Há três dias sob vigilância de 200 policiais, os moradores de Tailândia (PA) convivem com a ameaça de um novo levante e com o risco do desemprego. Na cidade de madeireiros, a possibilidade do fechamento das serrarias pelo governo federal revolta e assusta a população. A prefeitura diz que, se isso acontecer, a cidade "quebra".
O secretário de Administração do município, Cristóvão Vieira, diz que a movimentação financeira fruto da extração da madeira, das serrarias e carvoarias é de cerca de 70% dos recursos que circulam hoje na cidade. "Se os setores fecharem, Tailândia se inviabilizará."
Emancipado há 19 anos e com receita mensal de R$ 3 milhões, o município de 67 mil habitantes surgiu a partir da exploração da floresta há cerca de 40 anos. De acordo com o secretário, nesse período, 60% da cobertura vegetal original de Tailândia, que tem 4.440 km2, se perdeu. Vieira não culpa, porém, apenas os madeireiros pela situação. Para ele, faltou também fiscalização e orientação das autoridades federais.
O governo, que apreendeu 13 mil m3 de madeira ilegal na região, avalia em pelo menos R$ 5 milhões tudo o que foi confiscado. Ainda se vê as marcas do confronto que envolveu policiais militares e pessoas contrárias à apreensão das toras.
O Fórum de Tailândia, depredado no protesto, está fechado. Nas poucas madeireiras em atividade ontem (21/02), o movimento era pequeno. Apreensivos, trabalhadores se reuniam para comentar a situação.
"Estão dizendo que a firma pode fechar. Se eu sair daqui, não tem para onde correr", disse José Hipólito da Conceição, 36, funcionário da Serraria Catarinense há quatro anos.
As 64 madeireiras legalmente registradas na cidade geram 1.552 empregos e influenciam toda a cadeia econômica. Com a crise, as vendas nos supermercados de Tailândia caíram 50%. A principal fábrica de móveis local, a Belmóveis, ameaça fechar as portas. Ela consome 120 m3 de madeira por ano, quantidade suficiente para fabricar 3.000 camas de casal.
Em nota divulgada ontem pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, o governo reafirma a intenção de continuar agindo na região. "Não se trata de uma operação de curta duração, mas sim de um projeto de longo prazo de atuação do Governo Federal na área", diz
o texto.
(FÁBIO GUIBU, da
Agência Folha, em Tailândia (PA)/MATHEUS PICHONELLI, da Agência Folha, 22/02/2008)