os resultados podem ajudar no planejamento de estratégias que têm sido discutidas para tentar diminuir os efeitos do aquecimento global, como a de fertilizar os oceanos com poeira rica em ferro – que alguns cientistas apontam que poderia reduzir a concentração de gás carbônico na atmosfera e o efeito estufa.
Na última década, cientistas identificaram grande quantidade de poeira em amostras profundas de gelo polar, mas os registros do Pacífico se mostraram contraditórios. O novo estudo destaca a relação “e sugere que todo o ciclo hidrológico mundial varia em uníssono, em uma escala de tempo muito rápida”, afirmou Gisela.
“Dessa vez temos informações sobre áreas que realmente importam, nas quais pessoas vivem e onde provavelmente está o mecanismo real do clima”, disse a cientista. Estima-se que mudanças na atmosfera sobre o Pacífico, e nos trópicos em geral, afetem grandes áreas em todo o mundo.
Os cientistas analisaram amostras do interior de sedimentos do fundo do oceano que representam 500 mil anos de depósitos, em diversos pontos por uma extensão de quase 10 mil quilômetros de Papua-Nova Guiné às Ilhas Galápagos, no Equador.
Em todas as amostras foi encontrado o mesmo resultado: no auge de cada uma das cinco conhecidas eras do gelo o acúmulo de tório 232, um marcador da poeira terrestre, disparou para até duas vezes e meia os níveis verificados em períodos mais quentes. Os picos ocorreram aproximadamente a cada 100 mil anos, com o último há 20 mil anos, exatamente no auge da mais recente era glacial.
O artigo Covariant glacial-interglacial dust fluxes in the equatorial Pacific and Antarctica, de Gisela Winckler e outros, poderá ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.
(Agência Fapesp, 29/02/2008)