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biocombustíveis passivos dos biocombustíveis G8
2008-02-26
A expansão do mercado de etanol poderá contribuir para mitigar a mudança climática “se forem removidas as barreiras comerciais nas economias desenvolvidas”, afirmou o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, procurando atenuar a solidão com que o Brasil defende seu combustível alternativo. A mensagem de Zoellick, que, como representante comercial dos Estados Unidos, entre 2001 e 2005, foi um duro adversário do Brasil nas negociações internacionais, foi transmitida por vídeo ao Fórum de Legisladores do G8-5 sobre Mudança Climática, realizado em Brasília nos dias 20 e 21 deste mês.

O encontro reuniu parlamentares do Grupo dos Oito países mais poderosos do mundo e de cinco emergentes (Brasil, China, Índia, México e África do Sul), e foi promovido pela Organização Global de Legisladores por um Ambiente Balanceado (Globe, sigla em inglês) e pela Aliança COM+, uma sociedade de organismos internacionais e profissionais da comunicação. O G8 é formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia. Na reunião foi debatido um documento sobre biocombustíveis – que contaminam menos do que os fósseis – que incluía seis critérios de sustentabilidade e a necessidade de estabelecer um sistema de certificações para que o etanol e o biodiesel possam ser recomendados para mitigar a mudança climática.

Nas três décadas em que está usando álcool combustível como substituto para a gasolina ou misturado a ela, o Brasil evitou a emissão de 600 milhões de toneladas de gás carbônico, o principal fator do aquecimento do clima na Terra, disse a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na reunião de quinta-feira. A redução de carbono obtida com o menor desmatamento amazônico dos três últimos anos foi de 500 milhões de toneladas, comparou. Uma defesa mais detalhada deste subproduto da cana-de-açúcar ficou nas mãos de Marcos Jank, presidente da União da Indústria da Cana de São Paulo, que reúne mais da metade dos produtores brasileiros de etanol, produto que permite reduzir em mais de 60% os gases causadores do efeito estufa emitidos pela gasolina, garantiu Jank.

A cana, com 500 anos de história no Brasil, há 30 anos fornece um etanol energeticamente eficiente e, nos últimos tempos, também eletricidade da biomassa de seus dejetos vegetais. Sua produção custa hoje apenas 30% do que custava no início do programa de substituição da gasolina, criado em 1975. O avanço em produtividade foi espetacular, e com a nova tecnologia de hidrólise, que permitirá aproveitar folhas e resíduos que constituem dois terços de sua biomassa, se poderá duplicar a produção atual de sete mil litros por hectare, segundo Jank. No futuro, esse cultivo alimentício já não será conhecido como cana-de-açúcar, mas como “cana-de-eletricidade e etanol”, previu.

Porém, as notícias “sensacionalistas” e opiniões amplamente divulgadas distorcem o que pode ser uma solução, embora parcial, para a mudança climática, lamentou Jank. A destilação de etanol a partir do milho e da beterraba, nos Estados Unidos e na Europa – que impõem elevadas barreiras à importação de etanol –, as preocupações ambientais e o escândalo de trabalhadores da cana submetidos a condições de escravos no Brasil geraram uma onda de rejeição que bloqueia a construção de um mercado mundial deste combustível, que seria amplamente dominado pelo álcool brasileiro.

Na opinião de Jank, são muitas as “especulações” que ignoram dados concretos, como a eficiência energética da cana, muito superior à do milho e da beterraba. A idéia de que sua expansão ameaça a Amazônia tampouco tem sentido, já que a cana não se adapta à umidade amazônica e precisa de um clima especial que faz do Estado de São Paulo seu principal produtor, explicou. A existência de alguns engenhos e destilarias na Amazônia não indica uma tendência, essa atividade não vai prosperar porque a produtividade da cana ali é muito pequena em relação a outras regiões, corroborou Mark Lundell, coordenador de Meio Ambiente do Banco Mundial no Brasil.

A previsão de que a cana tiraria terras da produção de alimentos ou levaria a que outras atividades agropecuárias, como a soja e a pecuária, avançassem sobre as selvas amazônicas tampouco é inevitável, segundo Jank. Se a pecuária fosse produtiva e menos extensiva, “liberaria 50 milhões de hectares para a agricultura” no Brasil e “não necessitamos mais do que 15 milhões de hectares para toda a produção e exportação” possível de etanol no país, afirmou. O Banco Mundial se converteu no grande aliado brasileiro em sua campanha pelo etanol de cana e por um mercado livre para os biocombustíveis.

O álcool já abastece 30% do consumo dos automóveis brasileiros e ocupa apenas quatro milhões de hectares para sua produção, cerca de 5% das terras usadas pela agricultura, disse Pamela Cox, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe. Trata-se de uma contribuição “de baixo custo para mitigar a mudança climática e de uma tecnologia brasileira que tem um grande papel global a desempenhar”, disse no Fórum de Legisladores. O mundo pode substituir entre 15% e 20% do petróleo por etanol e biodiesel, segundo Sergio Gabrielli, presidente de Petrobras, que expandiu sua atividade para diferentes fontes de energia.

Para isso não faltam grandes modificações nos motores atuais. Não haverá mudanças se forem acrescentados até 5% de etanol à gasolina. O Brasil já mistura 25% com algumas adaptações e desenvolveu uma tecnologia para automóveis que podem usar misturas em qualquer proporção. Entretanto, o Fórum de Legisladores comprovou o isolamento da proposta de criar um mercado livre de biocombustíveis, como o do petróleo. Até poucos anos atrás, o etanol aparecia como “a grande solução”, mas hoje se converteu “no contrário”, uma alternativa que em nada contribuiria para a mitigação da mudança climática, disse Anderes Wijkman, membro sueco do Parlamento Europeu.

Parlamentares reunidos em Brasília, alguns deles já tendo visitado experiências brasileiras de produção de biocombustíveis, se manifestaram bem impressionados com as vantagens ambientais, sociais e econômicas do etanol de cana-de-açúcar, sobretudo para outros países em desenvolvimento, mas também falaram de suas dúvidas. Por isso não foi aprovado o documento inicial, ao qual vários países se opuseram. A recomendação votada, mais fria do que o Brasil esperava, reconhece a liderança brasileira e a necessidade de certificações para o etanol e o biodeisel, o que será examinado pelo G8 em sua próxima reunião, no mês de julho.

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(Por Mario Osava, Terramérica / Envolverde, 25/02/2008 )
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

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