No Congresso Nacional, projetos visam a diminuir as áreas de proteção florestal na Amazônia. No mundo real, cientistas acabam de estimar que, na verdade, pelo menos as áreas de proteção permanente localizadas ao lado dos rios precisam ser alargadas, e muito.
Um estudo liderado pelo ecólogo Carlos Peres, 44, belenense há 13 anos na Inglaterra, mostra que o tamanho mínimo para que a mata de galeria possa preservar a biodiversidade local é de 400 metros de largura, 200 metros de cada lado.
"Nós medimos 200 corredores e só 14% deles têm esse tamanho de mata de galeria ideal", afirma Peres, professor da Universidade de East Anglia, à Folha. O cientista acaba de publicar um artigo sobre o estudo feito no Brasil na revista "Conservation Biology".
Para chegar as dimensões ideais da mata de galeria, os pesquisadores investigaram a riqueza da fauna de 37 locais durante seis meses. Todas as áreas amostradas ficam no município de Alta Floresta (MT). Elas estão espalhadas por um terreno de 6.000 km2.
"Claro que não é apenas a largura que importa. É fundamental que essa mata seja bastante preservada. Muitas vezes, o proprietário da terra permite que o gado paste nessas áreas e que ocorra também a exploração seletiva de madeira."
Depois de analisar a estrutura dos bosques escolhidos para a análise e de contar o número de espécies de aves e mamíferos que freqüentavam as matas de galeria, os cientistas fizeram gráficos, cruzando essas variáveis, para saber a medida ideal da área a ser preservada.
Politicamente possível
"É bom dizer que essa análise, em termos biológicos, mostra que o ideal é 400 metros. Porém, em termos políticos, sei que isso pode ser impossível de ser obtido", explica Peres.
Ainda assim, diz o pesquisador, daria para fazer uma "concessão". Seria possível estabelecer que a obrigação legal das áreas de preservação permanente ao lado de rios passem a ter, pelo menos, 100 metros de cada lado. "Isso é dez vezes mais do que a legislação prevê em algumas situações", diz o pesquisador brasileiro.
Pelo Código Florestal brasileiro, os rios com menos de 10 metros de largura precisam ter uma mata de galeria de 30 metros de largura de cada lado. Essa obrigação varia de 10 metros a 50 metros de largura, para cursos d'água com um largura aproximada de 50 metros.
Em todos os bosques, 24 deles conectados a outros fragmentos florestais e oito sem ligação alguma com outras zonas de preservação (os cinco restantes foram analisados para efeito de comparação), foram identificadas, no total, 365 espécies de aves e 27 de mamíferos, sendo cinco de primatas.
Mas nas matas de galeria estreitas, com menos de 200 metros de largura, e sem conexão com outros trechos de floresta, a situação é mais crítica. Apenas um terço das espécies de pássaros e um quarto dos mamíferos vivem com freqüência nessas regiões, em comparação com os corredores mais largos.
Impacto bovino
O estudo das áreas de galeria também flagra, com clareza, a presença de rebanhos bovinos no norte de Mato Grosso.
A marca dos bois foi identificada no campo em 70% dos corredores conectados com outros pedaços de florestas e em 89% das zonas isoladas. Quanto ao fogo, ele esteve presente, respectivamente, em 16% e 2% das áreas. "Quanto ao gado, não tem jeito. É preciso impedir a entrada dele", disse.
(EDUARDO GERAQUE, da
Folha de S.Paulo, 25/02/2008)