O fornecimento de energia extra à Argentina não está assegurado. Dependerá da disponibilidade brasileira quando o inverno argentino chegar, afirmou nesta terça-feira a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
- Emergencialmente, podemos fornecer energia daquelas usinas térmicas que não estiverem em funcionamento, principalmente aquelas a carvão, as nucleares, se houver disponibilidade no Brasil - disse, após encontro com empresários na Confederação Nacional da Indústria (CNI).
No último sábado, após encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e da Bolívia, Evo Morales, o Brasil se propôs a enviar um adicional de 200 megawatts/hora para suprir necessidades emergenciais do país vizinho. A Argentina pagará, também com energia, quando puder.
O país havia pedido ao Brasil um milhão de metros cúbicos de gás/dia, mais energia elétrica – mesma ajuda concedida em 2007 –, mas o governo brasileiro descartou ceder gás, sob o argumento de que neste ano precisará dos 30 milhões de metros cúbicos/dia a que tem direito, por contrato com a Bolívia.
Nada garante que o Brasil terá energia elétrica de sobra para fornecer ao parceiro do Mercosul, mas Dilma Rousseff se disse otimista. - Geralmente existe essa disponibilidade, não se despacha todas as térmicas nesse período de inverno, jamais despacharam - informou. Frisou, porém, que a ajuda depende das chuvas.
De acordo com o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, devido ao atraso do chamado “período úmido”, o despacho termelétrico aumentou 600% nos últimos seis meses. - Estamos com o período úmido atrasado. Enquanto ele estiver atrasado e os reservatórios [das hidrelétricas] estiverem se recompondo, não tem cabimento exportar aquilo que você está usando. Você só exporta o excedente - disse.
A crise de abastecimento ronda a Argentina desde o ano passado, quando o frio rigoroso provocou aumento inesperado no consumo de gás – necessário para os sistemas de calefação. Em dezembro, o uso de ar-condicionado em razão do intenso calor provocou os primeiros apagões, anunciando nova crise energética. Para agravar o quadro, a Bolívia anunciou que não terá condições de cumprir o contrato de fornecimento de gás que tem com a Argentina – e que prevê um mínimo de 4,6 milhões de metros cúbicos/dia em 2008 e 2009, e 27,7 milhões a partir de 2010, com a conclusão do futuro Gasoduto do Nordeste Argentino.
Mesmo disposto a ajudar o país vizinho, o governo brasileiro propõe um debate mais amplo para planejamento de uma estratégia energética regional. - O Brasil não achou correto só discutir isso quando há necessidade. É melhor fazer uma discussão para que todos ganhem com um processo de investimento na região - ponderou a ex-ministra de Minas e Energia. - É melhor fazer um projeto em que todos colaborem e cooperem para ampliar o fornecimento de energia - defendeu.
(Jornal do Brasil, 26/02/2008)