A companhia de petróleo Shell advertiu que será necessário que a tonelada de carbono chegue a pelo menos US$ 100 por tonelada de CO2 - ou mais de três vezes o preço atual - para que a indústria comece a investir pesadamente nos milhares de esquemas de captura e armazenagem de carbono (CCS). Esses programas são necessários para reduzir as emissões de gases causadores de efeito estufa.
Jeremy Bentham, vice-presidente de ambiente de negócios da companhia, também exortou a União Européia (UE) a acelerar o ritmo das mudanças regulatórias e tomar decisões cruciais 'nos próximos cinco anos', que moldariam em grande medida o padrão de fornecimento de energia e de aquecimento global nas próximas décadas.
Os comentários do executivo foram feitos no momento em que o príncipe Charles, da Inglaterra, levava uma mensagem semelhante ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, dizendo aos membros presentes que líderes empresariais estavam à frente dos políticos e que 'o tiquetaque do relógio do juízo final da mudança climática estará se acelerando cada vez mais até a meia-noite'.
ESCALA
A Shell reafirmou a visão manifestada por muitos no meio empresarial de que o preço do carbono - a quantia que as companhias devem pagar por autorizações para emitir CO2 - precisava de mais certezas para serem feitos investimentos vitais num leque de tecnologias necessárias para reduzir a emissão de CO2. A captura de carbono foi uma das respostas encontrada para esse problema, mas ela precisa ser introduzida numa escala enorme em todo o mundo, juntamente com energias renováveis, de biomassa e outras.
A tecnologia necessária em seqüestro de carbono - pela qual o CO2 é injetado em espaços de armazenamento como velhos campos de petróleo do Mar do Norte - já existe, disse Bentham. Faltava agora o quadro regulatório certo e uma estrutura de preço com um preço do carbono 'acima de US$ 50 e abaixo de US$ 100 por tonelada', acrescentou. Perguntado se o preço deveria ficar mais perto de US$ 100, o executivo disse: 'Provavelmente.'
Para a Shell, a menos que sejam tomadas decisões nos próximos cinco anos, o setor de energia ficará 'enrascado' em todo um leque de tecnologias concorrentes, levando a oscilações de preço, volatilidade e incerteza.
A ação da União Européia, que estabeleceria um precedente para o resto do mundo, permitiria um avanço mais organizado, à medida que o petróleo fosse se esgotando e outras formas de combustíveis fossem assumindo o seu lugar.
Bentham disse que a UE precisa ser cuidadosa sobre como toma decisões, apontando para os potenciais danos ambientais de biocombustíveis de primeira geração. Ele disse que 'não era uma medida inteligente' a UE não distinguir tipos diferentes de biocombustíveis.
O vice-presidente da Shell negou, no entanto, que os cenários que delineou, com um papel grande e contínuo para os combustíveis fósseis, foram influenciados pelas necessidades de uma empresa com investimentos enormes em fontes de energia pesadamente poluentes.
(Terry Macalister, O Estado de S. Paulo, 27/02/2008)