A missão européia que chegou ao Brasil na segunda-feira para auditar o sistema de rastreabilidade bovina do país deve iniciar hoje as vistorias em propriedades brasileiras de cinco Estados - Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. A superintendência do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul espera que as visitas se iniciem na segunda-feira.
O clima tenso e uma série de exigências sobre a documentação apresentada marcaram os dois primeiros dias da visita dos técnicos da União Européia ao Brasil. Ontem, eles estiveram reunidos com representantes brasileiros, no Ministério da Agricultura, analisando a lista de 167 propriedades consideradas aptas a atender os critérios de rastreabilidade, e já encontraram novas inconsistências nos relatórios.
A partir dessa relação, os europeus começaram a elaborar o roteiro de inspeções em 27 propriedades no Brasil. Tanto brasileiros quanto europeus, no entanto, negam-se a dar informações, mas Goiás deve ser o primeiro Estado a ser visitado.
Ainda não há confirmação do número de criatórios gaúchos que farão parte do roteiro a ser definido a partir da lista oferecida de 13 fazendas que se preparam para receber os técnicos. Em entrevista à Rádio Gaúcha ontem, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, afirmou que devem ser "no máximo três". Na superintendência estadual, porém, a expectativa é de que entre quatro e seis fazendas sejam auditadas. O embargo à carne brasileira vigora desde o dia 1º de fevereiro.
Fazenda Santa Marta, de São Gabriel
Proprietário: Tiago Antoniazzi
Número de animais: 2 mil
Preparação: mantém o trabalho desenvolvido nos últimos anos.
Diferencial: desde 2003 tem sistema de rastreabilidade implementado na propriedade. Todos os animais receberam o brinco, e o processo é encarado como uma forma de investimento pelo proprietário.
Estância 2E Sucessão VLO, de Uruguaiana
Proprietário: Erlon Abreu da Silva
Número de animais: não-informado
Preparação: a fazenda está instruindo os capatazes para receber a comitiva.
Diferencial: todos os manejos relacionados a cada animal são registrados em um caderno pelo capataz. Os dados são passados para um escritório em Uruguaiana e, dali, reencaminhados para o Ministério da Agricultura, via internet. A fazenda usa o sistema de brincos. O próximo passo deverá ser a implantação de chip nos animais.
Fazenda do Passarinho, de Pinheiro Machado
Administrador: Mário Araújo Meireles
Número de animais: 300
Preparação: os funcionários foram treinados para o sistema de rastreabilidade.
Diferencial: o sistema de controle, o trabalho e a tecnologia adotada. No ano passado, quando foi adotado o rastreamento, a mangueira foi trocada de local para facilitar o manejo dos animais e atender às regras do sistema de rastreamento. Os animais receberam brinco, e todo o seu histórico a partir de então é registrado em um caderno. Semanalmente, os dados são coletados, repassados para o computador e enviados à credenciadora.
Fepagro Tupanciretã, de Tupanciretã
Responsável: José Flores Savian
Número de animais: 50
Preparação: estão com a documentação em dia, e os animais identificados com brinco. Não há preparativos de última hora.
Diferencial: o livro distribuído pela certificadora é seguido à risca, com preenchimento dos formulários e anotação de manejo. O rebanho é 100% rastreado.
Estância Segredo do Caiboaté, de Alegrete
Administrador: Justiniano Felício Martins
Número de animais: não-informado
Preparação: os peões estão sendo instruídos para receber a comitiva. Eles deverão mostrar como é feita cada etapa do processo de registro de manejos que envolvem os animais.
Diferencial: o sistema de controle, mesmo não sendo totalmente informatizado, é feito com o uso de brincos. Todas as informações sobre cada animal são registradas em um livro pelo capataz, depois são repassadas para o computador e remetidas à credenciadora.
Estância PAP Irmãos Fochesatto, de Bagé
Proprietário: Leandro Quadros Fochesatto
Número de animais: 250
Preparação: peões e a empresa administradora da fazenda estão instruídos a receber a comitiva européia.
Diferencial: o sistema de controle de todos os animais. A evolução de cada exemplar, como perda e reposição de brincos, doenças e demais cuidados sanitários são informados. Uma empresa terceirizada faz o serviço de controle. Cada animal que recebe o brinco entra no sistema informatizado. Tudo é acompanhado por um agrônomo, que registra as informações em um computador.
Fazenda Santa Marta, de São Borja
Administrador: Jaime Franco
Número de animais: 1,8 mil
Preparação: os funcionários foram instruídos a especificar à comitiva o trabalho que fazem diariamente.
Diferencial: o trabalho é quase todo informatizado. Todos os animais têm chip junto com o brinco. Na mangueira, há uma balança eletrônica ligada a um bastão leitor de chip, e as informações podem ser acessadas pelo chip. A balança emite os dados de forma que o veterinário possa remetê-los pela internet para a credenciadora.
Fazenda Três Coqueiros, de São Borja
Proprietário: José Francisco Bombardieri
Número de animais: 420
Preparação: os funcionários estão sendo instruídos a mostrar o trabalho diário.
Diferencial: a organização dos dados é a marca da propriedade, ainda que a informatização não seja completa. Os capatazes foram instruídos a anotar em um caderno todo manejo envolvendo o animal. Os dados são repassados para o computador e, via internet, para a credenciadora.
Invernada Inhatium, de São Gabriel
Proprietário: Paulo César Teixeira (administrador Ricardo Teixeira)
Número de animais: 700
Preparação: documentação em dia, com livros devidamente preenchidos.
Diferencial: desde 2002, os animais de dois anos para cima eram rastreados. A partir do ano passado, 100% do rebanho foi incluído no sistema de rastreabilidade.
Estância Santa Adriana, de São Gabriel
Procurado por ZH, proprietário não quis dar informações.
Mirante, de Aceguá
O proprietário, Eli de Moura, não foi encontrado. O capataz da fazenda foi informado do interesse da reportagem, mas ZH não obteve retorno.
Santa Cândida, de Bagé
O proprietário, Luís Xavier, não foi encontrado. Um familiar informou que apenas ele daria as informações e que estava em viagem.
Upacaray, de Dom Pedrito
O proprietário, João Celestino Coradini, não atendeu aos pedidos de entrevista de ZH.
(Colaboraram Marina Lopes, Ronan Dannenberg e Julia Pitthan, Zero Hora, 27/02/2008)