As forças federais não conseguiram nesta terça-feira (26/02) concluir a inspeção na única madeireira fiscalizada na estréia da Operação Arco de Fogo, de combate ao desmatamento e comércio clandestino de madeira na Amazônia Legal. Havia poucos fiscais para medir os estoques da empresa, localizada em Tailândia (a 218 km de Belém, PA).
Em compensação, sobraram policiais federais e homens da Força Nacional de Segurança. O efetivo que participou do início da operação pela manhã foi sendo reduzido ao longo do dia. Dos cerca de 25 veículos utilizados inicialmente pelas forças policiais, apenas 15 permaneciam em frente à madeireira no final da tarde. Não houve manifestação nem conflito.
O aparato utilizado impressionou pela quantidade e poder de fogo. Ao chegar à madeireira DK, alvo da fiscalização, os carros pretos do comboio federal, lotados com homens armados de escopetas e carabinas, bloquearam por cerca de cinco minutos um trecho de 50 metros da rodovia PA-150.
Soldados da Força Nacional tomaram as pistas, enquanto policiais federais e funcionários do Ibama entravam na empresa em busca de irregularidades. No céu, um helicóptero da PF sobrevoava a região. No chão, moradores espantados assistiam às cenas das janelas e portas de suas casas.
"Nunca vi tanta polícia junta", disse a comerciante Noêmia Rodrigues, dona de um pequeno bar localizado ao lado da madeireira. "Agora é que eu não vendo mais nada", afirmou, reclamando de uma queda nas vendas de 70% desde o início da fiscalização na cidade.
O coordenador da operação de fiscalização do Ibama, Bruno Versiani, constatou que a madeireira tem licença para funcionar. Porém, disse que parte do seu estoque é ilegal.
"Nossa estimativa inicial indica que, dos cerca de 2.000 metros cúbicos de madeira que a empresa possui, aproximadamente mil metros cúbicos são ilegais, sem procedência."
Se confirmada a informação, a madeireira será multada em valores que variam de R$ 100 a R$ 500 por metro cúbico apreendido. Cabe recurso. O dono da indústria, Marcos Antonio Dantas Fortes, não quis comentar a fiscalização.
Segundo a PF, os trabalhos só serão concluídos amanhã. O coordenador do Ibama alega que a demora ocorreu por falta de fiscais para medir a madeira.
"É um gargalo que vamos resolver com a chegada de mais pessoas", afirmou. O órgão trabalhou hoje com 12 fiscais e contou com a ajuda de outros dez servidores da Secretaria Estadual do Meio Ambiente.
O Ibama espera que, com a chegada de novas equipes, duas empresas sejam fiscalizadas por dia. A PF alega que a demora se deve à necessidade de evitar as contestações.
Os funcionários da madeireira foram dispensados e só deverão retornar ao trabalho amanhã. "Mas meu medo é isso aqui fechar", disse o cortador de ripas Edilson Gonçalves de Souza, 30. Casado e pai de quatro filhos, ele quer saber como alimentará as crianças se perder o emprego.
A Operação Arco de Fogo atingirá os 36 municípios da região que mais devastaram florestas no segundo semestre do ano passado. Não há prazo para o término dos trabalhos.
O diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, disse que policiais atuarão permanentemente na região. Cerca de 800 policiais devem se estabelecer na Amazônia Legal por pelo menos um ano.
(FÁBIO GUIBU,
Agência Folha, 26/02/2008)