"Posso dizer que não há possibilidade de um cidadão brasileiro dizer em qualquer lugar do mundo que é preciso derrubar um pé de árvore na Amazônia para criar uma cabeça de gado ou plantar um pé de cana ou oleaginosa"Em meio à crise provocada pelos desmatamentos na Amazônia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu em defesa da pecuária, da soja e do modelo chinês de desenvolvimento. Ao falar no Fórum Global de Legisladores G8 + 5, em Brasília, que reúne parlamentares ligados ao debate ambiental de 13 países no Palácio do Itamaraty, Lula disse que muitas vezes a floresta amazônica está sendo derrubada por pequenos agricultores. "Me incomoda muito, ministra Marina (Silva), quando viajo o mundo e alguém vem dizer: ‘Mas derrubou uma árvore na Amazônia’", relatou. "Entendemos muitas vezes que tem o desmatamento criminoso, que o governo está tomando medidas duras para coibir, mas tem o causado pelo pequeno produtor, que temos de dar alternativas econômicas."
Dados do Inpe divulgados no mês passado mostram que os maiores índices de destruição da Amazônia ocorreram em Mato Grosso, estado em que as propriedades são extensas e os plantios de grãos, dos grandes proprietários, avançam rumo ao extremo norte, à selva amazônica. A própria ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, responsabilizou, dia 23 de janeiro, o avanço do gado e as plantações de soja pela derrubada de 3.233km2 de floresta nos últimos cinco meses do ano passado. Os números do instituto causaram controvérsias e foram colocados em dúvida pelo governador mato-grossense e um dos maiores produtores de soja do mundo, Blairo Maggi.
Lula, no evento, rebateu críticas externas de que a produção de alimentos e matérias-primas para o biocombustível é responsável pelo aumento do desmatamento. "Posso dizer que não há possibilidade de um cidadão brasileiro dizer em qualquer lugar do mundo que é preciso derrubar um pé de árvore na Amazônia para criar uma cabeça de gado ou plantar um pé de cana ou oleaginosa", disse o presidente de forma enfática. "As terras brasileiras, fora a Amazônia, são suficientes para atender a uma parte do mundo, nos alimentos, e a uma parte das necessidades nos biocombustíveis."
Nas estimativas do IBGE citadas pelo presidente, as plantações "anuais" de milho e soja ocupam 49 milhões de hectares, 6% do território nacional, e podem ser expandidas para uma área degradada de 60 milhões de hectares, sem atingir a floresta amazônica, que totaliza 360 milhões de hectares, isto é, 42% das terras brasileiras. Diante de representantes dos oito países mais ricos e da China, Índia, México e África do Sul, Lula aproveitou para defender que os ricos banquem a preservação da Amazônia, com o repasse de US$1 bilhão por ano para ações de combate ao desmatamento da floresta. No discurso, ele disse que é uma "desfaçatez" países ricos não cumprirem acordos internacionais e, ao mesmo tempo, culparem o Brasil, a China e a Índia pelo aquecimento global.
(Blog Altino Machado /
Amazonia.org, 23/02/2008)