A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) disse na terça-feira que a segurança nuclear mundial é preocupante e que os líderes mundiais deveriam iniciar rapidamente uma nova rodada de negociações contra armas atômicas. "Precisamos reforçar o regime de não-proliferação e avançar para o desarmamento nuclear", afirmou Mohamed El Baradei, diretor da agência da Organização das Nações Unidas.
"Estamos numa encruzilhada. O sistema está fraquejando", disse El Baradei numa conferência em Oslo, onde em 2005 ele e a AIEA receberam conjuntamente o Prêmio Nobel da Paz. Segundo ele, a AIEA está ciente de 150 casos anuais de desaparição de armas ou materiais nucleares, que podem ir parar nas mãos "do crime organizado ou pior -- de extremistas".
El Baradei disse que a questão nuclear, tão importante durante a Guerra Fria, "saiu de moda e quase desapareceu da pauta internacional", dando espaço a temas como o aquecimento global. "Continua havendo muitas lacunas no atual sistema de segurança, o que o tornou vulnerável a abusos. Esse é na verdade o maior perigo que enfrentamos -- que armas ou material nucleares caiam nas mãos erradas", declarou o egípcio.
Segundo ele, armas atômicas em mãos de extremistas "quase certamente seriam usadas", pois o conceito da dissuasão mútua entre os países com armas nucleares "é totalmente irrelevante para a ideologia extremista". El Baradei não mencionou grupos ou países, nem quis falar do programa nuclear do Irã -- cujo governo nega as acusações ocidentais de que vá desenvolver armas atômicas.
Na mesma conferência, o ex-secretário norte-americano de Estado George Schultz disse que as tensões globais continuam elevadas devido à proliferação de armas de destruição em massa, e que os líderes mundiais deveriam imediatamente dar um novo foco às questões nucleares.
"Não podemos esperar um Pearl Harbor nuclear", disse Schultz, referindo-se ao ataque-surpresa japonês no Pacífico que levou os EUA para a Segunda Guerra Mundial. El Baradei disse que "não é impossível" livrar o mundo das armas nucleares, e defendeu reduções significativas nos atuais arsenais, além de mudanças no status do sistema de armas nucleares, a fim de reduzir o risco de acidentes e defeitos.
(Por WOJCIECH MOSKWA E AASA CHRISTINE STOLTZ, REUTERS, Estadão, 27/02/2008)