Mais de 30 macacos foram encontrados mortos nos últimos meses, sob a suspeita – ainda não comprovada - de que tenham sido vítimas de febre amarela. Esse fato, amplamente divulgado pela imprensa diante das recentes preocupações em torno da doença, gerou um tipo de reação tão cruel quanto equivocada: a matança de macacos.
A injustiça reside no fato de que estes animais são apenas vítimas da febre amarela, nunca transmissores. O vetor da doença em sua versão silvestre são os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, e, na versão urbana, o Aedes Aegypt, já bastante conhecido no Brasil porque transmite também a dengue.
Apesar disso, o Centro de Proteção de Primatas Brasileiros (CPB), órgão vinculado ao Instituto Chico Mendes / MMA, recebeu vários relatos de ataques descabidos a macacos. Há indícios de ocorrência de mortes, por agressões, de cerca de 30 primatas em Minas Gerais, nas regiões de Montes Claros, Cabeceira Grande, Itabira, Buritis e Uberlândia.
Chegaram ao órgão também informações sobre a morte de seis macacos no Mato Grosso do Sul e de violência contra dois bugios em Barreiras (BA), sendo que um deles, macho, chegou a perder o braço em função dos ferimentos causados ao ser apedrejado.
Existem ainda relatos de envenenamento, através de denúncias levadas ao Centro de Triagem de animais do Ibama em Goiás.
“Faltou divulgação por parte da imprensa de que os macacos funcionam, na verdade, como uma sentinela da febre amarela. Onde surge a doença, eles são as primeiras vítimas e alertam os órgãos de saúde”, disse a AmbienteBrasil o biólogo Marcelo Marcelino, chefe do CPB.
Esse é o foco inclusive de um texto distribuído pelo Centro recentemente à imprensa, fazendo um alerta em prol dos animais.
“A morte dos macacos por febre amarela silvestre evita a morte de pessoas, porque indica às autoridades que algo está acontecendo, e medidas de prevenção, como a vacinação, são rapidamente tomadas. Sem os macacos, não há aviso, e as pessoas ficam totalmente vulneráveis, porque o grande vilão, quem de fato transmite a doença, são os mosquitos”, diz o comunicado.
Segundo Marcelino, além das agressões aos animais, outro fenômeno observado em reação aos casos da doença em pessoas foi a acorrida aos Centros de Triagem do Ibama, por parte de criadores, quase todos ilegais. Temerosos quanto à transmissão da febre amarela – como se viu, impossível -, eles procuraram os centros para entregar macacos que, até então, tinham sob sua guarda.
O pânico também ensejou que os Núcleos de Fauna do Ibama, nas regiões Centro-oeste e Sudeste do país, recebessem mais de uma centena de ligações, em apenas uma semana, solicitando a remoção de macacos que vivem livremente em bosques e matas próximos aos núcleos urbanos.
Marcelino Marcelino explica que é normal serem encontrados animais mortos, de forma natural, vitimados inclusive por outras doenças. “Nos últimos cinco anos, só 25% dessas mortes foram confirmadas como sendo por febre amarela”, diz.
(Por Mônica Pinto,
AmbienteBrasil, 25/02/2008)