Cidades verdes dependem de rede de transporte eficiente e sustentável
2008-02-25
“No século XXI tornar-se sustentável é a forma da cidade prosperar”, apontou Nancy Kate, consultora do governo dos EUA para assuntos de poluição do ar, aquecimento global e meio ambiente e diretora-executiva da Embarq – Centro da WRI para Transporte e Meio Ambiente, durante a Conferência Mundial sobre Desenvolvimento de Cidades, em Porto Alegre. “As cidades não podem pagar o custo de não serem verdes. Elas não conseguirão competir economicamente entre si sem uma gestão ambiental estratégica”, alertou. Atrasos como a saturação viária, a imobilidade, a estagnação econômica, a diminuição da competitividade e o aumento da poluição são alguns dos entraves para a concorrência no mercado globalizado.
Nancy explicou que existe hoje o fenômeno da fuga da “classe criativa” para cidades mais sustentáveis. O termo designa aqueles profissionais que desenvolvem o capital humano social, composto por formadores de opinião, consultores, cientistas, engenheiros, médicos, advogados, empresários, programadores, artistas, entre outros. “A ‘classe criativa’ escolhe onde quer morar, ela não está simplesmente em busca dos melhores salários, mas sim, de uma melhor qualidade de vida. Ela quer espaços desenvolvidos para pedestres e não para carros”, adverte a geógrafa.
Na mesma linha, a engenheira civil e diretora do Centro de Transporte Sustentável do México (CTS-México), Adriana Lobo, sugeriu a construção de espaços onde as pessoas possam se mover a pé. “A forma com que foram construídas as nossas cidades trouxe consigo a redução das atividades físicas, gerando um aumento dos casos de obesidade”. Além disso, esclarece Adriana, o aquecimento da economia aumentou o poder de compra da população que passou a adquirir mais automóveis e deixou de utilizar o transporte público. “Com a diminuição do número de passageiros o sistema público tende a se tornar cada vez mais caro e ineficiente. É um circulo vicioso onde todos saem perdendo”, pontuou. “Devido ao alto valor da tarifa, muitos são impedidos de transitar. Temos que trabalhar para aumentar a acessibilidade das pessoas com menos recursos”.
A engenheira trouxe o exemplo bem-sucedido da Cidade do México, conhecida como uma das capitais mais poluídas do mundo. Com 21,5 milhões de habitantes, realiza 33 milhões de viagens por dia, possui 55 mil ônibus e 160 mil táxis oficiais em circulação, mais 30% adicional de piratas. Entretanto, desde 2002, a partir da assinatura de um Termo de Cooperação Técnica entre a Prefeitura e a Embarq, foi lançado o Metrobus, um sistema BRT (Bus Rapid Transit) com ônibus de alta capacidade em corredores exclusivos, implementado na via central mais importante da cidade. Um ano mais tarde, o Metrobus já transportava 250 mil passageiros diariamente, com um corte de 50% no volume de poluentes tóxicos e a redução aproximada de 27 mil toneladas de emissão de dióxido de carbono (CO2), vendidas ao Fundo Espanhol de Carbono.
De acordo com a Comissão Ambiental Metropolitana do México, os veículos a diesel contribuem com 3 mil toneladas ao ano de partículas menores de 10 micras (PM10) e com 34 mil das de óxidos de nitrogênio (NOx). Na zona metropolitana do Valle de México (centro de Ciudad de Mexico), eles geram mais de 80% do total das emissões. Apesar de representar apenas 4% do total da frota, 60% das unidades tem mais de 10 anos e, por isso, carecem de tecnologia para o controle das emissões de poluentes para a manutenção.
Adriana apresentou o caso de Curitiba, onde se desenvolveu pela primeira vez um sistema de corredores de ônibus, que ajudou a melhorar o transporte em cidades como Bogotá, na Colômbia; Beijing, na China; Brisbane, na Austrália e León, no México. Contudo, outras cidades brasileiras não seguiram o mesmo exemplo. Na opinião do professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e diretor do Centro de Transporte Sustentável do Brasil (CTS-Brasil), Luis Antonio Lindau, falta ainda ao País vencer as barreiras políticas à integração e à continuidade dos projetos de gestões anteriores. “A descontinuidade política é um dos problemas do Brasil”, analisa.
A capital paranaense também investiu numa urbanização voltada para os pedestres com áreas verdes e amplos passeios públicos. “Curitiba conta com redes de parques e quarteirões espaçosos nas calçadas onde as crianças costumam desenhar a céu aberto. O centro tornou-se um lugar onde todos querem estar”. Já no outro extremo encontra-se a capital gaúcha, onde apenas 30% dos deslocamentos são feitos por transporte coletivo. “Com o crescimento não-ordenado a zona central de Porto Alegre tornou-se um lugar de alta poluição. Muitos moradores fazem questão de evitar essa área. É um lugar onde as pessoas não querem estar”, compara Lindau.
Para o professor, pequenas alterações na política de transportes e circulação resolvem de forma imediata alguns dos principais transtornos urbanos. “Os ônibus híbridos poderiam ser uma solução para diminuir as emissões de CO2 na atmosfera, mas ainda que utilizássemos combustíveis menos poluentes, precisaríamos solucionar o problema dos congestionamentos,” esclarece Lindau e acrescenta: “Aumentar o número de avenidas para minimizar a saturação viária não resolve. É como combater a obesidade alargando os cintos. Em pouco tempo elas estarão repletas novamente”, conclui.
CTS-Brasil é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, que atua em parceria com governos e empresas. Foi fundado em abril de 2005 para atuar no Brasil e América do Sul, e faz parte da rede Embarq/WRI.
A Embarq é o centro de transporte sustentável do WRI (Instituto de Recursos Mundiais), criada em maio de 2002 para promover soluções sócio-econômicas ambientalmente sustentáveis para os problemas de mobilidade urbana. Atua através da formação de parcerias público-privadas e a criação de Centros de Transporte Sustentável (CTS) nos países em que atua.
(Por Adriana Agüero, AmbienteJÁ, 20/02/2008)