Os resorts sofrem duras críticas pelos potenciais impactos negativos no meio ambiente e nas comunidades nativas. Para os especialistas, não há um gerenciamento costeiro que evite a degradação ambientalApesar das promessas de alavancagem do turismo e de geração de emprego, os resorts podem se configurar numa ameaça ao meio ambiente e às comunidades nativas da região onde serão instalados. O alerta parte de ambientalistas e de especialistas no litoral. O consultor de políticas públicas do Greenpeace e professor de Direito Ambiental da FA7, João Alfredo Teles Melo, diz que o problema na instalação dos resorts está no fato dos interesses econômicos e do capital privado estarem acima da proteção social e ambiental.
Para João Alfredo, antes da construção dos equipamentos deveria ser feito um plano de gerenciamento costeiro, definindo quais espaços poderiam ser ocupados. Na avaliação dele, antes precisa ser garantida a proteção do ecossistema do litoral. "Zonas que são muito frágeis e que já vêm sofrendo processos de degradação ambiental, como os ocorridos nas dunas e falésias", completa. Além disso, o ambientalista defende que deveria ser também garantida a posse das terras às comunidades de pescadores e indígenas. "Pois eles sofrem o risco de serem expulsos ou aculturados".
O consultor do Greenpeace critica os resorts ainda por serem "shoppings center turísticos" elitizados, com piscinas gigantescas e campos de golfe. Devido ao nível de especialização, João Alfredo avisa que os equipamentos podem até mesmo não incorporar a mão-de-obra local.
O professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e especialista em Mudanças Ambientais e Planejamento na Zona Costeira, Jeová Meireles, também avalia que a construção dos resorts pouco considera parâmetros como impactos ambientais, sociais e culturais, principalmente no médio e longo prazos. "Também não é analisado o efeito cumulativo da instalação de vários resorts na costa do Ceará e de outros estados do Nordeste".
Jeová Meireles avisa ainda que os empreendimentos turísticos, muitos com campos de golfe, estão sendo construídos em ecossistemas bastante sensíveis e com alta biodiversidade. Outra preocupação dele é que os resorts podem representar uma privatização de espaços públicos e ainda gerar desequilíbrios nas atividades econômicas das comunidades nativas. "Os turistas vêm do Exterior e ficam imersos nestes equipamentos, que possuem todo tipo de serviço, como restaurantes, shoppings e até boate. O dinheiro fica circulando somente naquele espaço e nas mãos das corporações, a maioria estrangeiras (pouco beneficiando as comunidades no entorno). Quando muito, os hóspedes fazem um tour e voltam para os sistemas", observa.
Governos garantem reduzir possíveis impactosOs representantes dos governos dos estados nordestinos garantem que estão tomando os devidos cuidados para a instalação dos resorts. Segundo o coordenador de Investimentos da Secretaria do Turismo do Ceará, Leonardo França, todos esses projetos são obrigados a apresentar estudos e relatórios de impactos ambientais e apresentar propostas para redução de possíveis danos. "A aprovação de cada projeto é votado pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema), órgão que reúne o Governo e sociedade. O Ministério Público está atento também para as questões sociais e ambientais dos projetos", afirma.
"O Governo do Estado, através da Semace, está atento a esses projetos. Queremos equipamentos de qualidade e não quantidade. Não adianta degradar o meio ambiente, pois o Ceará perderia o seu principal cartão de visita", completa o técnico da Setur. Conforme França, o governo Cid Gomes também quer que os projetos estejam integrados às comunidades, do ponto de vista econômico, social e cultural. "Eles não podem deixar a população à margem da geração de empregos, as vagas têm que ser destinadas aos moradores da região. Não adianta ter um equipamento desses com uma população necessitada e desempregada ao redor", reforça.
O secretário do Turismo do Rio Grande do Norte, Fernando Fernandes, também afirma que há toda a preocupação com a preservação ambiental e manutenção das belezas naturais das praias potiguares. "Cada empreendimento precisa apresentar uma série de estudos para o Instituto de Defesa do Meio Ambiente (Idema). Nenhum projeto, por exemplo, pode ter mais de 18% de área construída. Os municípios onde estão sendo implantados os resorts possuem também seus planos diretores", destaca.
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O Povo, 25/02/2008)