“Mobilidade eficiente é aquela que está de acordo com as necessidades de transporte”, afirmou o coordenador de projetos internacionais da rede global de cidades Cities for Mobility, Rainer Rothfuss, durante a Conferência Mundial sobre Desenvolvimento de Cidades, que ocorreu em Porto Alegre. “A pergunta que se faz é: de onde virá a energia necessária para o transporte do futuro? Sem mobilidade não há como participar da educação, do trabalho, da vida cultural da cidade”, salientou Rainer.
De acordo com o coordenador, a iniciativa da Prefeitura de Stuttgart com a criação da rede internacional é uma forma de compensar os danos gerados pela forte indústria automobilística daquela região. “Stuttgart beneficia-se com a globalização. Com a fabricação de automóveis criamos também os problemas de mobilidade, que atingem não apenas os países em desenvolvimento, mas também as cidades altamente motorizadas da Europa. Por isso, ao mesmo tempo, trabalhamos na busca de soluções”, explicou.
Entre algumas das opções indicadas está a implantação de faixas exclusivas para ônibus. O investimento na capacitação de motoristas para novas formas de condução foi outro exemplo dado. Ele pode gerar uma economia de 10 a 20% do combustível utilizado e aumentar a segurança no trânsito.
Neste sentido, a Prefeitura Municipal de Erechim (RS) contou com a assessoria da rede para a implementação de dois projetos. Apoiado nos eixos educação, cultura, prevenção e segurança, o município promove desde 2003 atividades de conscientização no trânsito, conforme explica a arquiteta e urbanista, Rose Hachmann. “A partir do conceito de que a cidade não foi feita somente para automóveis, focamos na formação de estudantes e motoristas, e o resultado foi fantástico”, assegura.
Entre algumas das ações desenvolvidas estão a construção de canteiros com flores, melhorias na sinalização e a substituição de dezoito semáforos para a instalação de rótulas de fluxo direto, evitando as paradas e contribuindo para a diminuição da emissão de gases poluentes. “Nós queremos ser uma cidade referência no País em segurança no trânsito, porque o que importa é o pedestre, é o ser humano”, afirma o arquiteto e urbanista do Instituto de Planejamento Urbano Sustentável da Secretaria de Coordenação e Planejamento de Erechim, Redenzio Cezar Zordan.
Durante o painel, o representante da Associação Alemã para a Energia Solar (DGS), Tomi Engel, apresentou os veículos elétricos abastecidos por energia solar como uma alternativa aos combustíveis fósseis. “Hoje na Alemanha somos 82 milhões de habitantes e 46 milhões de carros. Na projeção futura, vamos requerer um aumento na produção de energia, por isso devemos examinar urgentemente o papel das fontes renováveis, porque as mudanças na frota ainda levarão de 3 a 4 décadas para acontecer. No entanto, já existem mercados para os veículos elétricos, como a China, por exemplo, onde as bicicletas são muito usadas, além de serem de baixo custo e alta eficiência”, avalia.
Ao mesmo tempo, Engel entende que as mudanças devem estar de acordo com a realidade de cada país. “Não podemos propor para todas as pessoas o modelo mais moderno e menos poluidor. Temos que ser realistas, porque existem lugares no mundo onde não há condições para comprar nem uma bicicleta se quer”, pondera.
Para ele, cabe às cidades exigir demanda organizada para que as políticas mudem. “Os custos da energia são artificiais, porque são regidos pela economia e regulamentados pelos governos. Se o país decide-se por uma fonte limpa, ela se torna economicamente viável. Em alguns países a energia eólica é a mais barata que há. Quando isso não acontece é porque existem interesses escusos que dificultam a concorrência”, critica. “Na Alemanha já tivemos um grande problema com o carvão, que foi drasticamente superado com o aumento substancial do preço. Já a China e a Austrália utilizam essa fonte, porque lá ela é abundante e barata, mas no cálculo das mudanças climáticas sairá muito onerosa”, adverte.
A aplicação de medidas para a promoção do transporte sustentável deve ser analisado localmente. Engel citou o exemplo alemão, onde apenas 5% dos lotes dos trens estão ocupados por passageiros, o que revela uma forma pouco eficiente de locomoção. “Neste caso a solução seria o uso combinado dos diferentes meios, isto é, do transporte rodoviário na área rural e de trens nas áreas de maior aglomerado urbano”, indica. Quando questionado sobre qual seria o caminho mais adequado na busca pelo mobilidade sustentável para o Brasil, que optou pelo transporte rodoviário em detrimento do ferroviário, Engel utiliza o mesmo raciocínio. “Não se pode satanizar essa escolha. Mas penso que a combinação com o uso de biocombustíveis seria o ideal para o país”, sugere.
A
rede Cities for Mobility é uma iniciativa da Prefeitura de Stuttgart, que congrega 400 membros espalhados em 60 países e serve como uma plataforma de soluções que trabalha junto aos governos, a fim de contribuir para minimizar os principais problemas originados pelo transporte nas diversas cidades do mundo.
(Por Adriana Agüero, AmbienteJÁ, 21/02/2008)