Uma espécie rara de mosquito nesta região tomou conta da Ilha da Torotama. Em pleno sol do meio-dia, os moradores andam pelas ruas se abanando ou trancados dentro de casa, visto que o inseto, chamado de psorophora, é diferente das espécies culex encontradas normalmente nesta região.
De acordo com o presidente da Associação de Moradores da Ilha da Torotama, Cláudio Elias, o problema começou na última terça-feira, quando uma gigantesca quantidade do mosquito começou a infernizar a vida dos ilhéus. “Não há horário nem clima específicos. Os mosquitos estão espalhados por todo lado, picando os moradores, inclusive, por cima das roupas”, conta. “As crianças são as mais atingidas e mal conseguem dormir à noite.” Até mesmo os pescadores – grande maioria dos moradores da Torotama – estão tendo dificuldades de enfrentar a fúria do inseto durante esta safra.
Os ilhéus afirmam que o mosquito psorophora possui costumes diferenciados às demais espécies, normalmente encontradas nos centros urbanos. Os mosquitos encontrados na ilha não fogem do veneno e atacam os moradores quando estes passam pelas nuvens existentes em diversos pontos da ilha. “Eles parecem querer nos atacar. Os moradores estão apavorados e não sabem mais o que fazer”, diz o líder comunitário. Para tentar amenizar os ataques, os moradores queimam folhas em pequenas latas e recorrem ainda a inseticidas.
A casa de Gilseia e Nilson Borges está localizada em um dos locais mais críticos. Esposa do pescador, ela cuida sozinha da propriedade quando Borges sai para a captura do camarão e diz estar apavorada. “Os animais precisam ser soltos, pois estão enlouquecendo com a presença dos mosquitos. Gastamos um tubo de inseticida a cada noite e, mesmo assim, não conseguimos dormir, porque mesmo com a casa totalmente fechada eles sempre entram por pequenas frestas”, relata.
Renato Luis Rodrigues de Mattos atua como comprador de pescado na ilha e diz nunca ter visto algo parecido. “Ano passado, o mosquito também apareceu, mas não foi nesta intensidade. Desta vez, o inseto está, inclusive, prejudicando os negócios já que as mulheres – que nesta época do ano atuam na limpeza do camarão – não conseguem trabalhar”, diz. Mattos fala que, das 40 mulheres que descascavam o camarão para ele até o início da última semana, menos da metade ainda permanece no serviço.
O que diz a Prefeitura
Segundo o secretário municipal de Saúde, Carlos Schabbach, de toda a região, esta espécie de mosquito só foi encontrada na Torotama. Ele explica que foi comunicado pelos moradores na última sexta-feira, e no sábado já enviou equipes de agentes de saúde para aplicarem inseticidas nos pontos mais críticos do local.
Schabbach diz que técnicos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) já foram informados do problema e estes estarão chegando a Rio Grande nesta segunda-feira. “O problema existe e é difícil de contornar, pois não há muito o que fazer. Tudo que está ao alcance da secretaria já foi realizado”, declara.
No ano passado, a mesma espécie de mosquito foi encontrada naquela região, ocasião em que o órgão municipal atuou na colocação do veneno, o que contornou a situação temporariamente. “Desta vez, a incidência é bem maior. O que nos preocupa é que o fato está repetindo-se seguidamente, visto que o foco possui 400 hectares e é chamado, curiosamente, de Banhado do Mosquito”, ressalta o secretário de saúde.
O mosquito é do gênero psorophora, comum em zonas de alagadiços, principalmente locais considerados como criadouros temporários, onde por determinado período existe água e depois vem a seca.
(Por Mônica Caldeira, Jornal Agora, 25/02/2008)