Empresa do grupo de Eike Batista oficializa investimento de US$ 1,4 bilhão em usina térmica em Candiota, confirma largada do projeto para breve e prevê início de operação até 2014
"Um dia histórico" foi a expressão mais usada ontem durante a assinatura do protocolo de intenções entre governo do Estado e MPX Energia para a construção de uma usina térmica em Candiota.
Para o Rio Grande do Sul, consolida a retomada da exploração de carvão. Para a companhia, "materializa o início do projeto", segundo seu presidente, Eduardo Karrer. Indagado se não há risco de frustração de mais uma expectativa dos gaúchos, Karrer foi enfático:
- Do nosso ponto de vista, não.
Depois de duas décadas de esperanças frustradas, o início das obras da Fase C de Presidente Médici e a disposição da MPX de iniciar "o mais rápido possível" o projeto de engenharia e a preparação do termo de referência para licença ambiental de Seival II apontam para uma arrancada efetiva da exploração das reservas gaúchas de carvão - 90% do total disponível no Brasil. Conforme Karrer, o prazo total de implantação é de quatro anos, com previsão de início das operações entre 2013 e 2014.
- O projeto de engenharia prevê dois módulos de 300 megawatts (MW), em princípio, construídos simultaneamente, mas pode ter um entrando em operação um pouco antes - detalhou o executivo.
Quanto ao valor do investimento, que gerou debates internos na MPX, Karrer afirmou que a previsão de US$ 1,4 bilhão é um "número indicativo, que será refinado ao longo do processo de detalhamento da engenharia". Uma das âncoras do projeto é a captação de recursos da MPX no mercado de capitais, que gerou R$ 2,035 bilhões.
No entanto, o presidente da companhia destacou que cerca de 75% do capital necessário à implantação da usina virá de financiamento, e os 25% restantes serão próprios.
- Queremos que esse seja o primeiro (projeto) de uma série para consolidar o Estado como pólo gerador de energia - observou o presidente da empresa.
Energia gerada vai para contratos de longo prazo
Karrer esclareceu que a geração de Seival II não ficará sujeita às variações do preço flutuante do mercado livre, formado em sua maioria por grandes indústrias. A usina fará contratos de longo prazo com os consumidores para dar sustentação ao projeto. Esse modelo, explicou o executivo, chamado de "autoprodução compartilhada", também oferece vantagens fiscais aos compradores de energia, que assim ficam livres de alguns encargos específicos do setor.
Entre as contrapartidas do Estado ao empreendimento, os secretários foram lacônicos. O titular da Secretaria do Desenvolvimento, Fernando Záchia, só adiantou que uma área de 150 hectares será negociada entre governo estadual e prefeitura para ser cedida à empresa. Conforme Záchia, em tese, Seival II poderia se habilitar aos incentivos do Fundopem e do Integrar, por se localizar na Metade Sul, mas em princípio o atual sistema de cobrança de tributos já transfere o pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para o consumidor.
- O Estado será parceiro da MPX em tudo o que for necessário para confirmar a grande conquista histórica que será a energia obtida com o nosso carvão - prometeu a governadora Yeda Crusius.
Tecnologia contra o efeito estufa
Mais de US$ 400 milhões do investimento total em Seival II serão direcionados a projetos de proteção ambiental. Temidas pela emissão de gás carbônico, principal responsável pelo efeito estufa, térmicas a carvão ainda são condenadas por ecologistas. Para responder a esse temor, o presidente da empresa, Eduardo Karrer, assegurou que serão usados os sistemas mais avançados de tecnologia limpa de queima do mineral.
Segundo Karrer, os novos métodos de geração obedecem aos padrões fixados pelo Banco Mundial, e reduzem não apenas emissões de óxidos de nitrogênio e de enxofre - causadores da chuva ácida - como de gás carbônico. O presidente explicou que instalar a usina em Candiota, onde a MPX já controla a Mina do Seival, em parceria com a Copelmi, dá competitividade ao projeto, que integra mineração, geração e venda.
Além do investimento na usina, os dois sócios vão aplicar US$ 100 milhões na mina. Dentro de seis meses, projetou o executivo, a MPX deve definir eventuais projetos complementares ao uso do carvão, como a utilização das cinzas resultantes da queima na indústria cimenteira.
Conforme o prefeito de Candiota, Marcelo Menezes Gregório (PMDB), durante a construção da usina a arrecadação de ISS deve se multiplicar por 10, enquanto o retorno de ICMS para o município crescerá 70% quando começar a operar. A projeção considera a redução de 50% da alíquota de ISS caso a empresa contrate pelo menos 50% de mão-de-obra local.
(Zero Hora, 28/02/2008)