A produção de polímeros como o plástico não dependerá mais do uso de petróleo e sim de matérias orgânicas renováveis, como a cana-de-açúcar. É o que propõe o acordo firmado nesta quarta-feira, 27, entre a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e a Braskem, empresa brasileira líder do setor petroquímico.
O acordo prevê investimentos da ordem de R$ 50 milhões ao longo dos próximos cinco anos para desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas. O objetivo é incentivar o avanço do conhecimento para a obtenção de monômeros e polímeros (utilizados na produção de plásticos) a partir de matérias-primas renováveis, como açúcares, etanol e biomassa.
O governador José Serra destacou que a idéia é encontrar um substituto para os insumos de origem fóssil dentro do processo de produção da indústria petroquímica. “Portanto, esse programa tem uma importância ambiental grande, no sentido da utilização da energia renovável”, disse Serra durante a cerimônia de assinatura do acordo, no auditório da Fapesp, na capital. O evento contou com a presença do vice-governador e secretário do Desenvolvimento, Alberto Goldman, do secretário de Ensino Superior, Carlos Vogt, do presidente da Fapesp, Celso Lafer, e do presidente da Braskem, José Carlos Grubisich.
O governador também elogiou o programa. “É um bom projeto, bem organizado, como se vê aqui. É a Fapesp voltada não apenas para a produção de ciência, mas também para a produção de tecnologia”, observou José Serra ao encerrar seu discurso. O presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, destacou a importância da aliança entre empresas e a comunidade científica para acelerar o desenvolvimento de novas tecnologias. “Esse evento registra nosso compromisso com o desenvolvimento científico e tecnológico a partir de bases brasileiras, sobretudo alavancando nosso conhecimento e nossa estratégia de negócios a partir de matérias primas renováveis, onde acreditamos que o Brasil tem vantagens exclusivas e permanentes”, afirmou.
Projetos e temasOs projetos de pesquisa financiados pelo convênio serão desenvolvidos conjuntamente por pesquisadores do Estado e da Braskem, nos termos do Programa Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE), da Fapesp. As equipes de trabalho mistas terão um coordenador responsável, vinculado a uma instituição de ensino superior e pesquisa, com experiência comprovada no tema das propostas.
São dois grandes temas de interesse propostos na chamada pública para apresentação de projetos, iniciada hoje: processos de síntese de intermediários, monômeros polímeros a partir de matérias-primas renováveis (açúcares, etanol, biomassa, glicerol e outros intermediários e subprodutos da cadeia produtiva de biocombustíveis); e pesquisas na área de materiais atribuindo aos “polímeros verdes” propriedades físico-químicas que permitam sua utilização em diferentes aplicações.
“Ou seja, trata-se de criar, a partir de insumos verdes, polímeros, e depois ajustar e produzir as propriedades (elasticidade, resistência, durabilidade) que sejam atraentes do ponto de vista das aplicações que interessam à Braskem”, disse o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz. O pesquisador lembra que o tema está relacionado diretamente ao desafio mundial de promover o desenvolvimento sustentável através da redução das emissões de carbono e a produção industrial sem danos ao meio ambiente.
O tipo de projeto em foco, afirma Brito Cruz, é de pesquisa exploratória. “É a pesquisa que vai criar conhecimento muito avançado e que vai também criar tecnologia. Não é pesquisa de avanço incremental que estamos procurando, é pesquisa de ruptura tecnológica, de criação de novos conhecimentos na área”, ressaltou.
A seleção dos projetos será feita em duas fases. Na primeira o Comitê Gestor da Cooperação, formado por dois representantes da Fapesp e dois da Braskem, vai analisar as propostas entregues. Em seguida, o Comitê encaminhará as pré-selecionadas para a segunda fase, que é a de análise de mérito realizada de acordo com as normas usualmente adotadas pela Fapesp.
O financiamento de cada projeto será dividido entre a Fapesp e a Braskem, com porcentagens variando segundo o grau de inovação e risco tecnológico. Os direitos de propriedade intelectual eventualmente gerada pelos projetos serão definidos caso a caso pelas instituições envolvidas, podendo ou não ter a participação da Fapesp.
FapespA Fundação apóia o desenvolvimento científico e tecnológico do Estado de São Paulo por meio do financiamento de projetos de pesquisa fundamental e de pesquisa orientada para objetivos de relevância nacional. Para isso, analisa, seleciona e financia pesquisas, contribuindo para a difusão do conhecimento e para a formação e o aperfeiçoamento de pesquisadores.
Em 2007, a Fundação desembolsou R$ 549,6 milhões para o financiamento de bolsas e auxílios a pesquisa em todas as áreas do conhecimento. Desse total, R$ 178 milhões foram destinados a bolsas, R$ 212 milhões a auxílios a pesquisa e R$ 159,5 a Programas Especiais e de Pesquisa para Inovação Tecnológica. Para os projetos aprovados nesta última modalidade, a Fapesp desembolsou R$ 73,8 milhões no ano passado.
(Por Manoel Schlindwein,
MídiaCon News com Fapesp, 27/02/2008)