O Nordestão no quintal ajuda com a conta de luz
O Nordestão litorâneo é um incômodo. Certo? Depende. Graças às correntes de vento que passam pelo litoral gaúcho, Irineu Felipe Flores Júnior, 42 anos, espera uma redução na conta de energia elétrica de sua farmácia em breve. O empresário de Imbé, no Litoral Norte, tem no quintal do seu estabelecimento uma turbina eólica – um cata-vento.
Com três hélices, a turbina fica no alto de um poste de 13 metros, suporta ventos de 180 km/h e gera 1 kWh. As baterias armazenam o suficiente para abastecer uma casa por 72 horas de uso contínuo, sem reabastecimento pelo vento.
Segundo Antonio Jorge Malheiros, 45 anos, responsável pela parte técnica do projeto, a redução no consumo de energia elétrica fornecida pela concessionária é de 80%, podendo chegar a 100%:
– A idéia é diminuir a dependência da concessionária e o custo. A estimativa é que o investimento seja recuperado em um ano.
O gasto com o sistema varia entre R$ 13 mil e R$ 23 mil. A instalação na loja de Júnior foi feita no dia 8 de fevereiro. Até agora, os computadores de caixa e as máquinas de cartões de crédito e débito são alimentadas pelo vento. A idéia é expandir a rede a todos os pontos de consumo do local.
Se depender do vento, energia não deve faltar.
– O vento aqui é violento. Às vezes o Júnior (proprietário) me liga dizendo: “ó... tá balançando aqui” – conta Malheiros.
O funcionamento do sistema é simples. A turbina alimenta o banco de energia onde estão as baterias e estas baterias fornecem a energia para o consumo.
– Além de ser econômica, é uma alternativa limpa e estabilizada. Na temporada, geralmente há um déficit de energia. Com as turbinas eu compenso isso – explica Júnior.
Outra vantagem do sistema é o fato de não ocupar muito espaço. Em uma área pequena é possível colocar a turbina. Segundo Malheiros, a altura é o fundamental para evitar as barreiras que impediriam a chegada do vento.
– Num prédio de apartamentos, por exemplo, se coloca no topo, ganhando em altura. Nós não temos problemas de licenciamento ambiental, por interferir no movimento das aves migratórias, por exemplo, pelo fato de não serem estruturas gigantes – explicou.
Na mira do projeto está a expansão para um tipo de parceria com as concessionária. O excedente produzido pelos usuários de energia eólica seria vendido para a concessionária e iria para a rede.
– Vai chegar uma hora em que, dependendo do caso, a pessoa vai ter crédito junto à concessionária em vez de receber uma conta – prevê Malheiros.
Vencida esta etapa, a idéia é oferecer os créditos de carbono da energia limpa produzida pelas turbinas eólicas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).
Apesar dos planos promissores, não se aconselha abandonar totalmente a rede da concessionária.
Afinal, ainda se trata de uma energia dependente das condições do tempo. Se o vento falhar, o abastecimento convencional entra como uma reserva.
Segundo Malheiros, uma casa com consumo mensal entre 200 kWh e 500kWh (conta entre R$ 87 e R$ 217), teria um investimento de R$ 12.790 para uma economia de 80% a 100% no uso da rede da concessionária. Para consumos mais elevados, de 5.000 kWh (R$ 2.174 na conta), o gasto é de R$ 23 mil.
(Por Guilherme Neves, ClicRBS, 27/02/2008)