Foram libertados no final da tarde desta segunda-feira (25/02) os oito pesquisadores da empresa Paranatinga Energia S/A, cinco funcionários da Funai e um piloto de avião que estavam há cinco dias mantidos reféns de índios da etnia Ikpeng no Parque Nacional do Xingu, em Mato Grosso. A libertação ocorreu depois que índios e Funai chegaram a um acordo sobre uma reunião a ser realizada em Brasília nesta quarta-feira, para tratar do funcionamento de uma PCH (Pequena Central Hidrelétrica) no rio Culuene, que banha o parque e que ameaça a região.
Mais de 40 representantes indígenas seguirão de ônibus até Brasília e esperam discutir o assunto com os Ministérios da Justiça, Meio Ambiente e de Minas e Energia. A PCH está pronta para funcionar, mas enfrenta a resistência de indígenas e ambientalistas desde 2004, quando o projeto teve início.
À princípio, os índios exigiam as presenças do presidente da Funai, Márcio Meira, e do presidente da Paranatinga Energia como condição para libertar os reféns.
Como o presidente da Funai descartou a hipótese de ir até o local, os ânimos se acirraram e os índios, durante quatro dias, se recusaram a negociar com representantes.
No início da manhã desta segunda, os índios liberaram apenas três dos reféns: Dionei José Silva, Manoel dos Santos Filho e Fabrício Alves de Moura, todos eles pesquisadores do Instituto Creatio, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público(OSCIP) contratada pela empresa. Eles chegaram de
avião a Cuiabá escoltados por "guerreiros" Ikpeng e foram encaminhados para a sede regional da Polícia Federal, onde prestaram depoimento durante todo o dia.
A Polícia Federal não permitiu que eles concedessem entrevistas. De acordo com assessoria de imprensa da PF, o procedimento foi adotado para não atrapalhar as negociações de soltura dos outros reféns. À assessoria do Creatio, os reféns contaram que eram mantidos presos em uma casa no Posto Indígena Pavuru, no Médio Xingu, e de lá saíam apenas uma vez por dia para fazer as necessidades básicas. Disseram que não sofreram agressões físicas e nem passaram fome, mas eram ameaçados o tempo todo.
De acordo com o presidente do Instituto Creatio, Luciano de Carvalho, a Oscip cumpriu todos os trâmites burocráticos para receber a autorização para entrar no parque.
- Não entendemos até agora porque os índios prenderam o nosso pessoal, já que eles mesmos autorizaram a nossa entrada. Além disso, estamos estudando justamente as formas como os índios podem ser beneficiados nesse processo - disse Carvalho.
Em nota, a Paranatinga Energia afirma que a PCH está localizada no rio Culuene, na divisa dos municípios de Campinápolis e Paranatinga, distante quase 100 quilômetros do parque em linha reta e a 300 quilômetros pelo leito do rio. Segundo a empresa, todos os estudos preliminares mostraram que o funcionamento da PCH não acarretará impacto ambiental no Parque do Xingu e nem afetará áreas consideradas sagradas pelos índios.
(Orlando Morais,
O Globo, 25/02/008)