Cento e oitenta e uma espécies vegetais e animais estão oficialmente ameaçadas de extinção no Pará, sendo 13 delas – sete espécies de peixes, duas de plantas, três de mamíferos e uma de pássaro – consideradas como “criticamente em perigo”.
Os dados estão na Lista de Espécies Ameaçadas do Pará, nomeada Lista Vermelha, cujo lançamento oficial ocorreu na semana passada durante a assinatura de um decreto, pela governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, que também oficializou o programa Extinção Zero.
A lista e o programa foram criados por meio de iniciativa conjunta entre a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), o Museu Paraense Emílio Goeldi (Mpeg) e a Conservação Internacional (CI). O objetivo do programa é criar, com base nas informações da lista, uma nova agenda ambiental que permita ao governo proteger as espécies ameaçadas.
A agenda será implementada por um comitê gestor e técnico, cujos nomes ainda serão indicados pelo governo do estado, que será responsável pela criação de um plano de preservação das espécies indicadas pela Lista Vermelha.
Em parceria com universidades, instituições científicas, organizações não-governamentais (ONGs), setores produtivos e poder público, a primeira ação do comitê será reconhecer o que os pesquisadores chamam de “Áreas Críticas de Biodiversidade” como regiões prioritárias para conservação.
“A Lista Vermelha do Pará contém, além das características de cada espécie, um mapa de distribuição das espécies associado ao mapa da perda de seus hábitats”, disse Ima Célia Vieira, diretora do Museu Goeldi, à Agência FAPESP.
“Com esse diferencial conseguiremos sobrepor os mapas para identificar essas áreas críticas, a partir do cruzamento de dados georreferenciados da distribuição de cada espécie ameaçada e das áreas alteradas pelo desmatamento”, explicou.
Dentre as 181 espécies ameaçadas da lista estão 91 vertebrados, 37 invertebrados e 53 plantas. Entre elas estão o macaco caiarara (Cebus kaapori) e o cuxiú preto (Chiropotes satanas), além das espécies vegetais pau-rosa (Aniba rosaedora Ducke), ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa) e o mogno ( Swietenia macrophylla).
“O próximo passo será aperfeiçoar, por meio de ferramentas de modelagem computacional, o entendimento da distribuição das 13 espécies da Lista Vermelha consideradas como criticamente em perigo nas modelagens anteriores. O trabalho será complementado por medições em campo e, após essa fase, poderemos intensificar as ações governamentais nessas áreas críticas”, disse Ima Célia.
Desmatamento crítico
Segundo a diretora do Museu Goeldi, a maior parte das espécies da Lista Vermelha está nas áreas mais desmatadas do Estado, especialmente na região conhecida como Centro de Endemismo Belém, localizado entre o Pará e o Maranhão.
“A Amazônia tem oito grandes centros de endemismo que abrigam espécies únicas, sendo o centro de Belém o mais impactado de todos. Essa é uma região com mais de 150 municípios, cujas áreas críticas começaram a ser identificadas após o lançamento do programa Extinção Zero. Agora o objetivo é criar novas unidades de conservação de biodiversidade na região, além de fortalecer as ações nas unidades que já existem”, disse.
O Pará tem 55% de seu território dentro de áreas protegidas ou territórios indígenas. Segundo dados divulgados pelo Museu Goeldi, o estado é o campeão em desmatamento na Amazônia brasileira, com 202,9 quilômetros quadrados de áreas desflorestadas, o que equivale a 16% de seu território e a 30% de toda a área já degradada na região amazônica.
A elaboração da Lista Vermelha foi realizada no âmbito do Projeto Biota Pará, coordenado por pesquisadores do Museu Goeldi, e teve início em 2004 com a definição dos critérios e categorias de ameaça a serem adotados na avaliação do estado de conservação das espécies no Pará.
Inicialmente os pesquisadores elaboraram uma lista com 928 espécies candidatas a integrar a lista final. Esse banco de dados foi disponibilizado para consulta pública na internet e a decisão das espécies ameaçadas do estado, finalizada em junho de 2006, seguiu os critérios da União Internacional para Conservação da Natureza: criticamente em perigo, em perigo ou vulnerável.
Mais informações: www.sectam.pa.gov.br
(Por Thiago Romero, Agência Fapesp, 26/02/2008)